Vivemos um tempo onde é proibido demonstrar fraqueza ou ficar triste. Nós mulheres, então, precisamos estar empoderadas, afirmar que somos o sexo forte, capazes de dar as cartas, de conduzir as rédeas da própria vida e sempre nos sairmos bem de qualquer desafio pessoal e profissional a todo momento. Após a revolução feminina, pode parecer estranho para alguns nós nos permitirmos ser frágeis e recusarmos, por vezes, o rótulo de mulher maravilha.
Os modelos femininos na TV e nas capas de revista sempre mostram mulheres felizes, capazes, com sucesso na vida pessoal e profissional, alguém infalível e invencível.
É possível ser 100% equilibrado em todas as áreas da vida ao mesmo tempo? Questione-se!
Qual o problema disso?
Nós mulheres não somos máquinas.
Não precisamos render 100% em todas as áreas da nossa vida ao mesmo tempo.
Não conseguimos sempre agradar a todas as pessoas ao nosso redor.
É importante entender que isso não nos diminui. Admitir nossos limites, falhas, dificuldades e erros não nos faz menores.
Eu já tive uma grande dificuldade em perder. Não conseguia. Desde pequena, fui muito focada em acertar sempre, em dar o meu melhor, fazer tudo que deve ser feito da melhor forma para tirar 10 na prova. Meu pai, inclusive, por vezes, quando eu tirava 9,5, repreendia-me: “Por que você não tirou 10, filha? Você só faz isso!”. Essa situação do passado moldou e molda, até hoje (se eu não me policiar), várias de minhas escolhas e, por vezes, em vez de me fazer bem, trazem-me dor e sacrifícios desnecessários.
Aprender a definir prioridades
Quando se é criança e adolescente, de fato pode-se priorizar o estudo, e faz algum sentido buscar essa alta performance. Mas à medida que crescemos, aumentam as responsabilidades. Precisamos continuar sendo estudantes na universidade, no curso técnico, no aperfeiçoamento do serviço. Se trabalhamos, é importante darmos nosso melhor. Se namoramos, somos noivas, casadas, precisamos estar 100% nesse relacionamento. Se também temos nosso círculo de amigos, temos de cultivá-los. É igualmente fundamental apoiarmos 100% nossos pais e parentes. E quando os filhos chegam, então…! Vejam como a conta de ser 100% em tudo, ao mesmo tempo, não fecha. É impossível abraçarmos o mundo só com os nossos bracinhos.
cobrança sobre nós
Se nos cobrarmos para sermos 100% o tempo todo, podemos trazer um cansaço, uma exaustão, estafa e frustração, porque todos nós temos limites. É simplesmente irreal acreditar que não precisamos nos doar menos em uma área, porque, naquele momento, outra nos pede mais.
Reconhecer isso é uma dádiva, e saber equilibrar cada uma das áreas da nossa vida, de maneira a conseguir ser uma mulher 100% no conjunto de todas elas (e não se matar para estar 100% em cada uma delas ao mesmo tempo) é de uma sabedoria saudável demais para nós e para quem está ao nosso redor.
Eu tenho aprendido a dizer ‘não’, a escolher o que priorizar a cada dia, e aquela passagem de Marta e Maria, com a visita de Jesus, ajuda bastante a entender a diferença entre ser relapsa e saber priorizar (Lc 10,38-42). No trecho bíblico, cada uma fez uma escolha, porque, naquele momento, não era possível cuidar da casa e sentar para ouvir Jesus.
Maria escolheu a melhor parte, o essencial, aquilo que não poderia ser deixado para depois. Importante que a casa limpa era a morada de dentro, a alma limpa, o coração cheio da sabedoria do Mestre.
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Priorize alguns momentos e atividades
Fique atenta, pois o ritmo frenético pode nos consumir a tal ponto, que nem percebemos e já estamos exaustas, ajeitando a casa enquanto a melhor parte (a família, por exemplo) está negligenciada.
O nosso corpo dá sinais de exaustão. Conheço pessoas que, literalmente, um dia acordaram “travadas”, sem conseguir se mexer, tamanho estresse. Em períodos de exaustão, depois de um dia “daqueles”, eu choro muito. Um tempo atrás, eu estava em dois empregos, chegava a trabalhar das 10 às 22h em alguns dias da semana, era recém-casada e havia ingressado num doutorado. Sim isso tudo de uma tacada só! Era uma rotina de dar aula, gerenciar a comunicação de um setor no Governo, fazer disciplinas, preparar um projeto de tese, cuidar da casa nova. Sabe aquele choro do nada, sem motivo aparente, mas baseado no seu cansaço? Eu chorava muito, descarregava toda a agonia de uma vez, mas não colocava um freio nas coisas. Resultado: semestre seguinte, olha lá eu chorando de novo!
Não há problema nenhum em chorar, faz até um bem danado, mas chorar de cansaço é um sinal de que precisamos rever as prioridades e começar a dizer ‘não’ para algumas coisas; lembrando que o dia tem só 24 horas, que você é uma única pessoa e que não precisa fazer tudo ao mesmo tempo agora.
A nota sete também passa
Meu marido tem uma frase ótima, que intitula esse texto, e repasso a vocês para que nunca se esqueça: a nota sete também passa. Ou: o importante é ter entendido a matéria, não ser sempre a nota mais alta da classe!
Longe dele e de mim recomendar que sejamos medianos na nossa vida, para longe de nós mediocridade ou que levemos a vida de qualquer jeito. O sentido dessa frase é: seja responsável, faça o seu melhor, mas não se cobre para tirar sempre 10 em tudo, em todas as áreas da vida ao mesmo tempo. Renunciar faz parte, fazer escolhas também. Sua família não desabará se você, no período de estudos, dedicar-se mais aos livros. O seu estudo pode esperar um tratamento de saúde, seja a sua saúde ou de alguém próximo, que exija dedicação maior naquele momento. O seu trabalho precisa ficar no trabalho (e não ser trazido para casa sempre, todos os fins de semana, noites, feriados, substituindo o tempo com seus filhos).
Equilíbrio é palavra de ouro nos nossos dias. Essa história de mulher maravilha é linda nos quadrinhos, mas, na vida real, estar empoderada é saber escolher e entender que, em determinados momentos, uma área da vida demanda mais que outra. Se o cansaço vier na forma de choro, chore, mas entenda como um alerta de que algo não vai bem e procure ajuda.
Peça a luz do Espírito Santo para que, com discernimento, você reveja como e a que tem dedicado seu tempo.
Faça menos, mas faça melhor. Dedique-se mais ao essencial, àquilo que não é trivial.
A nota sete também passa.