✝️ Semelhantes a Cristo

Somos convidados a ser missionários da misericórdia

O coração missionário, a busca por propósito e evangelização

Quando tive meu encontro pessoal com Jesus, acendeu em meu coração um profundo desejo de ser missionário em países que demonstravam uma realidade social limitada e urgência em anunciar Cristo. Sentia esse impulso de ser missionário, encantava-me o testemunho de tantos religiosos que deixavam tudo e se dedicavam numa linda missão nas escolas, hospitais, creches e onde o Espírito Santo inspirava missão.

Crédito: South_agency/GettyImages

Enviei muitos e-mails e cartas para algumas congregações, mas não obtive respostas. Não desanimei, ao contrário, aquela inspiração ainda ressoava com mais intensidade no meu coração. Passado o tempo, eu descobri a comunidade Canção Nova e, quando tive o conhecimento de que era uma comunidade missionária, quis logo me aproximar desse carisma, e a providência divina se encarregou de me apaixonar por sua missão: evangelizar, viver em comunidade e ser missionário nos lugares que o próprio Deus inspirava. 

A inspiração de Santa Faustina para as missões

Uma dimensão do carisma que me alcançou foi a misericórdia, termo esse que significa um coração que sabe acolher as misérias. Claro que misericórdia é um atributo de Deus: Deus é misericórdia e Ele pode ser misericórdia, porque o Seu coração puro e santo é capaz de acolher as misérias da humanidade e não se manchar, mas transformar em salvação. 

Na Canção Nova, aprendi mais sobre a espiritualidade da Divina Misericórdia. No começo, era apenas o conhecimento do terço, mas, depois, desbravei sobre aquela que foi uma grande missionária da misericórdia, Santa Faustina. Foi lendo o seu diário que me encantei com a sua vida testemunhada, principalmente a forma que ela exercitava a misericórdia com as irmãs de sua congregação e, principalmente, com os pobres que se aproximavam do portão do convento. 

Narro um fato que está no diário de Santa Faustina no número 1377: “Hoje de manhã, vieram à portaria cinco desempregados, que, por força, queriam passar pela portaria. Depois que a irmã  N.  ficou falando com eles um bom tempo, e não conseguindo mandá-los embora, veio à capela falar com a madre, e a madre mandou que eu fosse. Ainda me encontrava a uma boa distância da portaria, e já ouvia as suas insistentes batidas. Imediatamente envolveu-me a dúvida e o temor. Não sabia se devia abrir-lhes ou, como a irmã  N, responder-lhes pela janelinha. Mas, de repente, ouvi, na alma, a voz: Vai, abre o portão e fala com eles com a mesma doçura com que falas Comigo. Imediatamente abri o portão, aproximei-me do mais ameaçador e comecei a falar com ele com tanta doçura e calma que eles mesmos não sabiam como proceder e também começaram a conversar delicadamente e disseram: ‘Bem, é uma pena que o convento não tenha serviço para nós’. E afastaram tranquilamente”. 

Corações alargados pela misericórdia

Aqui está o que é ser missionário da misericórdia, isto é, tratar os que se aproximam de nós como se estivéssemos nos relacionando com o próprio Cristo. Podemos e devemos exercitar a misericórdia com os pobres e marginalizados, mas o ser misericordioso é uma atitude daqueles que foram alcançados pela misericórdia e sabem que ninguém deve ser tratado com desprezo, grosseria e falta de amabilidade. É ser reflexo do céu aqui na Terra. A misericórdia não é fraca, ela é revolucionária. É ela que cura relações, restaura famílias, reergue os caídos e transforma corações.

Jesus disse que devemos ser misericordiosos com o Pai, e isso é possível, pois Deus não nos pediria o que não fôssemos capazes de realizar, e isso vimos no exemplo de vida de Santa Faustina. Aquilo que Deus é por essência,  Ele nos capacita a sermos por graça. Ser missionário da misericórdia é permitir que o Espírito Santo alargue os nossos corações para o bom acolhimento, a palavra que conforta o coração do que está angustiado, é agir a partir do amor e não das paixões que tantas vezes causam desordens em nossa vida.

Diariamente, suplicamos o perdão de Deus, e o salmista nos conforta dizendo que Deus não nos trata como exigem as nossas faltas. Sendo assim, se Deus não nos trata na mesma medida que nossos pecados merecem, isso indica que, mesmo sem sermos misericordiosos em tantos momentos da nossa caminhada cristã, o Senhor já nos incita a confiarmos mais em suas promessas, pois inúmeras vezes experienciamos o perdão. Sendo assim, sejamos misericordiosos, para continuarmos a experimentarmos misericórdia.

“Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Não é apenas uma recomendação, é um chamado à missão.  Você aceita este convite?

Pe Uélisson Pereira
Missionário Núcleo e Sacerdote da Comunidade Canção Nova, atualmente na missão de Portugal

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