A realidade de Cuba

O anúncio oficial de que o ditador Fidel Castro, 79 anos, foi operado às pressas de uma hemorragia intestinal – (ACI – Havana 01ago06), e passado o governo a seu irmão Raul de 75 anos, fez o povo cubano relembrar a famosa profecia de Santo Antônio María Claret, que profetizou, em meados do século XIX, que Cuba se inseriria novamente no ‘Concerto das Nações’ logo após a morte de Fidel Castro, com um breve período de violência interna. O santo espanhol foi Arcebispo de Cuba entre 1851 e 1857. E de acordo com uma forte tradição oral e com escritos conservados pela Congregação que ele fundou, a Virgem da Caridade do Cobre lhe revelou que a Ilha sofreria uma ditadura de mais de 40 anos, e que terminaria com a morte do líder [Fidel Castro] em sua cama.

A profecia falava de um jovem líder muito ousado, barbudo e acompanhado de outros homens também barbudos, e que seria aclamado por todos e que se apoderaria do poder pouco a pouco, submetendo o povo cubano a uma férrea ditadura que duraria 40 anos, durante os quais Cuba sofreria numerosas calamidades e penúrias. E que finalmente esse homem morreria na cama.

O povo tem esta profecia em alta conta, e o mundo espera que, de fato, haja uma volta da democracia a Cuba. Desde que pelas armas o ditador Fidel Castro derrubou o presidente Fulgêncio Batista, aos 8 de janeiro de 1959, e implantou, ali, uma férrea ditadura comunista, e desde então, o povo cubano não soube mais o que é liberdade e democracia. Não há imprensa livre e nem eleições. A partir daí, o País viveu sob regime exclusivo do Partido Comunista de Cuba (PCC), conduzido com mãos de ferro pelo ditador, Fidel Castro, eliminando os adversários.

Diz o insuspeito “Livro Negro do Comunismo”, escrito pelo historiador francês Stéphane Courtois, e uma equipe de seis colaboradores, que:

“Havana e Santa Clara foram palco de execuções em massa. De acordo com a imprensa estrangeira, essa depuração sumária fez 600 vítimas entre os partidários de Batista, em apenas cinco meses. Organizaram-se tribunais de execução, criados unicamente para pronunciar execuções… Em maio de 1958 todos os colégios religiosos foram fechados, os respectivos edifícios foram confiscados, inclusive o colégio jesuíta de Belen, onde Fidel fizera os seus estudos. Envergando o seu uniforme, o Líder Máximo declarou: ‘que os padres falangistas se preparem para fazer as malas’. A advertência não era gratuita, já que em 17 set 1961, 131 padres diocesanos e religiosos foram expulsos de Cuba. Na prisão de La Loma de los Coches, mais de mil ‘contra revolucionários’ foram fuzilados”. (Ed. Bertrand Brasil, 3ª. Ed. RJ, 2001, pg 770)

Foi enorme a perseguição religiosa em Cuba, como aconteceu também em todos os países comunistas, Rússia, China, Vietnam, Cambodja, entre outros. As igrejas foram fechadas; religiosos e religiosas foram presos, exilados ou mortos; e a religião só podia ser praticada sob a tutela do Estado. As crianças e os jovens, nas creches e nos colégios, recebem forte e constante doutrinação marxista, enaltecendo a ”Revolução” e seu “comandante” Fidel.

Segundo o mais respeitado dissidente cubano, Oswaldo Payá, Fidel não foi preso por ser uma celebridade internacional, e afirma: “O fim do comunismo em Cuba depende apenas do fatalismo biológico: a morte do ditador” (VEJA, 18 maio 2003). Em 2003, o dissidente esteve com o Papa no Vaticano, encontrou-se com o Secretário de Estado, Colin Powell, em Washington, e teve seu nome incluído entre os candidatos ao Prêmio Nobel da Paz. É um católico praticante, que fundou e dirige o “Movimento Cristão Libertação”, e uma referência para o futuro de Cuba é sua bem articulada proposta de uma transição pacífica para a democracia. Payá é também o mentor do Projeto Varella, o abaixo-assinado pedindo abertura política. Em Havana, onde trabalha como engenheiro de manutenção de equipamentos hospitalares, ele não dá um passo sem ser seguido pela polícia. Mas não se deixa intimidar. Ainda menino, foi o único aluno de sua escola primária que se recusou a entrar para a Juventude Comunista. Adolescente, liderou uma manifestação contra a invasão soviética da Checoslováquia, em 1968.


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Em entrevista à revista “VEJA”, Payá disse que “sempre houve uma grande desinformação sobre a realidade cubana. Todo o bloco soviético, incluindo o Governo cubano, foi especialista em lançar uma imagem falsa de nosso País. O mundo sempre viu Cuba como a ilha da liberdade, povoada de líderes revolucionários, legendários e românticos. Tivemos de tudo aqui, menos liberdade e igualdade”.

E afirma também que “Existe uma cultura do medo arraigada em Cuba há décadas… O totalitarismo se expressa por meio de mecanismos de controle exercidos sobre a população… Há uma vigilância completa sobre os cidadãos, o que inibe qualquer possibilidade de crescimento pessoal ou de liberdade individual.” (VEJA , 18 maio 2003).


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino