Elisabete da Trindade em tudo se deixou amar por Deus e assim amada, buscou ser um louvor de glória
Neste próximo domingo, dia 16 de Outubro, o Papa Francisco irá canonizar, na praça de São Pedro, a jovem carmelita francesa Elisabete da Trindade. Essa jovem santa, não muito conhecida, foi uma mulher profundamente contemplativa, buscou em tudo estar mergulhada em Deus, escondida em Cristo.
Elisabete Catez nasceu no campo militar de Avor, França, em 1880. Seu pai era um militar, sendo a pequena Elisabete educada neste ambiente. No ano de 1882, a família Catez se transferiu para a cidade de Dijon. Desde pequena, Elisabete se destacava pelo seu forte temperamento, demonstrando ser uma criança geniosa e de um caráter muito enérgico e irascível. Sua mãe buscou ensiná-la a controlar-se por amor. Em um de seus testemunhos, Elisabete conta que, em um Natal, quando ela tinha provavelmente entre 4 a 5 anos, sua mãe emprestou sua boneca para servir de menino Jesus no presépio da Igreja. Quando a pequena Elisabete, na missa da noite de Natal, olhou para dentro da manjedoura e reconheceu sua boneca, fez um grande escândalo, chamando o padre de malvado e exigindo que ele lhe devolvesse a sua boneca.
Esse foi um pequeno exemplo de quanto esta jovem de temperamento forte, precisou ser trabalhada no autodomínio e na ternura. Elisabete foi um grande exemplo de alguém que se deixou transformar pelo amor de Deus. Os santos não foram pessoas perfeitas, foram homens e mulheres que se deixaram transformar por Deus e souberam viver o ordinário da vida de forma extraordinária.
Aos 7 anos de idade, Elisabete perdeu o seu pai, uma grande dor para sua mãe, que a partir daquele momento, teria que educar sozinha suas duas filhas, Elisabete e Margarida. Nesta mesma época, a pequena Elisabete confessava ao Cônego Angles o seu desejo de um dia ser religiosa. Desde pequena se destacava pelo seu amor a Jesus. Logo após a morte do pai, sua família se mudou para perto do Carmelo e assim a pequena foi crescendo rodeada dos sinos do claustro, ao ponto de na juventude compor uma poesia sobre o que via da sua varanda. Ela mesmo dizia se referindo às carmelitas: “Vejo a capela misteriosa das humildes e pobres religiosas. Santas jovens como vos invejo!”. Da sua varanda, Elisabete via o mosteiro das carmelitas e sonhava em um dia viver ali como uma delas.
Entrada no Carmelo
Elisabete também se inscreveu no conservatório e assim se tornou uma grande pianista. Ao passar um dia em frente ao teatro de Dijon, disse a uma amiga: “Eu queria ser uma grande pianista e fazer um grande concerto neste lugar!”. A amiga perguntou o porquê deste desejo, obtendo a seguinte resposta: “Quero estar lá para naquele meio ter pelo menos uma alma que ama a Deus.” Em 1894, sentiu um apelo interior de se entregar ao celibato, mesmo que privadamente e seguindo esta inspiração fez um voto privado de virgindade. Em 1895, ganhou o certificado no conservatório.
Dentro do coração da jovem Elisabete crescia cada vez mais o desejo de se entregar por inteiro a Deus dentro do Carmelo, mas sua mãe não aceitava, pedindo que a filha esquecesse o Carmelo e nunca mais falasse nisso. Depois de muita luta e oração, a mãe consentiu que a filha entrasse no Carmelo, mas só aos 21 anos. Elisabete esperou mais de 4 anos para entrar no seu tão esperado claustro, mas sua vida no mundo já era uma vida de carmelita.
No dia 02 de Agosto de 1901, aos 21 anos de idade, entrou no Carmelo, recebendo como nome religioso o de Irmã Elisabete da Trindade. De fato, a Trindade seria a fonte de toda vida de Elisabete. Ela vivia mergulhada nos “Três”. “Os meus Três”, assim chamava a Trindade. Elisabete descobriu na Trindade o seu Céu. Vivendo escondida no coração do Pai, ela pedia que o Espírito Santo formasse nela o Verbo, a ponto de quando o Pai olhasse para ela, reconhecesse nela a face de Seu Filho muito amado. Era essa sua prece.
Laudem Gloriae
Elisabete queria ser uma criatura nova, queria ser como que uma nova encarnação do Verbo e assim assumiu seu novo nome dentro do Carmelo, um nome ao mesmo tempo profético, que dizia de toda sua missão nesta Terra e mais tarde no Céu. Depois de ler as cartas de São Paulo e meditá-las, ela assumiu seu nome novo, o nome de “Laudem Gloriae” (Louvor de Sua Glória, se referindo a Deus). Ela queria ser no seio da Trindade o louvor de Sua glória. Elisabete viveu o grande mistério da inabitação de Deus ( mistério da morada de Deus que habita dentro de nós). Ela sentia Deus dentro dela, como se Ele e ela fossem uma única coisa. A grande mensagem desta vivência é o amor, um convite a deixarmos-nos amar por Deus. Na sua última carta, que escreveu à sua superiora, a Madre Germana ela dizia: “Reverenda Madre, deixe-se amar mais que os outros”! Elisabete em tudo se deixou amar por Deus e assim amada, buscou ser um louvor de glória a este Deus que ela sentia tão íntimo de si.
Hoje Elisabete vem dizer a mim e a você: “Deixe-se amar por Deus”! Deixe que este Deus te ame acima de tudo e seja você para ele também um louvor de Sua Glória! Que sua vida seja um louvor a Deus!
Elisabete deseja que muitos como ela sejam também “Laudem Gloriae” na vivência da vocação própria de cada um. Ser um “Laudem Gloriae” é ser sempre, nas atitudes, uma ação de graças a Deus. Cada um de seus atos, movimentos e pensamentos, cada uma de suas aspirações, ao mesmo tempo em que se enraízam mais profundamente no amor, são como um eco do “Sanctus” eterno. Um “Laudem Gloriae” vive a vida de Deus! É preciso, assim como ela, fazer da nossa vida e das nossas atitudes um louvor de glória a Deus.
Elisabete da Trindade deixou de cantar seu louvor de glória nesta terra no dia 09 de Novembro de 1906 com apenas 26 anos de idade e 4 anos de Carmelita. A partir daí ela se tornava, na eternidade, o perfeito louvor de glória da Trindade. Elisabete tinha como irmã espiritual a querida Santa Teresinha do Menino Jesus. Esta dizia que do Céu faria cair uma chuva de rosas sobre a terra. Elisabete dizia que no Céu sua missão seria a de “levar as pessoas a viver a vida interior, viverem mergulhadas em Deus no mais íntimo de si.” Os Santos são formidáveis!
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No dia 24 de Novembro de 1984, Elisabete foi beatificada pelo Papa João Paulo II e em breve será declarada santa, não por seus méritos próprios, mas por graça e ação de Deus, a quem ela entregou completamente sua vida. Elisabete da Trindade, rogai por nós!
“Ó meus Três, meu Tudo, minha beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a vós qual uma presa. Sepultai-vos em mim para que eu me sepulte em vós, até que eu vá contemplar em vossa luz o abismo de vossas grandezas.” (Beata Elisabete da Trindade)
*José Dimas da Silva é Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Cursando Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).