Nós cristãos, se quisermos refletir e agir na nossa sociedade com coerência, precisaremos ter consciência em quem votamos e conhecer a Doutrina Social da Igreja
Mais uma vez, estamos às portas das eleições. Nosso envolvimento com a política é uma obrigação como cidadãos, mas também como cristãos. Na Encíclica Populorum Progressio, o Papa Paulo VI (1963-1978) afirma que a política é a forma mais elevada de exercício da caridade. Portanto, para colaborarmos com a construção do Reino de amor de Cristo, temos que aprender a lidar com as questões políticas.
Política não se faz nem se vive somente em tempo de eleições. Ao contrário, é preciso que estejamos sempre atentos ao mundo político, acompanhando os acontecimentos e, de forma especial, verificando como o candidato que elegemos está gerindo o poder público, ao qual ele teve acesso com o nosso voto. As questões sociais, o bem comum e os problemas da sociedade também devem fazer parte do nosso dia a dia. Se isso não for possível por intermédio de um protagonismo social, ao menos, que o façamos ao acompanharmos as coisas que estão acontecendo no mundo ao nosso redor.
Nós cristãos, se quisermos refletir e agir na nossa sociedade com coerência, precisaremos ter algum conhecimento da Doutrina Social da Igreja. A fé não é – e não pode ser! – um baú enterrado dentro de nós! A fé cristã ilumina e orienta tudo aquilo que o cristão vive e faz. Portanto, a fé tem grande significado na forma como o cristão reflete sobre a sociedade e no modo como ele vê e lida com a política.
Sem dúvida, o tempo das eleições é um tempo privilegiado de viver a cidadania, e, sobretudo, de escolher aqueles que vão nos representar nos poderes públicos do Legislativo e do Executivo.
Contudo, precisamos ter algumas referências básicas, seja para a escolha de um candidato, seja quanto à cobrança de suas ações depois de eleitos. Sugiro as seguintes referências:
– O primeiro requisito é a honestidade e a transparência do político. Nisso se inclui uma vida social e moral íntegra; o respeito às leis e às normas sociais.
– É preciso ver o que motiva o candidato a exercer um mandato político, ou seja, se realmente está interessado no bem comum ou se sua preocupação central é consigo mesmo e com interesses pessoais. Exercer um mandato público não pode ser uma aventura pessoal, mas sim uma missão que se assume visando ao bem comum.
– Observar se o candidato tem uma história pregressa de dedicação à sociedade e seus problemas. É estranho que uma pessoa que nunca tenha se importado com isso e que nunca tenha dedicado seus esforços ao bem comum, agora queira exercer um poder público que existe para gerir questões da sociedade…
– O preparo do candidato quanto à capacidade de fazer política, ou seja, verificar se ele é preparado para se relacionar politicamente, sendo capaz propor e realizar projetos. Também é relevante a competência para representar o povo nas diversas questões da sociedade e do Estado e, desse modo, não ser um joguete nas mãos dos interesses de grupos organizados.
– Capacidade intelectual e cultural. Tanto no Legislativo quanto no Executivo, os políticos lidam com questões complexas, e a linguagem utilizada nos Projetos de Lei nem sempre é fácil de entender. Vivemos em um momento em que grupos pequenos, mas organizados, articulam artimanhas sutis e, se o político não tiver capacidade de captar e responder a isso, ele vai repetir os jargões politicamente corretos; e sem querer, vai trabalhar para interesses contrários ao dele.
– Ponto fundamental são os valores do candidato. Para nós, católicos, é essencial que os princípios de nosso candidato sejam realmente cristãos. Em meio a tantas ideologias que penetram na cultura e na política, o político precisa ter firmeza na sua fé, tanto no conhecimento como no testemunho daquilo em que crê.
– É preciso considerar a coragem e a firmeza do candidato com relação a seus valores. Não se trata de ter uma concepção puritana da política, entendendo que, às vezes, é preciso abrir mão do que é periférico e acidental para garantir o essencial. Mas sim de que o político deve ter a coragem de enfrentar seus opositores e manter-se firme diante dos desafios da vida política e pública.
– Estou convencido de que um bom político não é somente aquele que ganha um mandato cheio de boas intenções. Sabemos que o sistema político brasileiro é altamente corruptor. Para que ele se mantenha nos seus ideais, é fundamental que seja cercado por uma estrutura que o oriente, o acompanhe e o ajude em todos os âmbitos: do aspecto espiritual à sabedoria de saber se posicionar de maneira correta diante das questões mais difíceis e complexas.
– Por fim, é preciso analisar o partido do candidato. Muitos partidos, especialmente os de esquerda, militam por ideologias anticristãs. Como nas eleições para o Legislativo (Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador) o voto é computado para o partido e não para o candidato, embora eu tenha votado no candidato “X”, facilmente acabo elegendo o candidato “Y” do partido. Como o voto vai para o partido, não podemos votar naqueles que assumem ideologias que vão contra nossos princípios e valores.
Dia a dia, o bonde da história é conduzido, e a política é um dos trilhos que levam esse bonde para um lugar ou outro. A omissão dos cristãos, nessas questões, tem sido um grave erro, porque, na hora da encruzilhada das eleições, os cristãos têm dado autoridade política a pessoas que têm conduzido o Brasil a um neopaganismo. Os próximos 4 anos são estratégicos para nosso país, que vem sendo assolado pela corrupção e por injustiças, mas sobretudo por ideologias que destroem as bases fundamentais da sociedade, como a família, a dignidade da sexualidade e da vida humana, a liberdade religiosa e tantos outros. Que essas eleições sejam um tempo em que nosso país retome sua vocação primeira: a de ser a Terra de Santa Cruz! Esse é seu primeiro nome.
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