A Catequese em um Mundo Conturbado

Por ocasião do 20º aniversário de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II foi convocada, a 25 de janeiro de 1985, uma Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, para promover o conhecimento dos ensinamentos conciliares e a adesão aos mesmos. Nessa oportunidade, numerosos bispos pediram que fosse elaborado um catecismo de toda a doutrina católica. A Constituição Apostólica “Fidei depositum”, com data de 11 de outubro de 1992, no 30º aniversário do Concílio, aprovou a publicação do “Catecismo da Igreja Católica”. Embora esta obra se destine “principalmente aos responsáveis pela catequese: em primeiro lugar aos Bispos (…) aos redatores de catecismos, aos presbíteros e aos catequistas (…) será também útil para a leitura de todos os demais fiéis cristãos”(do Prólogo).

A ignorância religiosa é causadora de parte ponderável das acusações contra a Igreja e um óbice a uma existência cristã mais autêntica. Só há um remédio: meditar e viver os ensinamentos confiados por Jesus à sua Igreja e continuar essa tarefa no decurso de todo nosso peregrinar no tempo. Ao querigma se segue o constante aprofundamento da fé nos crentes. Assim ocorreu no alvorecer da obra de Jesus. Nos Atos dos Apóstolos, os primeiros cristãos “eram assíduos em escutar o ensinamento dos Apóstolos” (At 2,42). E estes “estavam no Templo ensinando o povo” (idem 5, 25.28). E para se dedicarem melhor a esse ministério, criaram os primeiros diáconos a quem confiaram parte dos trabalhos (Atos 6,4). São Paulo permaneceu em Corinto ano e meio “ensinando entre eles a Palavra de Deus” (ibidem 18,11). Essa atividade se prolonga até os nossos dias. Infelizmente muitos que freqüentam o catecismo na paróquia ou no colégio abandonam esse aprendizado, necessário para o bem-estar espiritual, nesta e na outra existência. Devemos acrescentar que ele é básico para uma convivência pacífica e frutuosa na sociedade civil. Ninguém de bom senso poderá duvidar de que as lições aprendidas no Catecismo são fundamentais para a paz entre os homens, o combate às chagas que nos afligem, entre elas a violência, a droga, o enfraquecimento ou a destruição da família, a injustiça social.

A catequese “consiste na educação ordenada e progressiva da fé”. O Sínodo sobre catequese afirma que ela ”deve levar a um processo de conversão e crescimento permanente e progressivo” conforme Puebla (nº 998). Na Exortação Apostólica “Evangellii Nuntiandi” o Papa Paulo VI lembra sua importância para cada pessoa e seu relacionamento humano: “O conteúdo vivo da verdade que Deus quis transmitir e que a Igreja procurou exprimir, de maneira cada vez mais rica, no decurso de sua história, deve ser ministrado para educar hábitos de vida religiosa e não permanecer no plano intelectual” (nº 44).

O Papa João Paulo II publicou a 16 de outubro de 1979 o documento “Catechesi Tradendae” atendendo à petição dos bispos no final da IV Assembléia Geral do Sínodo. Esta obra, uma Exortação Apostólica, é um marco na vida da Igreja. O Capítulo VIII se intitula : “A alegria da Fé num mundo difícil”. Aborda um aspecto fundamental, a importância do catolicismo num mundo conturbado. Insisto que vivemos em um ambiente onde predominam a violência, as drogas, a falência de muitos matrimônios, repercutindo no bem-estar da sociedade, do subjetivismo que leva a uma multiplicação de religiões e seitas para atender o gosto ou a interesses particulares, e também numa ânsia do prazer, riqueza, poder. Nessas condições difíceis, diz João Paulo II: “nós precisamos de uma catequese que ensine aos jovens e aos adultos das nossas comunidades a permanecerem lúcidos e coerentes na sua fé e a afirmarem serenamente a própria identidade cristã e católica, a “verem o invisível” (cf. Hebreus 11,27) e a aderirem de tal modo ao absoluto de Deus, que possam dele dar testemunho no seio de uma civilização materialista que o nega (Catechesi Tradendae, nº 57).

A coerência com a fé professada gera a paz e a tranqüilidade, dá uma real sensação de segurança. O estudo catequético, diante de um mundo que se transforma tão rapidamente, é fundamental no decorrer da existência para responder às interrogações que surgem, aos ataques que se multiplicam.

A rapidez nas comunicações no mundo hodierno possibilita aos que querem seguir Cristo Jesus, atualizar-se continuamente nos seus ensinamentos para fazer frente às dúvidas e erros no plano doutrinário. Constituiu-se um dever mais premente dos pais e catequistas introduzir os filhos e catequizados na doutrina. A catequese é imperiosa também para os adultos. A Arquidiocese do Rio de Janeiro oferece uma variada oportunidade para um aperfeiçoamento. Há cursos de formação catequética tais como “Luz e Vida”, “Mater Ecclesiae”, “Lumen Christi” e outros que procuram atender aos diversos graus de instrução. São 34 núcleos localizados em vários bairros. O curso de religião por correspondência tem matrícula numerosa: 253.000 nos Estados do Brasil e 700 nos países da América e África.

Diariamente a emissora da Arquidiocese propicia aula de catecismo seguindo o texto do “Catecismo da Igreja Católica”. São administradas a cada dia às 06:30h, com reapresentação à meia-noite e oito minutos sendo que aos domingos há uma repetição de toda a semana. O curso integral foi dado em 1.240 aulas radiofônicas, cujo texto fica disponível na Internet. Atualmente, está em curso a repetição das mesmas aulas. A pesquisa de audiência apresentou os seguintes dados: de janeiro a maio deste ano oscila de um total de 15.190 alunos a 18.240 ouvintes que recebem aulas de catecismo. E nessas indicações não estão incluídas a catequese ou aluas de religião em todas as paróquias, nos colégios católicos, muitas escolas públicas e em outros programas radiofônicos.

Nós não nos preocupamos só com a fome, a falta do alimento material. Sofremos com os milhões de famintos aqui e por todo o mundo. No entanto, passam em doloroso silêncio os que morrem pela escassez do pão da doutrina salvífica de Jesus Cristo.
Que Deus nos ilumine a lutar pelo pão material e que não falte o adequado conhecimento dos caminhos de Deus.

O primeiro encontro de João Paulo II com os jovens em Toronto, Canadá, advindos de 173 países para participar da XVII Jornada Mundial da Juventude, constituiu-se em um espetáculo de rara beleza. Quem sintonizou a televisão quinta-feira à tarde, transmissão para todo o mundo, foi regiamente recompensado, seja católico ou não católico. Louvemos o Senhor Jesus.

Cardeal Eugênio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro