Consequências

Socorro! Quero me livrar da mentira

Numa bela mensagem para o “Dia Mundial da Paz” (01/01/2006), intitulada “na verdade, a paz”, o então Papa Bento XVI disse: “A Sagrada Escritura põe em evidência, no seu primeiro livro — o Gênesis —, a mentira, pronunciada ao
início da história pelo ser de língua bífida que o evangelista João designa como « pai da mentira » (Jo 8, 44). E a mentira é também um dos pecados que lembra a Bíblia no último capítulo do seu último livro — o Apocalipse —, ao referir a exclusão dos mentirosos da Jerusalém Celeste: « Ficarão de fora (…) todos os que amam e praticam a mentira” (22, 15).

Com a mentira está ligado o drama do pecado com as suas consequências perversas que causaram, e continuam a causar, efeitos devastadores na vida dos indivíduos e das nações. […] Como não sentir-se seriamente preocupado diante das inverdades do nosso tempo que enquadram cenários ameaçadores de morte em não poucas regiões do mundo? A busca autêntica da paz deve partir da consciência de que o problema da verdade e da mentira diz respeito sobre cada homem e mulher e aparece como decisivo para um futuro pacífico do nosso planeta.

Socorro quero me livrar da mentira

Foto Ilustrativa: stockce by getty Images 

A mentira e suas consequências

A citação de Bento XVI, no começo deste artigo, já é uma introdução sobre as consequências da mentira e como elas podem ser extremamente nocivas para as relações humanas, sendo, uma das principais consequências, a destruição da paz. Não temos o direito, e já falei sobre isso num artigo precedente, de tratar a mentira como um simples pecado de criança que esconde a nota baixa dos pais ou diz que não quebrou o copo quando de fato cometeu o ato.

Mentir é grave: primeiramente, porque mentindo nos afastamos de Deus, o único ser que nunca poderemos enganar. Quando mentimos, automaticamente enganamos alguém e privamos a pessoa da verdade – faltamos, portanto, com a caridade. O nosso ato de mentir pode também induzir os outros ao erro, o que será uma fonte de injustiça, desconfiança, insegurança e, como nos alerta Bento XVI, fonte de conflitos.

Mentira gera desconfiança

A mentira é como um roubo – roubamos a confiança. Já te enganaram? Percebeu como é difícil confiar novamente na pessoa que te enganou? Pois é, quando minto, preciso ter a consciência de que os outros também terão dificuldade para confiar em mim novamente. Mentir é também abrir a porta para a desconfiança.

O que estamos construindo com a mentira? Ela não traz e não permite bases sólidas para nenhuma construção humana. Uma amizade ou um casamento onde uma das partes não diz ou esconde a verdade não pode durar muito tempo. Noivos que mentem um ao outro poderão até casar, mas não poderão durar! Relações mentirosas são como a casa de palha dos três porquinhos: tão frágeis que um simples sopro do lobo consegue derrubá-las, deixando a todos sem abrigo.

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.: Como devo lidar com o perfil de uma pessoa mentirosa? 

Por fim, uma última consequência que destaco é o fato de que: mentindo, o ser humano não consegue cumprir sua vocação de ser testemunha da verdade. Aliás, quando mentimos somos inimigos da verdade, inimigos do Evangelho, instrumentos nas mãos do pai da mentira, estabelecendo o reino das trevas no mundo. Seria tão mais fácil se falássemos sempre a verdade, não? Por que não conseguimos?

Mentira tem remédio

Entendemos quão ruins são as consequências da mentira. Mas o que fazer se menti? Eis algumas dicas:

1. Tente levar uma vida espiritual e intelectual fundada da verdade: busque a verdade na oração e nas suas leituras, com bons autores.
2. Perceba na sua vida e no seu entorno as consequências da mentira. Isso ajuda a desejar a verdade. Não deixe a mentira colocar uma venda em seus olhos.
3. Se perceber que está vivendo e dizendo uma mentira, deseje sair deste círculo o mais rápido possível. Peça a ajuda a Jesus.
4. Seja humilde para reconhecer seu pecado e peça perdão – na confissão, mas também à vítima da sua mentira.
5. Se não sabe ou não tenha certeza, não diga nada: não seja precipitado (a).
6. Seja vigilante com relação às suas emoções e sentimentos: eles podem nos iludir, e no meio da confusão interior, somos mais susceptíveis a mentir.
7. Tenha a coragem de enfrentar seus medos e traumas: muitas vezes aí encontramos a causa da mentira. Se precisar de ajuda, peça!
8. Seja honesto e tente ver as coisas como elas são: sem aumentar nem diminuir os eventos que vive – eventos são objetivos, e na objetividade está a verdade (nossas interpretações podem nos levar à mentira).
9. Desconfiar pode ser uma doença – causa e consequência da mentira. Peçamos a Deus que purifique nossos corações deste mal.
10. A mentira está por todas as partes – somos causa ou vítimas o tempo todo. Cuidado com as informações que recebe e que compartilha.

Lute pela verdade!

Ao final dessas considerações sobre a mentira, peçamos ao Senhor que Ele nos dê a graça de lutarmos sempre pela verdade, de caminharmos sob a luz do Espírito e de nos conduzirmos com o coração cheio e ardente de caridade. Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo? Quem habitará em vossa montanha santa? O que vive na inocência e pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração, cuja língua não calunia; o que não faz mal a seu próximo, e não ultraja seu semelhante.

O que tem por desprezível o malvado, mas sabe honrar os que temem a Deus; o que não retrata juramento mesmo com dano seu, não empresta dinheiro com usura, nem recebe presente para condenar o inocente. Aquele que assim proceder jamais será abalado.
Salmo 14

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Padre André Favoretti

Natural de Vitória (ES), padre André foi ordenado sacerdote no dia 25 de junho de 2017, na Diocese de Fréjus, Toulon, na França, onde atua como missionário. Antes de se tornar sacerdote, ele concluiu sua licenciatura em Geografia (UFES), foi professor e fez pós-graduação em Filosofia (UFOP).