A expressão cristofobia foi introduzida para significar a intolerância, a discriminação e a perseguição contra os cristãos
Como se já não fossem suficientes as inúmeras fobias surgidas através dos séculos, das quais a mais famosa, pelo menos ultimamente, parece ser a homofobia, eis que agora avança pelo mundo mais uma: a cristofobia. Trata-se de uma enfermidade muito mais comum do que se possa pensar. É a aversão ou ojeriza a tudo o que é cristão. Em poucas palavras, todos têm direito à palavra e à cidadania, menos os que aderem ao cristianismo.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Ao participar de um congresso de líderes católicos em Rimini, na Itália, Dom Dominique Mamberti, Secretário do Vaticano para as Relações com os Estados, referiu-se à perseguição sofrida pelos cristãos: «A discriminação e a intolerância com os cristãos devem ser enfrentadas com a mesma determinação com que se combatem o antissemitismo e a islamofobia».
A intervenção do prelado não era dirigida apenas às frequentes ondas de violência anticristã que se sucedem na Índia e em alguns países comunistas e muçulmanos, mas principalmente ao clima de hostilidade que se verifica em inúmeros ambientes sociais e culturais, nos quais a religião é ridicularizada ou relegada à sacristia, como algo indigno de seres humanos que se prezam.
A expressão cristofobia foi introduzida pela primeira vez em 2003, durante a 58ª Assembleia Geral da ONU, para significar a intolerância, a discriminação e a perseguição difundidas em toda a parte contra os cristãos; até mesmo por professores e educadores que apresentam uma história do cristianismo cheia de preconceitos. Ao mesmo tempo em que lembram e lamentam as vítimas da Inquisição, das Cruzadas, do Nazismo, do Comunismo e de outros genocídios perpetrados no passado, aceita-se e promove-se, em pleno século XXI, um anticristianismo excludente em nome da liberdade de opinião e de imprensa.
A Índia é um dos exemplos mais recentes desse anticristianismo. No Estado de Orissa, um dos mais pobres do país, os cristãos estão sendo exterminados às centenas por causa de sua fé. Um dos novos santos que esse genocídio oferece ao mundo é Rajani Majhi, uma jovem de 20 anos, queimada viva por fanáticos hindus, que não aceitavam sua atividade a serviço de crianças párias, a casta dos intocáveis, num orfanato católico.
Para quem endeusa o racionalismo, não lhe sobra nenhum outro caminho para percorrer senão o secularismo e o laicismo, dois corifeus da liberdade de pensamento e de opinião, contanto que seja para si próprio, e não para quem pensa diferente, sobretudo se for cristão! A prova mais cabal foi o que aconteceu com o Papa Bento XVI, impedido por um grupo de professores e alunos ateus de pronunciar sua conferência numa universidade romana, no dia 17 de janeiro de 2008.
Mas já que há males que vêm para o bem, o fato levou pensadores a rever os conceitos de secularismo e laicismo, como demonstram alguns de seus expoentes mais representativos. Um deles, Fabio Mussi, Ministro do Governo Italiano, assim se expressou: «Não sou crente nem pertenço à Igreja Católica, mas não compreendo por que o Papa Bento XVI não pôde pronunciar pessoalmente o discurso que enviou por escrito à Universidade. É um texto que merece ser ouvido e discutido. A Universidade é laica, isto é, livre, tolerante e aberta. Se existe um espaço no qual a regra é à palavra, a palavra de todos, esse espaço é a Universidade».
Jorge Israel, professor na mesma universidade que recusou a visita pontifícia, lembra que os autores do repúdio ao Papa «nunca disseram uma palavra contra o fundamentalismo islâmico ou contra quem nega o holocausto judaico. O que aconteceu foi apenas uma manifestação de uma cultura secularista, a qual, por não ter argumentos, cria demônios e monstros. A ameaça ao Sumo Pontífice foi uma tragédia do ponto de vista cultural e cívico».
A eles se junta a voz de Nicolas Sarkozy, uma autoridade no assunto. Ao receber em Paris o Papa Bento XVI, no dia 12 de setembro de 2008, falou de uma laicidade positiva, como sendo o caminho por excelência para uma convivência adulta e pacífica entre os povos: «As religiões, sobretudo a cristã, com a qual compartilhamos uma longa história, são patrimônios da reflexão e do pensamento, não só sobre Deus, mas também sobre o homem, a sociedade e a natureza. Seria uma loucura privar-nos das religiões, uma falta contra a cultura e o pensamento. É por isso que falo de uma laicidade positiva. Ela oferece às nossas consciências a possibilidade de chegar a um intercâmbio, muito além das crenças e ritos, sobre o sentido que queremos dar às nossas existências. A laicidade positiva, a laicidade aberta, é um convite ao diálogo, à tolerância e ao respeito. É uma oportunidade, um estímulo, uma dimensão suplementar ao debate público. É um alento para as religiões e para todas as correntes de pensamento».