Iraque: Há anos, estamos acompanhando a crescente tensão na qual vivem os cristãos onde são estes são minoria
A mesma região em que o Verbo se fez carne e onde surgiu o Cristianismo, tornou-se, hoje, um dos lugares mais difíceis para aqueles que professam a fé cristã. Do Egito ao Iraque, do Irã a Israel, incluindo os lugares santos, todos estes locais tornaram-se hostis campos de cristofobia e discriminação, até o ponto em que autoridades destas Igrejas dirigem-se a nós cristãos do Ocidente um brado: “Por favor, ajudem-nos!”.
Essas foram palavras literais do bispo auxiliar de Bagdá, Iraque, Dom Shlemon Warduni, falando sobre a situação dos cristãos no seu país. Segundo ele e outras muitas autoridades da Igreja Católica de países do Oriente Médio e da Terra Santa, o futuro dos cristãos é obscuro e extremamente incerto na região.
Há anos, estamos acompanhando a crescente tensão na qual vivem os cristãos onde são estes são minoria. E esta realidade não se cinge ao Oriente Médio e longínquo, em países como China e Coreia do Norte, mas está se espalhando também pela África, onde nossos irmãos também passam momentos difíceis devido à violência.
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Uma recente publicação feita pela Fundação Pontifícia ‘Ajuda à Igreja que Sofre’, uma das maiores instituições católicas de auxílio aos cristãos perseguidos e materialmente necessitados, revela que em 20 países, especialmente no Oriente Médio, após dois anos de guerra civil na Síria, a situação cristã só piorou. E mais: a possibilidade do êxodo completo de cristãos da Terra Santa e demais territórios do Meio Oriente é cada vez mais alta. Em poucas palavras, a Igreja no Oriente poderia desaparecer dentro de poucos anos.
Em lugares como o Iraque, Síria, Egito e Turquia, os fiéis fogem da violência ou são forçados a abandonar tudo em suas cidades de origem devido ao constante assédio de grupos radicais ou o ódio contra a fé cristã.
Para os cristãos do Oriente Médio, os eventos da chamada “Primavera Árabe” não vieram de um clima primaveril de convivência. Muito pelo contrário, esta “primavera”, nas palavras do Cardeal libanês Bechara Boutros Rai, tornou-se um “inferno de sangue e fogo em massacres e destruições, precisamente quando o povo aspirava a uma nova vida e a reformas em um universo de globalização”. Por esta situação vivida por cristãos em tantos países do Oriente, podemos estimar que o século XX, provavelmente, deu à Igreja mais mártires do que qualquer outro momento de sua história bimilenar.
Assombra ainda ver como o derramamento de sangue dos cristãos parece um efeito dominó que se espalha pelo Oriente inteiro, a ponto de vermos, em países como Indonésia, Índia e Paquistão, uma verdadeira onda de atrocidades e marginalização dos cristãos, assim como injustas condenações e mortes cruéis de milhares de fiéis que pagam com sangue o preço da fé.
Neste dia 9 de dezembro, o Papa Francisco, na homilia de sua Missa diária, na Casa Santa Marta, no Vaticano, concelebrada com o Patriarca Copto dos Católicos de Alexandria, Egito, Dom Ibrahim Isaac Sidrak, pediu uma vez mais pelos cristãos do Oriente Médio: “Rezemos para que, na Terra Santa e em todo Oriente, a paz se eleve de novo após paradas recorrentes e dramáticas, e que, efetivamente, cessem para sempre a inimizade e as divisões”, disse o Pontífice.
Francisco, desde que assumiu o pontificado, vem pedindo aos católicos que vivam a solidariedade com aqueles que estão nas periferias da existência. Hoje, nossos irmãos cristãos do Oriente Médio estão naquelas periferias, às quais Francisco se referiu, sofrendo fome, abandono, assassinatos e outras tantas injustiças. Recordemos que muito antes da internet ou das telecomunicações, a Igreja esteve sempre “conectada”, unida pelo mistério da comunhão dos santos e na oração dos fiéis. Isso nos garante que, apesar de tanta dor, o sangue dos mártires continua sendo “semente de novos cristãos” pelo mundo afora.
Por isso, nós cristãos no país com mais católicos no mundo não podemos ser indiferentes à situação destes nossos irmãos. Lembremo-nos de que a nossa geração poderia ser a última que viu a presença cristã no Oriente Médio. Comprometamo-nos, então, a rezar neste Advento, para que Jesus, que nesta região se fez Menino, conceda a estes cristãos o dom da paz, da unidade e da perseverança. E tenhamos a certeza de que, apesar da distância, nossa oração pode chegar a qualquer lugar do mundo pelas mãos de Maria Santíssima, a Rainha da Paz.
Rafael Tavares
Editor-Chefe da Agência ACI Digital