A Paz entra pelos Ouvidos!

Shemá-mundo: como oração de Vida, Dignidade e Esperança!

Eu fiquei pasmo quando em meio à tomada das tropas anglo-americanas do centro de Bagdá li no jornal da Folha: “Um velho solitário continuou caminhando apoiado em sua bengala mesmo depois de ouvir três tiros de advertência. Caiu, morto após uma salva de tiros”. Chocou-me mais esta barbárie, pois simplesmente era um idoso de bengala que não tinha obedecido aos tiros de advertência.

Enquanto a Igreja do Brasil nos convida a darmos uma salva de palmas para os idosos que merecem vida e reconhecimento de sua dignidade, lá no Iraque os “homens-metralhadora” não querem saber se o ser humano de bengala sabia que o sinal para parar eram dois, três ou quatro tiros. Será que ele não teria algum problema de audição? Será que ele tinha reais condições de contar alguns tiros no meio de uma guerra de milhares de sons estridentes? Será? Será? Agora não adianta, pois, aqueles que temiam um ‘velhinho-bomba’, já metralharam-no sem querer ouvir suas razões ou condições naturais que ainda o possibilitavam de caminhar.

Por isso afirmo que não somente a Fé, mas também a Paz entra pelos ouvidos!

Na verdade este problema de “surdez” que fere o irmão está nos nossos inícios, quando o sagrado Livro inspirado, relata Adão e Eva que não deram ouvidos a Deus, assim a desobediência trouxe as doenças, sofrimentos, injustiças, guerras e mortes ao mundo (cf. Gn 3). Prosseguindo a leitura do Livro das Origens, percebemos que o velhinho Noé também não foi escutado e mesmo depois do dilúvio, na nova humanidade homens quiseram construir uma torre de Babel sem o parecer Divino, apenas com os desejos da glória humana: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra”. (Gn 11,4). Cidade e torre que não escutam a Deus, logo, lugar de Confusão, como dita a raiz da palavra Babel, que vem de balal, que significa confundir, perturbar, misturar.

Eureka! Não deram ouvidos à O.N.U, com a desculpa, ou “provas,” de que o Iraque não dera ouvidos anteriormente à mesma, no que se refere às armas químicas e biológicas de destruição em massa, ou melhor, a ‘massa americana’. Assim, não deram ouvidos para o Papa, nem ao Povo e muito menos para a verdadeira Paz.

Acabaram assim confundindo o velho Saddam com o velho Iraque, onde teria nascido a velha humanidade acometida pela velha surdez. Perturbaram a população e a economia mundial, pois 100 bilhões de dólares queimados poluem o mundo, e por fim misturaram patriotismo, heroísmo com o Imperialismo com tantos outros extremismos que fizeram cair a velha humanidade, infelizmente representada pelo idoso iraquiano assassinado pelo medo anglo-americano.

Talvez seja por absurdos assim, que Deus preventivamente inspirou a oração judaica do Shemá, a qual deve ser recitada pelos adeptos do Judaísmo, todos os dias, pela manhã e à noite. E Shemá Israel, consiste numa oração bíblica, a qual se traduz como “Escuta Israel”, e se dirige não aos ouvidos, mas ao coração!

Sim! Esta Paz que parte do coração do “velhinho” Pai do Céu, como Dom, e entra pelos ouvidos de uma humanidade envelhecida pelo pecado da desobediência, ou da surdez existencial, a qual tem como endereço o coração dos filhos amados, que tanto desejam, procuram, suplicam, mas nem sempre estão dispostos a ouvir um velhinho que caminha seguro por sua inofensiva bengala.

Portanto, Shemá Israel, precisa tornar-se Shemá Mundo (antes que o velho mundo acabe como aquele idoso homem…) a fim de que o lema da Fraternidade se perpetue – para que todos tenham VIDA, DIGNIDADE E ESPERANÇA!.