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O que não nos contaram sobre a independência do Brasil?

O catolicismo, o Brasil e Portugal

O catolicismo e os reis portugueses – A história do Brasil, geralmente, é dividida em três etapas principais: o período da Colônia, o período do Império e a República. A maior parte de nossa história e nosso processo de formação ocorreu a partir da gradual ocupação lusitana do litoral brasileiro – e se desenvolveu com o avanço dos padres jesuítas e dos bandeirantes em direção ao interior.

O Brasil nasceu como extensão e prolongamento da civilização católica-lusitana. Existia em Portugal um fortíssimo senso cristão: o povo do antigo Condado Portucalense havia passado pela Guerra de Reconquista, uma longa luta contra os invasores islâmicos. Em 1415, ainda no espírito da Reconquista, Dom João I (Mestre de Avis) conquistou Ceuta no Marrocos, e aí tem início a expansão portuguesa e a formação de seu Império.

Além disso, todo rei de Portugal era líder da Ordem de Cristo: uma ordem militar, que tinha sua origem nos antigos cavaleiros templários. O símbolo da Ordem era a Cruz de Malta (que estava presente nas caravelas portuguesas).

A fé como motor da expansão portuguesa

Quando o Brasil foi descoberto pelos portugueses liderados por Pedro Álvares Cabral em 1500, tal descoberta estava intimamente vinculada à fé e religião dos lusitanos: “a Religião e o descobrimento das terras brasileiras se confundem num só fato histórico”, conforme nos ensina o padre Júlio Maria de Morais. E ainda nos diz que a primeira missa foi o ato inicial de nossa nacionalidade. A descoberta se deu em 22 de abril e, em 26 do mesmo mês, frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa.

Durante o século XV e XVI, os navios do Império português sulcaram as águas do oceano Atlântico e do Índico, incorporaram ilhas e territórios africanos ao seu Império. Entretanto, em 1580, Portugal acabou caindo sob domínio da Espanha: com desaparecimento do rei lusitano D. Sebastião em Alcácer-Quibir, Filipe II de Espanha se tornou rei de Portugal. O domínio filipino (ou União Ibérica) se estendeu de 1580 até 1640, quando os portugueses se libertam aclamando como rei Dom João IV.

Crédito: Leonidas Santana / GettyImages

Dom João IV era o duque de Bragança, uma influente família que possuía grande poder e influência em Vila Viçosa (Alentejo). Aproveitando-se de uma crise na Espanha, em 15 de dezembro de 1640, Dom João IV foi aclamado como rei de Portugal, fundando a dinastia de Bragança. Uma das primeiras ações do novo rei foi “dedicar a coroa de Portugal a Nossa Senhora da Conceição e torná-la padroeira do país”, conforme nos diz Rezzutii.

O Brasil ganhou grande importância durante o reinado da dinastia de Bragança: já na época de Dom João IV, durante a Época de Ouro de Dom João V e com a vinda da Família Real e da Corte Portuguesa, durante a regência de Dom João VI.

Dom João VI e o Brasil

A vinda da família real – No final do século XVIII, uma grande confusão se apoderou da Europa: na França, em 1789, a Revolução Francesa estimulada pelos maçons e iluministas estava gerando caos e confusão. O rei Luís XVI foi assassinado, assim como, depois, sua esposa Maria Antonieta. Uma parte do clero faz havia apostatado e jurado fidelidade à nova ordem revolucionária (clérigos juramentados).

No final da Revolução Francesa, subiu ao poder o general corso Napoleão Bonaparte. Napoleão tinha intenção de criar um grande império na Europa. Assim, passou a invadir as nações e monarquias europeias. Contudo, ele possuía uma grande rival que desejava fervorosamente destruir: a Inglaterra (Império Britânico).

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E qual a relação disso tudo com Portugal? Portugal era o grande aliado dos britânicos. Dom João VI (príncipe-regente) desejava manter a autonomia de Portugal e não era conveniente para o país cortar relações a Inglaterra. Irritado e cansado da política dos lusitanos, Napoleão decidiu invadir Portugal. Contudo, Dom João VI, prevendo o movimento de Napoleão, decidiu partir de seu reino com a Corte Portuguesa. Foi assim que, no final de 1807, a Família Real e a Corte, com apoio dos ingleses, partiram em direção ao Brasil.

O príncipe-regente chegou a Salvador (Bahia) em 22 de janeiro de 1808. Poucos dias depois, em 28, o príncipe assinou uma lei determinado a abertura dos portos do Brasil (para as “nações amigas”). Esta mudança foi decisiva na mudança de relação entre Brasil e Portugal. Em março de 1808, a Família Real e o príncipe-regente Dom João chegaram ao Rio de Janeiro (capital das terras do Brasil).

O governo de Dom João VI

No Brasil, Dom João VI começou uma série de mudanças: a) criou a Imprensa Régia; b) criou o Banco do Brasil e a Casa da Moeda; c) mandou trazer da Europa medidas para imunizar a população de doenças e hospitais foram fundados; d) a capital do Rio de Janeiro foi gradualmente ampliada e embelezada; e) criou o Conselho de Estado, a Intendência Geral de Polícia, o Conselho Superior Militar, etc.; f) criou a Junta Geral de Comércio; g) também foram criadas a Academia de Marinha, a Academia Militar Real e a Guarda Real de Polícia.

Durante o governo de Dom João VI no Rio de Janeiro, o Brasil foi elevado ao nível de Reino Unido: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Após a morte de sua mãe, Dona Maria, Dom João foi aclamado e coroado como rei no Rio de Janeiro. Como fizera seu ancestral (Dom João IV), Dom João VI ligou-se à Nossa Senhora da Conceição e criou a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa: “o novo monarca honrava a padroeira de Portugal, estabelecida pelo primeiro rei de Bragança” (…) Dom João VI, ao criar a Ordem de Nossa Senhora, ligava seu governo e sua aclamação ao passado católico de Portugal e a sua família ao gesto do primeiro rei de Bragança.

O processo de Independência

Havia uma questão: um vírus se espalhava no Império português. A maçonaria alastrava-se pelo Brasil desde o final do século XVIII. Aparentemente, a primeira loja maçônica do país foi estabelecida em Pernambuco: o Areópago de Itambé. Dom João VI, por volta de 1817 e 1818, tomou consciência do problema, mas muito tarde: em 1818, publicou um alvará condenando as “sociedades secretas” (leia-se: Maçonaria). Entretanto, as lojas maçônicas no Brasil e em Portugal agiam como centros de difusão das ideias iluministas da Revolução Francesa. A filosofia iluminista e suas ideias de liberalismo, constitucionalismo, republicanismo tomaram força.

Entre 1820 e 1821, ocorreu em Portugal uma rebelião: a Revolução do Porto. Uma sociedade secreta (o Sinédrio) organizou grupos deputados, políticos, comerciantes etc. que passaram a exigir o retorno de Dom João VI para Portugal.

Jean Klisman Mateuzi – Católico, casado, pai de dois filhos. Atuante como professor de História no Ensino Fundamental II e Ensino Médio; Formado em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André, também estudei (e ainda estudo) no Seminário de Filosofia do Olavo de Carvalho.


Referências bibliográficas
Rezzutti, Paulo. Independência: a História não contada.
Góis, Marcus. Dom João VI – o Trópico Coroado;
Fausto, Boris. História do Brasil.
Andrade, Marcelo. 1822 : a Separação do Brasil.
Carneiro, Padre Júlio Maria. O Catolicismo no Brasil.