Sexualidade

Certa vez, alguém definia afetividade como “capacidade humana de formar vínculos”. Pensemos: quanto tempo é investido em deixar-se conhecer e em descobrir as características do outro que podem despertar admiração (e não atração)? Como é aproveitada a presença e a ausência da pessoa: será que já se sabe conviver com a saudade sem se deixar dominar pela insegurança? Como promover vínculos mais “profundos”, que se diferem dos comuns nesses tempos de “pouco papo” e rítmo acelerado?

Na maioria das vezes, alguns valores como intimidade, partilha, conhecimento e transparência são soluções a muitas dificuldades conjugais.

Quanto ao papel social no desenvolvimento da sexualidade, em algumas palestras ministradas a adolescentes, costumo pedir que os rapazes e moças diferenciem atitudes juvenis das de “homem” e “mulher”. Normalmente eles apresentam dificuldades em responder e quando inverto o desafio, normalmente encontro especialistas naqueles que seriam os perfis de maturidade com os quais podem ser caracterizados “homens” e “mulheres”. É interessante observar como eles se mostram completamente contrários à possibilidade de namorarem “imaturos”. No entanto, quando lhes pergunto com qual perfil cada um se identifica, é comum o silêncio tomar conta do ambiente, podendo-se concluir que o jovem adquire bem cedo a capacidade de identificar o que quer, mas parece encontrar dificuldades para se tornar o que precisa. A situação parece refletir a confusão que muitos jovens vivem: “(…) não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero” (Rm, 7, 19). Parece existir uma consciência do que deve ser feito, mas nem sempre bons exemplos são encontrados para se espelharem e amadurecerem de forma adequada. E é dessa forma que muitas pessoas atravessam a adolescência “atropelando” algumas fases, com a obrigação de, sozinhos, encontrarem as respostas para suas angústias e dúvidas. O caminho mais fácil (e mais prejudicial) é o de se deixar levar pelo que é mostrado na maioria dos canais de televisão, nos quais a vida é passada de forma descompromissada, sem os fundamentos de maturidade necessários para o relacionamento a dois. A falta de coerência, de capacidade de fazer renúncias, de compreensão e de autodomínio fazem com que muitos adultos ajam como adolescentes irresponsáveis.

Relacionar a sexualidade com a vocação traz um elemento precioso: considerar a vida como um Dom de Deus, e confiar na felicidade que Ele reserva àqueles que respondem ao Seu chamado, pois é assim que a sexualidade se torna uma forma a mais de experimentar a intimidade com Deus. Muitas histórias bonitas, com testemunhos de realidades impossíveis, vêm sendo construídas pelos que aceitam o desafio de amadurecer, pois estão atentos às conseqüências dos seus atos e entendem que o amor relaciona-se muito mais a uma decisão de se doar do que a um estado emocional, pois poderá ser resultante de escolhas infelizes, que mesmo quando saudáveis, são transitórias e não englobam a riqueza do encontro entre duas pessoas.