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Liberdade é a verdade

O que é a liberdade? Leia parte deste poema de Rudyard Kiplin. Chama-se “Se”: Consegue-se manter a calma quando à tua volta todos a perdem e te culpam por isso; Consegue-se ter confiança em ti quando todos duvidam de ti e aceitas as tuas dúvidas; Consegue-se esperar sem te cansares por esperar ou caluniado não responderes com calúnias ou odiado não dares espaço ao ódio.

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Pornpak Khunatorn

A ausência da liberdade

Liberdade é a liberdade da verdade. Jesus disse: “A Verdade vai libertá-lo”. A ausência de liberdade se equipara ao medo – medo da realidade, medo dos outros. Ausência de liberdade significa agarrar-se às ilusões e aos preconceitos e, às vezes, até mesmo às mentiras. Ausência de liberdade significa ser controlado por compulsões em vez de controlá-las. É impor uma visão à realidade ou querer mudar a realidade pela força em vez de criar uma nova visão da realidade. Ausência de liberdade significa pensar que só você detém a verdade e que os outros estão errados ou são estúpidos. Significa ser controlado pelo preconceito.

Por outro lado, há pessoas em que os medos e preconceitos estão arraigados tão profundamente que elas se recusam a conhecer qualquer pessoa diferente. Já ‘sabem’ que essas pessoas são “ameaçadoras”. Preconceitos desse tipo são, em geral, baseados em um grande medo de mudança: as pessoas não querem que sua segurança seja perturbada ou que seus sistemas de valor sejam questionados. Não querem abrir o coração para aqueles que são diferentes. As pessoas preconceituosas não são livres.

Ser livre é saber quem somos, com tudo o que é belo e com toda a fragilidade que há em nós; é amar nossos próprios valores, abraçá-los e desenvolvê-los; é estar ancorado em uma visão e em uma verdade, mas também estar aberto aos outros e, assim, à mudança. A liberdade está em descobrir que a verdade não é um conjunto de certezas definitivas, mas um mistério em que penetramos, um passo de cada vez. É um processo de ir cada vez mais fundo em direção a uma realidade insondável.

O que é liberdade?

Nesta jornada de integração da nossa experiência, dos nossos valores e do que podemos aprender enquanto escutamos os outros, pode ocorrer um período de angústia. Precisamos encontrar vínculos entre o velho e o novo, vínculos que permitam a integração das verdades novas que expandem a consciência naquilo que já conhecemos e estamos vivendo – nossas certezas atuais. À medida que as ciências humanas se desenvolvem e o mundo evolui, somos chamados a cultivar um novo e mais profundo entendimento da fonte do universo e da vida. Quando participamos desse processo, nossa percepção da verdade se expande. Liberdade significa respeitar essa fonte, a beleza e a diversidade das pessoas e o universo. É contemplar a altura e a extensão de tudo o que é verdadeiro.

Liberdade é aceitar que, quando pertencemos a um grupo, raça, tribo, família, comunidade, religião, nenhum desses é perfeito, cada um tem seus limites e fragilidades. Toda comunidade de humanos tem sua luz e sua escuridão. Todos nós somos parte de algo maior do que nós. Todos nós fluímos de uma fonte insondável e estamos todos caminhando para ela, levando conosco a luz da verdade e do amor. Cada um de nós é chamado a estar em comunhão com a fonte e centro do universo. Os infinitos anseios do nosso coração nos chamam para estar em comunhão com o Infinito. Nenhum de nós pode se satisfazer com o limitado e com o finito. Cada um de nós deve ser livre para seguir o Espírito de Deus.

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E essa liberdade é para o amor e para a solidariedade, para doar do modo mais total e livre a nossa vida aos outros. É a liberdade para ser bom e paciente. Essa liberdade não busca honrarias pessoais; ela acredita em tudo, espera tudo, suporta tudo e resiste a tudo. A liberdade não julga nem condena, mas entende e perdoa. A liberdade é a libertação de todos aqueles medos interiores que nos impelem a nos afastar das pessoas e da realidade. É também a aceitação humilde do fato de que realmente temos medos e inibições e precisamos pedir perdão àqueles que magoamos.

Há uma liberdade que percebo que existe, mas não tenho. Tenho medo do desaparecimento dos meus muros de defesa, sentindo que, por trás deles, há uma angústia e uma vulnerabilidade que virão à tona. Percebo que, ainda me agarro ao que as pessoas pensam de mim e sou nutrido pela maneira como as pessoas me amam, me querem e me admiram. Se tudo isso acabasse, quem seria eu? Mas é aí que está a liberdade: a liberdade para ser rejeitado, se for esse o caminho que eu preciso seguir para viver mais plenamente. Não é essa a liberdade que Jesus anuncia no capítulo das bem-aventuranças, quando fala da bem-aventurança daqueles que são perseguidos ou quando diz: “Ai de ti quando as pessoas falarem bem de ti?”.

Não sou realmente livre se estou tirando a liberdade de outra pessoa

Tenho a minha própria suposição, mas em um contexto muito diferente. Posso relacioná-la às palavras de Nelson Mandela:

“Não sou realmente livre se estou tirando a liberdade de outra pessoa, como certamente não sou livre quando a minha liberdade é retirada de mim… Ser livre não é apenas perder os próprios grilhões, mas viver de uma maneira que respeite e aumente a liberdade dos outros.”

E ele prossegue: “Trilhei essa longa estrada em direção à liberdade. Tentei não hesitar; tropecei ao longo do caminho. Mas descobri o segredo que, após subirmos uma grande montanha, o que percebemos é que há muito mais montanhas a subir. Parei um momento aqui para descansar, para lançar um olhar à gloriosa vista que me cerca, para lembrar a distância que percorri. Mas só posso descansar um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades e não ouso me demorar, pois minha longa jornada ainda não terminou.”

Meu principal mestre na jornada para a liberdade é Jesus e sou grato à minha Igreja, que me aproximou d’Ele. Eu me sinto comovido e atraído pela total liberdade de Jesus e anseio por encontrá-la. É a liberdade da qual fala o apóstolo Paulo: “Vós fostes chamados à liberdade, irmãos e irmãs. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pelo amor, colocai-vos a.serviço uns dos outros. […] O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, sinceridade, suavidade e autocontrole. Contra essas coisas não existe lei”.

Eduardo Rocha Quintella

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