A porta estreita

Todos desejamos conquistar o melhor para nossa própria felicidade. Nossos instintos primam por nos estimular apetites ou atrativos para nosso próprio bem-estar. A sociedade de consumo aproveita dessa nossa realidade sensível para aguçar nossos desejos e comprarmos ou usarmos de tudo para a busca de prazeres e compensações gratificantes a nível sensorial. A correria pela sobrevivência vai também muito na direção do ter mais coisas materiais, prestígio, fama e prazeres. Busca-se isso freqüentemente como finalidade absoluta. Muitos até conseguem o máximo dessas possibilidades. Mesmo assim não estão plenamente satisfeitos. Enquanto o ser humano não se encontrar consigo mesmo, percebendo Deus no âmago de sua existência, não se realiza a contento!

Jesus não renunciou sua condição divina, mas aceitou privar-se de seus efeitos enquanto viveu conosco de forma humana. Deu-nos a grande lição de caminhar pela “porta estreita”. Veio nos ensinar a lição da busca humana de felicidade verdadeira e duradoura. “Onde está o teu tesouro estará também teu coração”, disse. Se nosso maior tesouro estiver na busca de um prazer efêmero, nossa felicidade também será muito fugaz. Ele nos prova que o tesouro absoluto é conquistado por uma vida de canalização dos impulsos instintivos para a busca do sentido absoluto da vida. Nossa vida terrena é passageira. É necessário fazermos opção pelo caminho mais exigente. O que é material – os bens, o dinheiro, os prazeres e o poder -, são bons, mas usados ética e moralmente.

Se forem absolutizados tornam-se falsas divindades. Tudo deve ser usado dentro de seu valor relativo. O Absoluto é Deus. Pautando-nos pelo amor trazido e ensinado pelo Cristo a pessoa é capaz de ser solidária com os que sofrem. Renunciam o luxo. O esbanjamento, o ter desnecessário, o prazer fora de sentido e contrário à lei natural e a divina, o poder usado para injustiçar ao invés de servir o ser humano e toda a sociedade são superados por uma vida de doação e verdadeiro serviço ao semelhante.

A felicidade total, apresentada por Jesus, como o Reino definitivo, só se conquista com uma vida de oblatividade, mesmo com renúncia ao mais cômodo e do conforto desnecessário. Ele não vem trazer regras de massacre ao eu individual. Vem, sim, apresentar-nos a escolha pelo único caminho condutor ao objetivo maior. É a “porta estreita” da renúncia por amor e busca de um valor maior. Nossa vida deveria ser uma caminhada contínua na busca de sentido. Este só se dá no amor a Deus e, por sua causa, na doação de si pelo bem dos outros, mesmo tendo-se que renunciar muito dos atrativos da vida. Aqui não se conquista nada de valor sem renúncias. O Reino definitivo muito menos!

Os bens, os poderes e o bem-estar são importantes, mas mal aplicados! A “porta estreita” apresentada por Jesus é justamente fazer com que todos tenham acesso à vida de sentido, com o necessário para viverem dignamente, mas com o uso de tudo dentro de sua relatividade e com o sentido dado pelo Criador!