Importantes acontecimentos, emoldurados pela referência histórica da Proclamação da República, serão vividos no domingo, 15 de novembro: as eleições municipais nas cidades brasileiras e o Dia Mundial dos Pobres. A Proclamação da República explicita o sentido maior da democracia e as eleições municipais desafiam cada cidadão para as escolhas qualificadas. Justamente nesta data, os cristãos católicos vivenciam o IV Dia Mundial dos Pobres, convocação inspirada pelo Papa Francisco, com um interpelante tema para este ano: “Estende a mão ao pobre” (Sir 7,32). A coincidência da data que envolve todos esses importantes acontecimentos estimula reflexões sobre a estreita relação entre eles. Reflexões que, a partir da cidadania, da democracia, no horizonte da Doutrina Social da Igreja, podem inspirar atitudes capazes de renovar o atual modelo econômico, sob os parâmetros do desenvolvimento integral.
Afinal, é de todos o desafio de superar rumos perversos e excludentes do atual contexto econômico, repleto de contradições, distante de parâmetros humanísticos. O ser humano não pode ser considerado apenas um consumidor ou simples peça de um sistema produtivo. Se essa perspectiva perdurar, a humanidade continuará a conviver com situações absurdas, a exemplo do que ocorre neste tempo de pandemia, quando poucos que já acumulam grande fortuna se enriquecem ainda mais, enquanto cresce a pobreza entre a grande maioria dos que nada possuem. A elaboração de estratégias, de modo racional e humanitário, para efetivar nova lógica na economia é urgente.
O discernimento nas eleições precisa dar vez aos mais Pobres
Há valores sociais dos quais não se pode abrir mão sob pena de serem agravados os vergonhosos cenários de pobreza e de exclusão social que ferem a humanidade. Por isso mesmo, no horizonte das eleições municipais, não se pode investir naqueles que se valem de plataformas eleitoreiras, retomando discursos repetitivos – e por isso mesmo estéreis – enlatando promessas, muitas inexequíveis, sem colocar as necessidades dos pobres em primeiro lugar.
O desenvolvimento esperado só pode ser alcançado quando a realidade dos mais pobres torna-se o ponto de partida. Assim é possível mudar cenários marcados pela assustadora desigualdade social. Não se pode cair na mazela de escolhas que aparentam trazer, com grande facilidade, a solução para graves problemas, a exemplo de propostas fundamentadas em um modelo de desenvolvimento agressivo e desrespeitoso com o meio ambiente, gerando riqueza ilusória para poucos bolsos e grandes passivos para toda a coletividade. O discernimento cidadão nas eleições precisa ser capaz de identificar e selecionar quem efetivamente se dispõe a estender a própria mão ao pobre.
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Homens e mulheres capazes de se comover pela pobreza
“Estende a mão ao pobre”- o convite-convocação deste IV Dia Mundial dos Pobres, no domingo das eleições municipais, se torne a motivação para o comparecimento às urnas. Que esse convite-convocação possa oferecer os parâmetros para a escolha de prefeitos e vereadores nos municípios. E o compromisso cidadão de votar adequadamente seja acompanhado por um gesto concreto de generosidade dedicado aos mais pobres. É hora de compor uma ladainha de obras do bem, estendendo a mão ao pobre, por proximidade e solidariedade, conforme pede o Papa Francisco.
A mão que se estende ao votar escolha quem pode ser mão estendida ao pobre – candidatos comprometidos a efetivar novas lógicas que levem ao desenvolvimento integral e sustentável. Homens e mulheres capazes de se comover pela pobreza, dispostos a servir toda a sociedade a partir de uma sensibilidade abrangente e inclusiva, promovendo a vida em todas as suas etapas, da concepção ao declínio com a morte natural.