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Desafios: ansiedade, fé e a arte de ressignificar a vida

A Pressa constante e o aumento da ansiedade no mundo

Você já percebeu como estamos cada vez mais impacientes? Parece que não conseguimos mais esperar — nem pelas coisas, nem pelas pessoas. Vivemos correndo, como se o mundo não acompanhasse nosso ritmo acelerado. E para justificar essa pressa, muitas vezes dizemos: “É que eu sou muito ansioso(a)”. Ansiedade é, de fato, uma das palavras mais em alta atualmente. Mas você sabia que ela é um problema de saúde mental muito mais comum do que imaginamos? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade afeta cerca de 264 milhões de pessoas no mundo. Esse número pode ter aumentado nos últimos anos, especialmente por causa da pandemia de COVID-19, que impactou profundamente a saúde mental de milhões.

Crédito: MissTuni/GettyImages

A ansiedade representa aproximadamente 3,8% dos problemas de saúde globais, medidos em anos de vida ajustados por incapacidade — um indicador que considera tanto os anos vividos com dificuldades quanto os anos perdidos por morte precoce. Além disso, a OMS alerta que a ansiedade é um dos transtornos mentais mais comuns, e pode ter consequências sérias, afetando desde a qualidade de vida até a capacidade de enxergar oportunidades.

Uma dessas consequências é a forma como a ansiedade influencia nossa interpretação da realidade. Quem vê o mundo através das lentes da ansiedade tende a enxergar poucos frutos surgindo, como se a vida fosse um constante “patinar” — aquela sensação de que não saímos do lugar, acompanhada de frustração e desânimo. No entanto, mudar essa chave de leitura pode nos levar a uma interpretação mais esperançosa da vida, onde os desafios se transformam em oportunidades de crescimento.

Desafios: oportunidades disfarçadas

Todos os dias, somos confrontados com desafios. Eles podem surgir em diferentes formas: problemas de saúde, dificuldades financeiras, conflitos nos relacionamentos, crises existenciais ou, como no caso da ansiedade, a luta constante contra uma mente inquieta. Nesse contexto, a ansiedade muitas vezes surge da tentativa de controlar o incontrolável. Queremos respostas imediatas, resultados rápidos e soluções instantâneas. Essa pressa nos faz sentir que nunca temos tempo suficiente, que nunca alcançamos nossos objetivos.

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Não temos uma vida curta, mas desperdiçamos muito dela. A vida é longa o suficiente, se bem empregada.” – Sêneca, nesta frase, nos apresenta que a questão, então, não é a falta de tempo, mas como usamos o tempo que temos. Será que estamos investindo nossa energia no que realmente importa, ou estamos nos perdendo em preocupações infrutíferas?

A perspectiva que transforma

O mundo é, em grande parte, reflexo do olhar que lançamos sobre ele. Embora essa ideia possa parecer simplista à primeira vista, ela ganha profundidade quando aplicada à nossa relação com os desafios. Em uma sociedade onde todos parecem competir para sair ganhando ou para se destacar, os obstáculos podem se apresentar como muros intransponíveis. Mas como enxergar além desses muros?

Aqui, gosto de recorrer a uma interpretação pessoal do conceito de fé. Em meio aos desafios e ao desespero de navegar em um mar chamado vida — muitas vezes agitado pelos pensamentos ansiosos —, a fé se apresenta como uma ferramenta poderosa de interpretação. Como escreveu Paulo na Segunda Carta aos Coríntios: “Basta-te minha graça, pois é na fraqueza que se consuma o poder”.

Paulo nos lembra que os desafios são oportunidades para exercitar nossas habilidades, sempre a partir da graça de Deus, que acompanha aqueles que creem. Essa perspectiva nos convida a ver nossas fraquezas não como derrotas, mas como espaços onde o poder divino pode se manifestar.

A força que nasce da fraqueza

Embora os desafios nos cansem e gerem, hoje, pessoas cada vez mais ansiosas, esgotadas e desanimadas, eles trazem a ideia de Humano Frágil, e é justamente nessa fragilidades do humano que, como pessoas de fé, podemos nos abrir à graça de Deus.

Afinal, “de bom grado, pois, me gloriarei sobretudo de minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo” – Paulo nos convida a encarar os desafios não como inimigos, mas como instrumentos que nos levam a uma existência vivida sem medo de experimentá-la, ao mesmo tempo que ela se torna muito mais significativa para quem a vive.

Padre Robson Caramano
Mestre em linguagens, mídia e arte pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mestrando em Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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