O ser humano é chamado ao amor e ao dom de si na sua unidade corpórea-espiritual. Feminilidade e masculinidade são dons complementares, pelo que a sexualidade humana é parte integrante da capacidade concreta de amor que Deus inscreveu no homem e na mulher. A sexualidade é um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, se manifestar, comunicar com os outros, sentir, expressar e de viver o amor humano. Esta capacidade de amor como dom de si tem, por isso, uma sua encarnação no caráter esponsal do corpo, no qual se inscreve a masculinidade e a feminilidade da pessoa. O corpo humano, com o seu sexo, e a sua masculinidade e feminilidade, visto no próprio mistério da criação, não é somente fonte de fecundidade e de procriação, como em toda a ordem natural, mas encerra desde ‘o princípio’ o atributo ‘esponsal’, isto é, a capacidade de exprimir o amor precisamente pelo qual o homem-pessoa se torna dom e mediante este dom atuar o próprio sentido do seu ser e existir. Qualquer forma de amor será sempre marcada por esta caracterização masculina e feminina.
A sexualidade humana é, portanto, um Bem: parte daquele dom criado que Deus viu ser muito bom quando criou a pessoa humana à sua imagem e semelhança e homem e mulher os criou (Gen 1, 27). Enquanto modalidade de se relacionar e se abrir aos outros, a sexualidade tem como fim intrínseco o amor, mais precisamente o amor como doação e acolhimento, como dar e receber. A relação entre um homem e uma mulher é uma relação de amor: A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la verdadeiramente humana. Quando tal amor se realiza no matrimônio, o dom de si exprime, por intermédio do corpo, a complementaridade e a totalidade do dom; o amor conjugal torna-se, então, força que enriquece e faz crescer as pessoas e, ao mesmo tempo, contribui para alimentar a civilização do amor; quando pelo contrário falta o sentido e o significado do dom na sexualidade, acontece uma civilização das ‘coisas’ e não das ‘pessoas’; uma civilização onde as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais.
Ao centro da consciência cristã dos pais e dos filhos coloca-se esta grande verdade e este fato fundamental: o dom de Deus. Trata-se do dom que Deus fez chamando-nos à vida e a existir como homem ou mulher numa existência irrepetível e carregada de inexauríveis possibilidades de desenvolvimento espiritual e moral: A vida humana é um dom recebido a fim de, por sua vez, ser dado.
O dom revela, por assim dizer, uma característica particular da existência pessoal, ou antes, da própria essência da pessoa. Quando Deus (Javé) diz que ‘não é bom que o homem esteja só (Gen 2, 18), afirma que ‘sozinho’ o homem não realiza totalmente esta essência. Realiza-a somente existindo ‘com alguém’ e ainda mais profundamente e mais completamente: existindo ‘para alguém’. É na abertura ao outro e no dom de si que se realiza o amor conjugal sob a forma de doação total que é própria deste estado. E é sempre no dom de si, apoiado por uma graça especial, que toma significado a vocação à vida consagrada, forma eminente de se entregar mais facilmente a Deus só, com um coração indiviso para o servir mais plenamente na Igreja. Em todas as condições e estados de vida, todavia, este dom torna-se ainda mais admirável pela graça redentora, pela qual nos tornamos participantes da natureza divina (2 Ped 1, 4) e somos chamados a viver juntos a comunhão sobrenatural de caridade com Deus e com os irmãos. Os pais cristãos, até nas situações mais delicadas, não podem esquecer que, como fundamento de toda a história pessoal e doméstica, está o dom de Deus.
Enquanto espírito encarnado, isto é, alma que se exprime no corpo informado por um espírito imortal, o homem é chamado ao amor nesta sua totalidade unificada. O amor abraça também o corpo humano e o corpo torna-se participante do amor espiritual. À luz da Revelação cristã lê-se o significado inter-pessoal da própria sexualidade: A sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual, marcando toda a sua expressão. Esta diversidade, que tem como fim a complementaridade dos dois sexos, permite responder plenamente ao desígnio de Deus conforme a vocação à qual cada um é chamado.
Fonte: Vaticano