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Quando a rotina cansa: o que fazer? 

Como nossos hábitos definem nossa realidade

Você ouve a palavra “rotina” e já bate aquele desânimo? Tinha um ritmo de vida, mas de um tempo para cá, perdeu o interesse ou sentiu-se cansado em prosseguir? A rotina pode ser tanto uma forma de usar bem nosso tempo, quanto uma prisão que nos sufoca. Tudo vai depender do como vivemos essas realidades.

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Rotina é, basicamente, uma sequência de hábitos, naquilo que fazemos todos os dias:  acordar, arrumar a cama, trabalhar, comer, cuidar dos filhos, tomar banho, dormir, estudar, dentre tantas outras coisas.

Quando assumimos uma rotina, ela nos ajuda a organizar o tempo, fornece estrutura e segurança. Uma rotina dá sequência e dá verdade a tudo o que fazemos. Quando estamos presentes, até o café da manhã pode ser um ritual de cuidado. Mas quando estamos desconectados, até uma viagem pode se tornar apenas mais uma tarefa.

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Quando a rotina cansa, provavelmente ela perdeu significado ou deixamos de dar valor à ela. É quando o corpo está ali, mas a mente e o coração estão em outro lugar. Quando fazemos as coisas só porque “tem que ser assim”, sem enxergar propósito, sem sentir o que estamos fazendo, corremos o risco de senti-la como “rotina morta”.

Sinais de que sua rotina pode estar morrendo

1. O piloto automático domina: você faz as coisas sem pensar, sem se dar conta de como chegou ao final do dia;

 2. Nada o emociona mais: até o que antes lhe fazia bem — um café, uma caminhada, uma conversa —, agora parece banal;

3. Você tem uma sensação constante de cansaço e vazio: mesmo descansando, você não sente energia;

4. Tudo vira obrigação. Não há espaço para leveza, prazer ou curiosidade.

A rotina viva nasce dos pequenos compromissos diários

Por vezes, temos vontade de largar tudo, mudar de cidade, trocar de trabalho ou reinventar a vida inteira para dar uma nova vida à rotina. Mas, sabe, às vezes, basta mudar a forma como percebemos as coisas e, talvez, como organizamos a vida. A vida cotidiana pode ser extraordinária quando a gente aprende a habitá-la de forma consciente.

Gosto muito de recordar São Josemaria Escrivá quando nos fala sobre as virtudes do cotidiano, o heroísmo do dia a dia que se dá nas coisas simples, quando, fazendo as tarefas, grandes ou pequenas, com amor e bem-feita, confere-lhes um sentido eterno.

Para tudo existe a importância de dar sentido

Talvez o ponto mais importante para manter a rotina viva seja o sentido. A repetição só se torna vazia quando perdemos a conexão com o “porquê”. Quando encontramos o “porquê”, o “como” ganha um novo e grande significado, por mais simples que seja aquela atividade. Limpar a casa pode ter um sentido, ficar numa fila à espera de algo, estar numa reunião de trabalho, falar pela centésima vez com seu filho.

Criar espaço para o novo é necessário

Rotina viva não é rotina perfeita, mas rotina que ganha um espaço para o novo, ainda que seja algo pequeno. Mudar pequenas coisas já renova o jeito de fazer aquilo que se faz todos os dias, como mudar o trajeto para o seu trabalho, propor algo diferente, arrumar uma comida diferente, mesmo que seja um arroz, tomate e ovo frito.

O perigo da pressa e da comparação

Outro veneno que mata a rotina é a pressa. Quando vivemos correndo, não há tempo para perceber nada. E, junto com a pressa, vem a comparação. Quando aceitamos que nossa rotina não precisa ser uma vitrine, mas um espaço de vida possível, nos libertamos.

Rotina viva é rotina feita com  alma, com vontade e empenho

Rotina viva é aquela que tem afeto, intenção, pequenas doses de beleza e gratidão. É o cuidado de estar inteiro, mesmo nas pequenas repetições. A rotina é o cenário onde a vida acontece. E para terminar, não existe uma fórmula mágica que nos tire daquilo que é necessário ser feito, mas o convite é que possamos visitar aquilo que nos angustia, talvez mudando pequenas coisas. Então, se um dia você sentir que sua rotina está morrendo, não fuja dela. Fugir só aumenta a nossa sensação de incapacidade, e, na maioria das vezes, aumenta o problema.  Respire, olhe, ajuste o ritmo, volte sua atenção, reveja seus passos.

“A vida cotidiana é uma espécie de cesta vazia”, em que os fatores econômicos e tecnológicos determinam os conteúdos, isto é, os acontecimentos, as causalidades, os instrumentos e as paixões. Para S. Josemaria Escrivá a vida cotidiana é, pelo contrário, o mundo mais concreto e real que as pessoas têm.

É um desafio constante ao próprio sentir e à própria identidade, à própria necessidade de sentido que deve, naturalmente, confrontar-se com a banalidade, com as contradições, sendo sempre capaz de se distanciar de qualquer alienação.” Que possamos ir além daquilo que é imposto, dos padrões irreais, e que possamos retomar o sentido daquilo que se perdeu ao longo de uma vida que se distraiu com o que não é importante.


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa