Conscientes da importância de sua contribuição, temos a possibilidade de mudar os rumos da política.
Enquanto vai se desenhando o cenário político partidário no horizonte das eleições 2014, os cristãos devem assumir o seu lugar próprio no enfrentamento deste desafio cidadão. Neste caminho, devem ser iluminados com os valores do Evangelho, que proporcionam uma leitura mais adequada da realidade complexa, contribuem para discernimentos e podem dar rumos novos às escolhas políticas. Há um momento primeiro que não pode ficar fora da pauta do cidadão que se orienta pela indissociável relação entre fé e vida. Trata-se de uma discussão ética, ampla e fundamentada, a respeito de candidaturas, programas de governo e representatividade.
Esse momento primeiro é indispensável durante a preparação para as eleições e a protege da influência de certa espetacularização, por vezes cômica, presente na apresentação de nomes, propostas e compromissos. A incidência da propaganda eleitoral não pode ser – por muitas vezes não ter a qualidade para tal – o meio determinante para juízos sobre nomes e propostas. É indispensável uma movimentação por parte de igrejas, escolas, associações de diferentes identidades, meios de comunicação e outros, para formatar uma linguagem capaz de contribuir com um avanço na qualidade do exercício político na cidadania brasileira. Nesta direção, é determinante a contribuição das redes sociais como portais da verdade. Aqui reside um sério desafio ético para não deixar que o deboche, a exposição caricata de pessoas e outros ruídos roubem a cena deste serviço importante.
A vivência e o testemunho da fé têm muito a contribuir para a transformação da vida, com incidências próprias no âmbito político e partidário. A complexidade do processo eleitoral exige empenhos educativos, abertura ao diálogo, debates éticos. Pede também o deixar-se impactar pela gravidade da escolha de nomes para composição de quadros que vão influenciar os rumos da história do país. A oportunidade é de uma participação qualificada de todos. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em interconexão com sua rede de regionais, paróquias e comunidades, instituições educacionais e de cuidado social, está em cena para contribuir com a qualidade da vivência deste momento decisivo para o país. Espera-se uma resposta comprometida de todos. O caminho oposto configura omissão e indiferença, contramão do que é exigência intrínseca da fé cristã: a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana.
Cada instância da sociedade, portanto, precisa assumir a tarefa de qualificar a política, consciente da importância de sua contribuição e da possibilidade de mudar rumos, nomes e configurações partidárias que não raramente debilitam a cidadania e se apropriam do que pertence ao bem comum. A Arquidiocese de Belo Horizonte intensifica agora o seu trabalho, assessorada por seu Núcleo de Estudos Sociopolíticos, em ação estratégica do seu Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, contando com o empenho de cada paróquia, comunidade, escolas, associações e movimentos. Vale-se de um rico material, que abrange vídeos educativos e tradicional cartilha, em preparação para as eleições; promove debates e intercâmbios, tudo para que no jogo pela vida não se tome goleada.
Outros jogos, no âmbito do esporte, podem ser vencidos mais tarde. Nestes, as derrotas podem se tornar oportunidade de lição e retomadas. Mas o jogo eleitoral, se for perdido, resultará em consequências sérias para a vida de cada brasileiro. Escolhas que configurem derrota neste campo são prejuízo que incide sobre décadas da história futura e, de modo ainda mais perverso, no presente, sobre a vida dos mais pobres. Cada um é convidado a compreender a política, conforme ensina o Papa Francisco, como uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. As eleições 2014 nos dão a oportunidade de aperfeiçoar a democracia a partir de reflexões, reuniões, voto consciente contra a corrupção e a favor da honestidade, construindo a cultura da vida e da paz. Esta participação pode garantir à sociedade o seu direito de exercer democraticamente o poder político, melhorando a representação. Agora é hora privilegiada de grandes contribuições e de qualificado serviço à política.