🕯️Dia dos fiéis defuntos

A Igreja nos convida a meditar sobre o mistério da morte

Meditar acerca do mistério da morte

Durante o mês de novembro, a Igreja nos convida a meditar acerca do mistério da morte. Esse convite parte do fato de que, logo no início do mês, celebra-se a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos. A liturgia da Igreja nos proporciona a ocasião de celebrar a vocação universal à santidade e a nossa esperança na ressurreição dos mortos.

Créditos: RapidEye by Getty Images.

A meditação acerca da morte é prática que remonta aos primeiros séculos da Igreja e que vem plasmando corações de grandes santos, alguns muito conhecidos porque canonizados, e a maioria não conhecidos porque não canonizados. Como não recordar o conselho de São Bento Abade aos seus monges, disposto no IV capítulo da sua Regra: “Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreendê-lo”?

A morte como tabu

Segundo o teólogo ortodoxo Olivier Clément (1921-2009), vivemos num contexto em que o sexo deixou de ocupar o lugar do grande tabu e, nesse vácuo, a morte foi entronizada pela mentalidade materialista que pensa a realidade terrena como se Deus não existisse, e cada um vive como se não fosse morrer. Quase não há espaços e ocasiões para se falar sobre a morte. Trata-se de um assunto a ser evitado a qualquer custo.

E o que dizer dos velórios cada vez mais curtos? O corpo do defunto se tornou um grande problema do qual todos querem se livrar o quanto antes, porque obriga a pensar a morte e a encarar essa realidade da qual ninguém escapará, nem os mais ricos, nem os mais bonitos nem os mais famosos. E as homenagens fúnebres cada vez mais bizarras, como por exemplo, tocar funk ou fazer uma roda de samba só porque a pessoa que morreu apreciava esses gêneros musicais?

A visão espiritual

A morte, ao ser transformada em tabu, teve a sua dimensão sagrada cancelada, não havendo mais espaço para a compunção que é o sentir com pesar silencioso e reverente. E para tentar preencher o vácuo de sacralidade, qualquer bizarrice tende a ser tolerada.

Olivier Clément – que se converteu à fé cristã depois de pensar seriamente sobre a morte e o possível aniquilamento pós-morte (cancelamento da existência) – assim escreveu na sua autobiografia: “Toda concepção de mundo que não inclui a morte só pode ser uma ilusão mortífera.”

Em 1974, Olivier Clément esteve na Romênia para dar cursos de teologia nos institutos de Bucareste e de Sibiu. Ele ficou profundamente impressionado em relação ao modo com o qual camponeses simples, possuidores de autêntica fé cristã, se preparavam para a própria morte. Mesmo ainda gozando de boa saúde, eles já começavam a confeccionar os próprios caixões para guardá-los. A morte era interpretada e esperada como o matrimônio com Cristo, e a confecção do próprio caixão era interpretada como a preparação do enxoval.

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A esperança que alenta a experiência cristã

Para os que cremos, a morte é um dos momentos mais importantes da nossa existência porque marca o passo decisivo para a nossa glorificação que consiste em participar da vida de Deus por mercê da sua graça. Para nós, morrer não é deixar de existir, ou seja, a morte não é o cancelamento da existência, mas sim a realidade que nos possibilita experimentar a ressurreição para chegar ao ápice que é existir para sempre em Deus e com Deus.

Nós, os cristãos, temos a urgente missão de atuar, sobretudo em nós mesmos, para recuperar o jeito cristão de nascer, de viver e de morrer sem nos deixar levar pelas modas bizarras ditadas pelos influentes de turno. Aquele que nos aguarda no momento da morte, para o esponsalício com Ele, é o mesmo que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá” (Jo 11,25).

Padre Robison Inácio de Souza Santos
Diocese de Guaxupé (MG), doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.