Entenda

Acolhimento e suporte emocional: como ajudar pessoas em situação de emergência?

O que estamos presenciando desde o começo do mês de maio no Rio Grande do Sul traz impactos em todos os campos da vida das pessoas atingidas direta ou indiretamente por tamanho sofrimento e situação desestruturante. Cidades devastadas, vidas perdidas, pessoas desaparecidas, relatos de dor, tristeza, mas também de esperança e da ação solidária de milhares de pessoas em prol de mais de 600 mil desabrigados num único estado brasileiro.

Ao conversar com amigos e amigas que moram nas diferentes regiões do estado, há uma frase quase que comum entre eles: “jamais pensei passar por isso”, “perdemos tudo”, “perdi familiares”, “perdi minha história”. Em meio a tudo isso, temos presenciado ações de voluntariado buscando suprir necessidades materiais, resgate de milhares de vidas, solidariedade e do acolhimento, mesmo num cenário de perdas imensas.

A união de esforços de pessoas de vários cantos do país, seja na ajuda direta ou indireta com doações, desperta também a importância do cuidado emocional com todos aqueles que estão passando por isso.

Créditos: Cid Guedes / GettyImagens

Créditos: Cid Guedes / GettyImagens

As consequências da tragédia

Frente a realidades como essas, em desastres ambientais, que nesse caso, estão sendo assemelhados aos impactos vividos por sobreviventes de guerras, estima-se que cerca de 25% dos atingidos passarão, em algum momento, por ansiedade, medo, depressão, estresse pós-traumático, angústia e outros quadros psicológicos que necessitam de suporte.

Do ponto de vista psicológico, o acolhimento é a principal forma de lidar com essa realidade: muitas pessoas precisam apenas falar sobre o que viram, viveram e o ainda o que está por vir. Não necessariamente devem ser estimuladas a contar o fato novamente (como viveram, como se saíram, se sua casa ainda existe, se possui perdas, etc), mas muitas pessoas buscam sim, apenas falar, serem ouvidas, recebidas com o afeto de um abraço.

As mudanças climáticas têm sido observadas e os impactos advindos delas podem ser, inclusive, tema que amplia a preocupação com o futuro, especialmente daqueles que já vivenciaram essa realidade. Cidades como Petrópolis, no Rio de Janeiro, e outras áreas de constante desabamento e desmoronamento, trazem aos seus moradores, uma expectativa de novas ocorrências climáticas e todo o seu desdobramento.

É como viver sempre em alerta e num estado de ansiedade constantes. Frente ao medo e à sensação de impotência as pessoas viverão pesadelos, um “reviver” a situação através de pensamentos catastróficos com a mesma intensidade emocional vivida naqueles momentos, bem como insônia, dificuldade de concentração, alteração do estado de humor. E pensando que muito ainda há por vir, temos um cenário de milhares de famílias que estão reconstruindo suas vidas, seu trabalho, sua moradia e as perdas de realidades importantes a cada um, que ainda se fará necessário o acompanhamento psicológico.

Como ajudar?

Para ajudar com efetividade, ou seja, de modo a não potencializar as dificuldades já vividas por quem está passando por isso, são importantes alguns pontos:

Compreender o que se passou e as realidades daquela pessoa e do lugar onde vive (perdas, danos, necessidades emergenciais), pois muitas vezes, a pessoa necessita de suporte básico como alimentar-se, orientar-se quanto sua família, suporte médico, entre outros não julgar com frases como: “você deveria ter levado seus documentos, você deveria ter saído com seus animais”, etc.

Muitas pessoas sequer conseguiram voltar para a casa e a casa sequer existe. Ainda vemos muitos comentários e julgamentos desse tipo nas redes sociais. Não é hora de julgar e sim, de ajudar, acolher o sofrimento do outro sem necessariamente que ele tenha que descrever o que se passou, mas acolher. Por vezes, ele precisa falar.

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Saber quais recursos podem ser oferecidos a essa pessoa: remédios, vacinas, roupas dentre outros, bem como apoiá-la quanto ao seu emprego e outras questões.

Estar atento aos sinais verbais e não-verbais da pessoa que está sendo ajudada, pois, muitas vezes, pelo trauma a pessoa não consegue expor o que sente, mas, visualmente, pode manifestar sua realidade.

Outras formas de ajudar

Certifique-se de dar informações corretas e não gerar falsas expectativas ou promessas que não poderão ser cumpridas.

Adultos necessitam ser amparados para conseguir apoiar as crianças e mais vulneráveis. Crianças necessitam de um apoio especial, de acolhimento por brincadeiras, leituras, jogos, buscando situá-las na realidade, mas preservá-las nesse tempo de reorganização de suas vidas. Quem cuida e está na linha como voluntário nas mais diversas realidades também necessita de apoio e acolhimento emocional, pois, para muitos que ajudam com boa vontade, há também o sofrimento pessoal em lidar com tantas realidades nesse sentido.

Para as pessoas que estão distantes

Para quem tem acompanhado à distância as notícias do Rio Grande do Sul e tem manifestado sinais de ansiedade e depressão, é importante que não consuma demais notícias e possa transformar essa realidade em ajuda prática, ou seja, transformar a dor em ação.

Em todas as realidades vividas em situações de emergência, oferecer apoio, afeto, suporte e amparo, favorecer redes de apoio e toda a ajuda é um caminho de acolhimento  e cuidado emocional importantíssimo tanto agora, quanto nos próximos meses para o povo gaúchos e para aqueles que estão transformando dor em ação.


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa