“Feita presente e atualizada “em” e “por meio” da Igreja, a Palavra revelada é um instrumento, mediante o qual Cristo age em nós com Seu Espírito. Ela é, ao mesmo tempo, juízo e graça. Na escuta da Palavra, o confronto atual com Deus interpela o coração dos homens e pede uma decisão, que não se resolve apenas no conhecimento intelectual, mas exige a conversão do coração!” (Carta circular da Congregação do Clero: “O Presbítero, Mestre da Palavra, Ministro dos Sacramentos e guia da comunidade em vista do Terceiro Milênio”, cap.II).
Não é difícil perceber que as palavras deste texto acima citado, iluminam, não apenas a vida dos sacerdotes, mas também de todos os batizados que integram a Santa Igreja. Destaca-se aí, a presença atuante, julgadora e santificadora da Palavra de Deus em nossa vida. Como é importante para nós, homens e mulheres tão poluídos pelo barulho ensurdecedor da modernidade cultural, resgatarmos, com a força da divina graça, o silêncio de coração e de mente, que nos permite escutar a Palavra Viva que nos fala, nos interpela.
As Escrituras Sagradas, para nós, não são um mero texto literário a ser lido, não são apenas um elenco de doutrinas (que, sem dúvida, nos devem orientar), mas são o encontro íntimo, pessoal e comunitário, com a própria Palavra que se encarnou e se faz presente em nosso cotidiano: Cristo Jesus!
É neste encontro, sob o influxo do Espírito Santo e em total comunhão de Fé com a Igreja, que a “fonte de água viva jorra em nossa alma, dessedentando-nos, fertilizando a terra ressequida de nosso coração pecador”. Somos convocados a uma decisão, clara, sem ambigüidades: a conversão do coração!
Em dias de tanta confusão mental, de tanta desorientação, como se faz urgente mergulhar a inteligência e o espírito nestas águas vivas da Palavra de Deus, para nela encontrarmos respostas, luzes, discernimentos, enfim, que nos permitam conduzir nossos caminhos em profunda comunhão com o Senhor.
A escuta e a contemplação da Palavra de Deus abrem nossos ouvidos para ouvir a voz de Deus no meio dos acontecimentos cotidianos, e nossos olhos para contemplar o rosto de Cristo, “Divino Amante”, na expressão de João Paulo II, estampado em tantos rostos que cruzam nosso caminho diariamente. E neste contexto, encontramos uma grande paz interior: aquela paz que ilumina os momentos alegres e sustenta o ânimo nas horas de dor e provação. Ela é o fruto da presença em nós do “Príncipe da Paz” (cf. Is 9,5).
Abramos o coração, abramos nossos lares, nossas escolas, nossos ambientes profissionais, nossos hospitais, tudo enfim, para acolher, escutar e seguir Aquele que é o “Caminho, a Verdade e a Vida”, o “Verbo que se fez carne e habitou entre nós”: Jesus Cristo!
Não tenhamos medo de ser por Ele interpelados e de a Ele entregar toda nossa vida.
Que ajude-nos a intercessão materna da Virgem Maria, Aquela que soube escutar e se abandonou inteiramente nas mãos de Deus!
Dom Frei Alano Maria Pena, OP
Arcebispo Metropolitano de Niterói