Acontecimentos mostram urgência da missão

A dimensão de “missão” é o aspecto mais dinâmico e mais aberto do cristianismo. Seria equívoco achar que a missão se reduz a um impulso expansionista de propagação de uma crença. A missão faz avançar a compreensão do Evangelho e faz renovar a própria Igreja. A missão é dinâmica. O Evangelho observa, com perspicácia, que Jesus chamava seus discípulos, para enviá-los, enquanto ele mesmo estava “caminhando”. E ao fazer a proposta final do “envio” para o mundo inteiro, Jesus colocou como perspectiva o suceder dos “tempos”, como referência típica de mudanças contínuas, nas quais a missão deverá ser cumprida, “até o fim dos tempos”.

Por isto, a missão postula, continuamente, uma nova compreensão dos seus objetivos e dos seus métodos.

Em primeiro lugar, para os próprios “discípulos”, que são tais na medida que se tornam “enviados”, isto é, “missionários”. Por isto, hoje se faz premente a pergunta, para os cristãos, sobre o significado de sua presença no mundo, e sobre a contribuição que são chamados a dar para os problemas que hoje a humanidade enfrenta. Que palavra temos diante do desafio das injustiças, das desigualdades gritantes e cada vez mais insuportáveis, e diante das reações incontroladas de violência que estas situações produzem. Qual é hoje o sentido da presença da Igreja no mundo, é a primeira pergunta que o Domingo das Missões nos faz.

Em segundo lugar, a missão leva a uma atitude diferente diante das grandes religiões. A história mostra, com evidência, que o caminho não pode ser o confronto, nem o desconhecimento. E’ urgente uma postura de respeito, de reconhecimento dos valores de cada religião, e de diálogo, que leve em primeiro lugar a uma convivência pacífica, e que abra caminho para necessárias complementações e enriquecimentos mútuos. Assim se tornará viável a contribuição preciosa que o Evangelho tem a oferecer, sem implicar desprezo, mas ao contrário, levando a uma afirmação mais completa dos valores já assimilados por parte das diversas religiões.

Os recentes acontecimentos mundiais mostram a urgência de superar disputas religiosas, que podem servir de pretexto para fundamentalismos perigosos, que devem ser evitados a todo custo.

Estes avanços acabam colocando o desafio mais difícil, e mais urgente, que é a superação dos condicionamentos culturais. São eles que mais bitolam a compreensão das posturas religiosas. Há muita coisa que é produto da cultura, e que as pessoas acham que é vontade de Deus. Assim pensavam, por exemplo, os judeus a propósito da circuncisão. No início da Igreja, os cristãos souberam superar este condicionamento cultural.

Hoje, eles precisam dar outros passos, para se livrarem de outros tantos condicionamentos, que ainda mantêm prisioneiro o Evangelho. No início, os missionários Barnabé e Paulo trouxeram para dentro da Igreja os ares novos da mentalidade mais aberta, porque eles observavam o que a graça de Deus ia realizando na sociedade. Hoje também, é a missão que precisa evangelizar a própria Igreja, trazendo para dentro dela uma compreensão positiva dos valores encontrados no mundo de hoje. Para que assim a Igreja se livre de condicionamentos superados, e deixe o Evangelho “correr solto pelo mundo”.