No seminário havia um professor de ascese que gostava de repetir a frase latina: Per aspera ad astra (por caminhos ásperos se vai aos astros). Já outro preferia invocar o caminho da cruz: Per crucem ad lucem (pela cruz à luz). Uma espiritualidade da cruz vai além: contempla o Filho de Deus derramando seu sangue no Calvário, por amor à humanidade. Pergunta sobre o sentido profundo deste mistério e a repercussão na vida de quem se coloca com Maria e João debaixo da cruz.
A partir de 1959, por obra do Papa João XXIII, temos a Diocese de Santa Cruz do Sul, que sonha com o Santuário da Santa Cruz, e prepara a Romaria da Santa Cruz. Neste contexto uma espiritualidade supera a dimensão puramente pessoal para assumir características de povo. É o povo diocesano que, como parte de sua identidade, assume a mística da cruz no viver, sentir e testemunhar sua fé no cotidiano da vida.
Quais seriam alguns traços dessa espiritualidade? O Apóstolo Paulo, na sua 1º Carta aos Coríntios (1 Cor 1, 10-2, 13) fala da cruz como força, esperança; como movimento vital, portador de vida nova e de inaudita felicidade. Paulo vê na cruz a sabedoria de Deus, que eleva os fracos e os humildes e, pela força do Espírito, os faz ser em Cristo, como povo da nova aliança.
Na cruz Deus se revela como o amor que se deixa ferir, humilhar, aniquilar. A sabedoria da cruz não é como a astúcia dos perversos, que abre caminho por entre cadáveres para alcançar seu próprio triunfo. Na cruz Deus não ostenta seu poder, sua posição na hierarquia, nem saber, mas a fraqueza do amor. Na cruz Deus aparece como alguém para os outros, para a vida do mundo.
Um povo a caminho, na força da cruz, está convidado a ser firme em Cristo, reconciliado pelo poder do Espírito. A ser uns pelos outros e todos para a vida do mundo. A espiritualidade da cruz, como um de seus traços, fala a linguagem do amor que reconcilia, que restabelece os vínculos da paz, na cultura da solidariedade e da compaixão pelo mundo. Kaufering (Alemanha), 20/02/2002.