Maria tem 52 anos de idade e trabalha como secretária do lar em uma casa de família há mais de dez anos. Ela sempre toma o mesmo ônibus, no mesmo local e no mesmo horário. Um dia, após uma contrariedade em casa, ao se dirigir para o ponto de ônibus, começou a sentir um medo intenso, começou a tremer, a suar, a ter dores no peito e dificuldade para respirar. Na primeira vez em que teve esse quadro, ficou desesperada, a ponto de ir correndo a um Pronto Socorro perto da sua casa, pois achava que estava morrendo. Como teve vários ataques semelhantes nos últimos seis meses, esperou um pouco e, em dez minutos, foi melhorando, até que o ataque passou.
Às vezes, os ataques ocorrem em situações estressantes, como foi o caso da Maria, mas, muitas vezes, eles começam sem nenhum motivo aparente – a pessoa pode até mesmo acordar à noite com um ataque de pânico. Maria começou a ficar com medo de ter outro ataque e, assim, passou a evitar situações que podiam dispará-los, ou mesmo evitar locais onde, na eventualidade de um ataque, não pudesse ser socorrida. Maria, como outras pessoas com síndrome do pânico, começou a evitar lugares fechados, com muita gente, e sempre que tem que estar nesses locais, traça mentalmente rotas de fuga.
O termo “pânico” vem do grego panikon, que deriva do deus mitológico Pã. Segundo a crença dos antigos gregos, esse deus era habitante de bosques e campos e protetor de rebanhos e pastores contra todos os males. Era um ser horrível: da cintura para baixo, era um bode peludo e, da cintura para cima, humano, com enormes chifres. Quando aparecia para os camponeses, sempre de uma forma repentina, ocasionava enorme pavor, surgindo daí o nome pânico, como um terror repentino.
Pã teve um templo erguido na cidade de Atenas, em uma praça denominada Ágora, local do mercado onde se reuniam muitas pessoas. Essa é a origem da palavra agorafobia, inicialmente relacionada ao medo de locais amplos e com muita gente.
Foi somente a partir de 1980 que o transtorno do pânico foi reconhecido como um problema específico de ansiedade. Até aquela época, os ataques de pânico eram considerados, principalmente, como uma forma de ansiedade, que tinha nomes como: neurastenia cardiocirculatória; PiTi ou HY, codinome das crises histéricas reconhecidas nos serviços de emergência.
Atualmente, a patologia é bem definida e o Transtorno do Pânico (TP) caracteriza-se pela ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico concomitantes com, pelo menos, quatro dos seguintes sintomas:
• palpitações, taquicardia ou ritmo cardíaco acelerado;
• sudorese;
• tremores ou abalos;
• sensação de falta de ar ou sufocamento;
• sensação de asfixia;
• dor ou desconforto no peito;
• náuseas ou desconforto abdominal;
• sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio;
• desrealização ou despersonalização;
• medo de perder o controle e enlouquecer;
• medo de morrer;
• parestesias, formigamentos, anestesias;
• calafrios ou ondas de calor.
Despersonalização e desrealização
A despersonalização é uma sensação comum nos estados ansiosos que pode surgir mesmo fora dos ataques de pânico. Caracteriza-se por dar à pessoa uma sensação de não ser ela mesma, como se estivesse saindo de dentro do próprio corpo e observando a si mesma. A desrealização é a sensação de que o mundo ou o ambiente em volta estão diferentes, como se fosse um sonho ou houvesse uma nuvem encobrindo a realidade.
Cerca de um terço das pessoas com transtorno do pânico desenvolvem agorafobia, uma forma extrema de evitação fóbica, o que, na verdade, é o medo de ter medo. Muitas pessoas, por conta da agorafobia, evitam sair de casa, isolando-se socialmente, criando espaço para a ocorrência da depressão, situação muito associada à síndrome do pânico.
E como ocorre?
A ocorrência de um ataque de pânico é insuficiente para se fazer o diagnóstico da doença. Dez a doze por cento da população geral relatam que, nos últimos doze meses, já sofreram pelo menos um ataque de pânico inesperado, mas somente dois a seis por cento da população geral preenchem todos os quesitos necessários para o diagnóstico do Transtorno do Pânico.
Alguns sintomas do TP são também achados frequentes em doenças do coração, como dor torácica, palpitação, sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor. Essa sintomatologia quase sempre é responsável pelos pacientes procurarem serviços de emergência em cardiologia durante as suas crises. Daí vem a grande familiaridade dos cardiologistas com essa doença.
Os portadores de pânico costumam ter tendência à preocupação excessiva com problemas do cotidiano, bom nível de criatividade, excessiva necessidade de estar no controle da situação, expectativas altas e pensamento rígido, além de ser competentes e confiáveis.
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Esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas
Frequentemente, esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas, envolvendo-se demais com suas atividades profissionais, o que ocasiona estresse acentuado. Eles costumam reprimir pensamentos negativos, sendo os mais comuns o orgulho, a irritação e seus conflitos íntimos. Sua maneira de ser os predispõe a situações de grande estresse, levando a um aumento da atividade de determinadas áreas cerebrais e desencadeando um desequilíbrio bioquímico local, com consequente ocorrência de um ataque de pânico.
O transtorno do pânico é marcado por ataques de pânico frequentes e que se repetem sem aviso. Além disso, eles são seguidos por intensa ansiedade antecipatória sobre ter outro ataque ou sobre as consequências de um ataque (por exemplo, perder o controle ou ter um ataque cardíaco).
Causa
O transtorno do pânico tem causas biológicas e psicológicas, conhecendo-se vários genes que podem estar envolvidos na sua gênese, de modo que existe um caráter hereditário dessa doença.
Quem está em risco?
As mulheres são duas vezes mais propensas que os homens a sofrer de transtorno do pânico. O distúrbio, geralmente, começa durante a adolescência tardia ou início da idade adulta. Ter um parente próximo com transtorno do pânico aumenta o risco de desenvolvê-lo em dez a vinte por cento; ter um gêmeo idêntico com transtorno do pânico aumenta o risco em trinta por cento.
Sintomas da Síndrome do Pânico
• Preocupação persistente em ter outro ataque de pânico ou alterações de comportamento para evitar ter mais ataques;
• Ataques de pânico não ligados a situações particulares e que podem ocorrer inesperadamente;
• Medo súbito ou terror e sensação de catástrofes iminentes;
• Dificuldade de respiração, sudorese, palpitações, mãos frias, sensação de morte iminente;
• Sensação de que vai enlouquecer ou perder o controle de si mesmo.
Trecho extraído do livro “Livre para viver“, de Dr. Roque Savioli.
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