Na prática, facilmente se confunde autoridade com autoritarismo. Entre os cristãos, cujo modelo único é a humanidade de Cristo, isso deve ser abominado. Jesus nos mostrou que autoridade é serviço, portanto, toda autoridade é instituída com o propósito de centralizar para melhor servir.
Aquele para quem todas as coisas foram entregues e todo joelho deve dobrar-se no céu, na terra e abaixo da terra (Fl 2,10), humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz (Fl 2,8). Usou de Sua autoridade para nos resgatar, prestando-nos um serviço único e inacessível para nossas forças.
Jesus deve ser o nosso modelo de autoridade
Se Jesus é nosso modelo de autoridade, o modelo de paternidade não poderia ser outro além daquele que, venerado como criador do céu e da terra, é chamado de Pai. Além de Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, é nosso Pai, Deus de toda consolação e Pai das misericórdias (2 Cor 1, 3), a primeira pessoa da Santíssima Trindade.
Minha maior preocupação como pai sempre foi não passar uma imagem errada de Deus-Pai para minhas filhas. Afinal, é baseado nas ações e nas palavras e atitudes de um pai que vemos e convivemos, que procuramos entender o Pai que não vemos. Como acreditar em um Pai justo, amoroso e misericordioso, vivendo com um pai prepotente, intolerante e arrogante? Como crer que o Pai que cuida até dos pássaros (Lc 12, 24) ouve minha oração, se o meu pai não perde seu precioso tempo procurando saber o que se passa comigo?
Somente redesenhando nossos modelos de autoridade e paternidade podemos entender como eles se fundem na autoridade espiritual que os pais têm sobre seus filhos. Têm autoridade por direito (Rm 13, 1-2) mas também tem o dever de exercitá-la e aperfeiçoá-la segundo os dois modelos principais que eu citei acima.
É dever dos pais conduzir os filhos à maturidade corporal, intelectual e espiritual. Deus nos reveste de autoridade para isso e, claramente, é uma autoridade que se reverte em serviço. Assim, eles devem crescer em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens (Lc 2,52).
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Proteção espiritual
Além do estímulo ao crescimento, parte importante da autoridade do pai é fornecer proteção. Você protege seus filhos dos perigos espirituais com tanto afinco quanto dos danos materiais? Em outras palavras, você reza por seus filhos todos os dias como os alimenta, veste e conforta todos os dias?
Deus nunca dá um serviço sem conceder a graça correspondente para bem executá-lo. Isso quer dizer que, se sobre o pai pesa uma autoridade espiritual sobre seus filhos, sobre ele também são derramadas as graças espirituais para executar sua tarefa e ser canal da bênção de Deus. O famoso “Deus o abençoe!” não deve ser entendido somente como uma fórmula antiga e vivida da boca pra fora. Ela possui verdadeiro poder se for pronunciada por um pai ou uma mãe sobre seus filhos.
Diz a piedade popular que Deus é “obrigado” a abençoar o filho que recebe uma benção sincera de seu pai. Não existe erro nisso, pois o Senhor mesmo se coloca como o Pai que dá sempre e continuamente, buscando incansavelmente o melhor para seus filhos (Lc 11, 10-13).
Como autoridade espiritual, devemos, portanto, abençoar continuamente nossos filhos com palavras e orações, e viver na prática o que aprendemos com o próprio Deus uno e trino, paternidade, autoridade e amor incondicional. A busca da conversão pessoal é fundamental pois, o exercício da autoridade do “faço o que eu digo, não faça o que eu faço”, deforma terrivelmente quem está sob seu comando. Finalmente, no campo espiritual, não importa a idade dos filhos, o pai deve ser aquele que convida, auxilia, conduz, perdoa e intercede continuamente, incansavelmente.