Ser cristão e exercer a cidadania através do voto
Não vou dizer o nome do meu candidato. Meu pai me ensinou que o voto é secreto. Aliás, nunca fiquei sabendo seu voto e nem o seu salário. Também não revelo em quem votarei para presidente neste ano. A Igreja ensina que, os padres devem respeitar a liberdade de consciência e de opção dos católicos. Não se pode dizer: vote neste que é melhor; vote naquele que é meu amigo. Conforme nos ensina o Papa na Encíclica Deus Caritas Est nº 28c: “Pertence à estrutura fundamental do cristianismo a distinção entre o que é de César e o que é de Deus (cf. Mt 22, 21), isto é, a distinção entre Estado e Igreja ou, como diz o Concílio Vaticano II, a autonomia das realidades temporais”.
Mas atenção! Ninguém imagine que a Igreja, na hora da eleição, volta para as catacumbas e deixa os partidos se digladiarem lá fora, até que alguém seja eleito. Não é tão simplório assim. A Igreja estabelece critérios para ajudar os católicos a formarem sua consciência política. Existe uma “Doutrina Social da Igreja” que ensina, por exemplo, que é dever do Estado garantir uma ordem social justa. Mais uma vez, lembra-nos o Papa: “A Igreja tem o dever de oferecer, por meio da purificação da razão e através da formação ética, a sua contribuição específica para que as exigências da justiça se tornem compreensíveis e politicamente realizáveis”. Por isso, não critique, rápido demais, o padre que falou de política no sermão. Tem de falar. Tem de formar a consciência dos fiéis. Só não pode dizer em quem votar. Isso é tarefa íntima da consciência de cada um.
Outra questão, um pouco diferente, seria a Igreja dizer aos seus fiéis em quem estes não deveriam votar. Sempre com a ajuda da encíclica do Papa Bento XVI, chamou-me a atenção o que ele diz neste trecho: “Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo(…)”. Opa! O critério negativo é mais específico. Não posso votar em um ditador. Não voto em alguém que queira resolver todos os problemas estatizando tudo, inclusive as escolas. Alguém que prometa acabar com o setor particular não terá meu voto.
Para ficar “nas ideias” do Santo Padre, estou lendo um documento que ele assinou em 2003, quando ainda era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Chama-se: “Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política”. Ali, as palavras são muito fortes. Diz, por exemplo, que um católico “tem a obrigação de se opor” por meio do voto à toda lei que vá contra a vida. Não posso votar em quem defende o aborto ou a eutanásia. Não voto em quem defende leis que colocam em risco a família “fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo diferente”.
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O voto de qualidade é uma forma de santidade
O documento vai mais fundo. Um católico de consciência bem formada, não pode votar em alguém que apresente um programa que vá contra os conteúdos de fé ou de moral apresentados pela Igreja Católica. Pense muito bem antes de votar em alguém alinhado à uma “organização religiosa” (para não usar a palavra “seita”) que costuma perseguir e contrariar a doutrina da Igreja Católica. Eu prefiro ficar em comunhão com minha Igreja e não votar neste tipo de candidato.
Analise bem que alianças ele fez. Como diz o velho ditado: “Veja com quem ele anda e te direi quem ele é!” Um candidato pode ser até “bonzinho”, mas se a maioria dos seus amigos são perversos, também, não terá meu voto! Por mais que um político se mostre eficiente na administração, não votarei nele se perceber que se utiliza de meios violentos ou desonestos. Votar em corrupto ou é pecado ou é burrice. Não voto sem pensar só porque alguém me disse que esse seria melhor, ou decidiram “lá na igreja”. Nem voto de cabresto, nem voto de olhos vendados. É preciso votar de olhos bem abertos. Voto de qualidade é uma forma de santidade. É um jeito de amar sua Pátria e prestar o serviço democrático de escolher, criteriosamente, seus representantes.
Como nos ensina a Palavra, naqueles dias, os partidos do Governo e da oposição fizeram uma pergunta política para Jesus: “O que acha, devemos ou não pagar impostos?” A resposta ecoa até nossos dias: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. A Igreja respeita a autonomia da Política. Mas não esqueça: César não é Deus! Não votarei naquele que se apresentar como “salvador da pátria”, como uma espécie de “messias” que tem todas as soluções para todos os problemas. Já temos um Messias, que é Deus. Esta eleição apenas escolherá um ser humano para “presidir” o “Mutirão-Brasil”. Só mais uma coisa, antes que alguém me pergunte: não darei um voto branco ou nulo. Seria fácil e cômodo demais! Se Deus me fez pensante, pensar é um jeito de louvar a Deus. E decidir é uma forma de rezar.