Algumas Áreas de Discernimento

4. Pessoal: Primeiro, o líder tem muitas vezes que discernir se o Senhor o está chamando a uma posição de liderança no grupo de oração ou na comunidade ou um ministério específico, ou se está sendo chamado a sair da posição que está ocupando agora. Num grupo de oração, um membro se ofereceu como possível candidato a coordenador, embora na avaliação de todos ele fosse o menos adequado. Muitas vezes, uma pessoa sente que o Senhor a está chamando a deixar o seu trabalho para se dedicar ao ministério em tempo integral, e pode estar sendo levado por motivos errados de poder e escapismo. Outra decisão importante que um líder terá que fazer é na escolha dos membros certos para o núcleo e para os ministérios. O próprio Jesus passou uma noite inteira em oração antes de escolher seus apóstolos (Lc 6, 12 – 13).

Ministérios: Há necessidade que o líder faça revisão constante, em discernimento, dos sinais, dos dons da palavra e dos dons de poder. Quanto aos sinais, enquanto alguns líderes crêem que, por exemplo, ‘repousar no Espírito’ é uma atividade normal do Espírito Santo e é para ser incentivada, outros acham que não deve ser procurado porque o verdadeiro ‘repouso no Espírito’ é muito raro. Talvez a verdade esteja no meio–termo. Este sinal externo não é um fim em si mesmo e pode–se aceitá–lo como autêntico, se houver razão para isto, sem expectativas desnecessárias ou manipulação física ou emocional, ou se há uma mudança significativa na vida da pessoa depois de uma tal experiência.

Quanto aos Dons da Palavra, como profecias e palavras de conhecimento, se o objetivo é mais do que um encorajamento, mas também direção e advertência, precisa –se de um discernimento mais cauteloso com alguma confirmação não muito distante. Tempos atrás, em 1976, em Bombaim, eu estava orando por uma menina que tinha sido oprimida pelo demônio mas, que agora estava bem próxima de Jesus. De repente, ela falou em transe, ‘Rufus, meu filho, quero que você traga todos os meus padres para a Renovação Carismática‘. Eu ainda não tinha dado nenhum retiro para o clero sozinho. De fato, eu estava com muito medo e me sentia totalmente inadequado a pregar para padres e rejeitei aquela ‘mensagem’ ou ‘profecia’ como maluca–até a semana seguinte, quando fui convidado a dar o meu primeiro retiro para sacerdotes sozinho e, depois de cinco anos, eu já tinha dado retiros carismáticos para o clero para a metade das 130 dioceses da Índia.

Quanto aos Dons de Poder, por exemplo o de libertação, julgamentos a priori de ambos os extremos devem ser evitados. É errado dizer que uma pessoa precisa de libertação se realmente necessita principalmente de tratamento psiquiátrico ou de terapia psicológica, assim como é cruel rotular a pessoa de histérica ou esquizofrênica se realmente está sob uma atividade demoníaca. Mas, mesmo que se trate disso, não podemos aceitar a pessoa em questão ou os pedidos de libertação de sua família sem primeiro discernir os sinais observáveis da suposta atividade demoníaca. Isto também não é suficiente, pois os sinais de opressão demoníaca e da doença emocional e mesmo da doença física são tão semelhantes, e a linha divisória entre eles é tão fina, que podemos nos enganar facilmente. É neste ponto que precisamos de discernimento espiritual interior, que muitas vezes é confirmado pela reação do paciente aos objetivos santos. O desaparecimento final dos sinais de influência demoníaca e o crescimento significante na qualidade espiritual da vida daquela pessoa provarão que o discernimento inicial estava correto.

Em maio deste ano 2000, eu estava dando um seminário e um retiro sobre cura interior e libertação num país dos Bálcans. Uma jovem, aparentemente oprimida ou possuída, que havia sido orada quase diariamente com exorcismo por muitos meses, estava alí sendo orada pelos 70 padres participantes do retiro, durante duas horas, sem nenhum efeito aparente ou imediato. Todos nos sentimos incapazes até que, orando por discernimento, o Espírito mostrou–me porque ela ainda não tinha sido libertada, a natureza da maldição lançada sobre ela, o que ela precisava fazer para ser liberta e como nós tínhamos que orar. Agindo conforme o discernimento do Espírito, ela foi completamente liberta em cinco minutos, para grande alegria do Arcebispo, dos sacerdotes e do povo daquela diocese. Como nos lembra a Palavra de Deus: ‘Examinai os espíritos‘ (1 Jo 4, 1) – mas ‘não extingais o Espírito‘ (1 Tss 5, 19).

Pe. Rufus Pereira
Vice-presidente da Associação Internacional de Exorcistas
Membro do ICCRS (Conselho Internacional da Renovação Carismática Católica)