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O meu propósito de vida está fora do egocentrismo

No post anterior, vimos que, desde sempre, nós, como indivíduos, questionamos como a vida pode permanecer tendo sentido, apesar dos acontecimentos trágicos. De acordo com Frankl, todos nós estamos sujeitos à Tríade Trágica.

Esta é uma expressão usada na logoterapia para se referir à dor, à culpa e à morte, e que o sofrimento não é necessário para encontrarmos o sentido da vida, porém, uma vez que ele seja inevitável, também será possível encontrarmos um sentido, mesmo nas adversidades.

Um ser espiritual

O ser humano é realmente diferente dos outros animais por suas características peculiares e por sua composição. Segundo Frankl, são a espiritualidade como a mais central e importante, seguido de inteligência, memória, instinto e impulso. Ou em três dimensões, a saber:

A dimensão somática envolve aspectos corporais como as funções fisiológicas. Na dimensão psíquica, contemplamos os aspectos psicológicos como as sensações, sentimentos, instintos, desejos, afetos, cognições e emoções. A dimensão noológica ou espiritual engloba o que é essencialmente humano, os fenômenos humanos. É nesta dimensão que se encontram as decisões que tomamos, a criação estética, religiosidade, apreensão de valores, o sentimento ético. O ser humano constitui-se imerso e influindo no jogo de forças sociais (Frankl, Sede de sentido. 1989).

O meu propósito de vida está fora do egocentrismo

Foto Ilustrativa: FangXiaNuo by GettyImages / cancaonova.com

Um motivo para a felicidade

O autor acredita que o homem é o único capaz de perguntar o que é uma coisa em si mesma, é capaz de captar as essências contradizendo a teoria do conhecimento kantiana. Ele é capaz de desvencilhar-se dos laços da vida, do impulso e do meio ambiente sendo aberto ao mundo. Isso implica a capacidade de ter fome e não comer por exemplo, ou até mesmo de doar a própria vida em favor de alguém, características anormais no mundo animal. Dessa maneira, ele pergunta por si mesmo e por seu motivo de viver e agir.

“O ser humano é, antes de mais nada, um ser essencialmente histórico, está inserto num espaço histórico concreto, a cujo sistema de coordenadas não logra arrancar-se. E este sistema de relações está determinado, em cada caso, por um sentido, se não inconfessado, talvez em geral inexprimível (FRANKL, 2003, p. 57). Na sua dimensão espiritual, ele clama esse sentido, busca-o mesmo sem perceber. Na verdade, “o homem realmente quer, em derradeira instância, não a felicidade em si mesma, mas, antes, um motivo para ser feliz.” (FRANKL, 1991, p. 11).

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Sair de si mesmo

Em tudo isso apresenta-se a autotranscendência, sair de si mesmo. “A essência da existência humana, diria eu, radica na sua autotranscedência. Ser homem significa dirigir-se e ordenar-se a algo ou alguém: entregar-se o homem a uma obra a que se dedica, a um homem a quem ama, ou a Deus, a quem serve” (Frankl, 1989, p. 45). Ou seja, pode-se dizer que o sentido da vida está fora de mim e do meu egocentrismo.

Isso irá nos recordar os conselhos de Jesus e seus ensinamentos quando explica que o maior mandamento é amar ao próximo como a ti mesmo, ou que seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor: “veja como se amam”. As teorias, mesmo que psicológicas, vão se somando e reafirmando o que já foi dito e aprendido com o Senhor, amar e servir são os motivos pelos quais somos criados. Mesmo com um motivo particular, em geral a ideia se repete e isso realiza todo e qualquer ser humano.


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.