⛪ PAPA FRANCISCO

Agradecido, Papa Francisco

Papa Francisco: legado de simplicidade

Gratidão é o sentimento nobre que reluz dentro do luto vivido pela Igreja Católica com a morte do Papa Francisco. Uma luz alimentada pelas alegrias pascais advindas da ressurreição de Jesus, o único vencedor da morte. Gratidão que fecunda as raízes da “árvore Igreja”, para torná-la, na sua floração e nos seus frutos, servidora e hospitaleira, misericordiosa e dialogal, “em saída”. Papa Francisco, em 12 anos de pontificado, pela singularidade de sua missão, vivida com a marca da simplicidade, enraizou ainda mais a Igreja de Cristo nos sabores do Evangelho.

Créditos: cancaonova.com

Sua simplicidade no jeito de se vestir, na escolha do lugar onde morar, no estilo de vida e, sobretudo, no modo direto de relacionar-se, ampliou a Igreja como uma grande praça de acolhimento, com lugar para todos. Uma postura simples e acolhedora tendo o amor preferencial pelos pobres, marginalizados e migrantes como cláusula intocável, tornando ainda mais evidentes as normas que orientam a vida dos verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus.

Desde o início de sua missão, como sucessor do apóstolo Pedro, bispo de Roma, de modo coerente com as outras etapas de sua vida, Papa Francisco buscou contribuir para realizar o sonho de uma Igreja cada vez mais simples e voltada para os pobres. Tornou-se referência mundial, consagrado como o Papa dos pobres – o Francisco do terceiro milênio. No início de seu pontificado, ao apresentar-se como Francisco, foi além da adoção de um novo nome. Assumiu um programa de vida, compreendendo-a como oblação, especialmente aos pobres.

Papa dos pobres e da paz

Suas ações contribuíram para fortalecer sempre mais o entendimento de que a dedicação aos pobres é comprovação de fidelidade ao Evangelho, possibilitando ao ser humano inserir-se na missão de Cristo. A vivência da fé cristã exige a coragem profética de estar com os pobres, ao lado deles. E a coragem profética do Papa Francisco continuará a interpelar, podendo incomodar alguns, mas sem a possibilidade de retrocessos. Foi o próprio Jesus que ensinou: tudo o que se fizer aos pobres, a Ele se está fazendo.

Francisco, sempre olhando a vida a partir dos pobres, tornou-se reconhecido arauto da paz mundial,  lamentavelmente não ouvido por poderosos que permanecem arraigados nos seus propósitos de dominação. Pessoas que apostam em forças bélicas, promovem a destruição de vidas, alimentam guerras. Tantas vezes o Papa Francisco alertou que o mundo vive uma “terceira guerra mundial – uma guerra em pedaços”. Seu pontificado intensificou singularmente o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo, tão plural, inspirando o desafio missionário, exigente, de marcar a sociedade com o sabor do Evangelho.

Não foram poucas as incompreensões enfrentadas pelo Papa Francisco, expressas nos ataques dos que preferem a Igreja confinada nas sacristias. O Pontífice exerceu com fidelidade a sua missão. Um caminho que confirmou o compromisso evangélico da Igreja com a casa comum, atitude daqueles que verdadeiramente respeitam Deus – o Criador de todas as coisas. Inaugurou, assim, um ciclo novo de profecias e indicações concretas no horizonte da ecologia integral por meio de ensinamentos e argumentações clarividentes e interpelativas.

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Simplicidade e autoridade no Evangelho

Na sua maestria, o Papa Francisco foi voz forte da Igreja em muitas mesas de debate e de diálogos, sem perder a sua simplicidade e proximidade. Seu jeito de ser sempre foi o diferencial de sua autoridade, com força incidente em diferentes campos – político, cultural, econômico, tecnológico e tantos outros. Francisco emoldurou tudo na essencialidade do Evangelho, sem ostentar poderio, buscando acolher e incluir todas as pessoas. Uma conduta que se contrasta com os formalismos tão presentes no exercício do poder.

Por isso, a voz do Papa sempre interpelou desde os poderosos até os mais pobres, conduzindo a Igreja a um tempo novo, ainda não claro para muitos, mas com sendas traçadas nos parâmetros de um novo humanismo, ancorado no tesouro inesgotável dos ensinamentos e da doutrina social da Igreja.

São largos e interpelantes os horizontes desenhados no pontificado de Francisco, guiando a Igreja nos indispensáveis caminhos da sinodalidade, pelas dinâmicas da comunhão e da participação. As heranças de seu pontificado contemplam investimentos em temas muito relevantes, a exemplo do papel participativo e decisório da mulher na Igreja. O vasto e rico ensinamento nascido do magistério oficial de Francisco ajudam a Igreja na busca por respostas novas – capazes de auxiliar a humanidade na construção de um novo tempo.

Caminho da simplicidade e da esperança

Ao mesmo tempo, sua espontaneidade na convivência com os mais simples, com expressões que se popularizaram, fortaleceram a sua semeadura exitosa no coração de tantos. Suas catequeses balizaram a espiritualidade na configuração moral da conduta cristã, onde não cabem discriminações, preconceitos e exclusões, de nenhum tipo.

Na contramão de posturas hieráticas e faustosas, o Papa Francisco implantou posturas que revelam mais proficuamente o amor de Deus – Deus é simples, como professam os místicos. A simplicidade e a naturalidade de Francisco desconcertaram muita gente pretensiosa e “cheia de si” – pessoas que direcionaram protestos e falas desrespeitosas ao Pontífice. Mas o caminho firmado pelo Papa é sem volta: trata-se de modo eficaz para que a Igreja cumpra com fidelidade a sua missão evangelizadora no mundo, a caminho do reino de Deus.

A diminuição da força física levou a termo o ciclo da vida terrena do Pontífice, como é da ordem natural da condição humana. Ecoam, no entanto, de maneira forte, rompendo o silêncio pétreo da morte, os ensinamentos e os gestos de Francisco, qualificado e exemplar peregrino de esperança, sinal de fecundidade da Igreja, desafiada a continuar a sua peregrinação. Ao avançar em seu caminho, a Igreja se fortalece a partir da lembrança, da fidelidade e do respeito àquele que foi sucessor do Apóstolo Pedro. Por tudo e por tanto, agradecido, Papa Francisco!

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte