A aventura vivida pelos primeiros discípulos de Jesus foi marcada pela figura de João Batista, que soube desaparecer diante daquele que é o verdadeiro “Cordeiro, que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1, 29-34). Sua missão foi de precursor, abrindo espaço para Aquele que deveria vir, Redentor, Salvador, Filho de Deus feito homem, Cordeiro que tira o pecado do mundo, expressões provocantes que parecem de outras épocas e são atuais no “tempo que se chama hoje” (cf. Hb 3,13).
O domínio crescente da técnica em seus diversos âmbitos tem suscitado desconfiança em muitas pessoas quanto às perspectivas de salvação oferecidas pela religião. Parece que tudo ficou resolvido, pois temos remédios suficientes, novas soluções cirúrgicas, perspectivas de controlar as forças da natureza, previsões meteorológicas mais precisas e daí por diante. Tornamo-nos donos do mundo e não precisamos de Deus? Será que precisamos de salvação ou de um salvador? A pergunta é recorrente em muitos ambientes e no interior de muitas pessoas.
Quando Deus é apresentado como um quebra-galho, ou a prática religiosa é considerada uma estrada para eventual prosperidade, que pouco a pouco se revela fátua, dura muito pouco a religião. Se Deus é visto como guarda de trânsito a vigiar os passos das pessoas para multá-las com penas de várias categorias, ou ainda se alguém quiser criar alguma espécie de divindade à sua imagem e semelhança, não é este o cristianismo.
Para que se tire o pecado do mundo, é preciso saber o que significa isso! Se pecado for uma infração a um código de comportamento, ou apenas aquilo que me dói, não chegamos à profundidade da indicação feita por João Batista a respeito de Jesus Cristo.
Afinal de contas, o que é o pecado e de que mesmo Jesus veio nos salvar? A resposta é construída a partir de um encontro com o Senhor Jesus Cristo, no qual Ele mesmo nos revela que o amor de Deus é o ponto de partida. Saber-se amado e acolhido pelo Pai é condição para compreender o conceito de salvação na compreensão cristã. Pecado é ser infiel a um pacto de amor, a uma aliança de vida que resulta de tal encontro. Trata-se primeiro de uma amizade profunda que, rompida, prejudica primeiro à parte que lhe é infiel. Não é que Deus fique lá do alto chorando pelas nossas faltas, pois Ele é Amor que se manifesta em toda a sua exuberância quando perdoa. O prejuízo é todo nosso quando não acolhemos Sua oferta de amor. Temos nas mãos o tesouro mais precioso e provocante, entregue à nossa liberdade. Dá trabalho saber o que fazer com ele!
Um homem ou uma mulher, quem sabe a pessoa mais inteligente do mundo, com possibilidades de resolver a maior parte dos problemas de sua vida, não há de se sentir limitada ao professar a sua fé, que não limitará seus conhecimentos, mas ampliará em profundidade e horizonte o seu ser. Trata-se de encontrar o sentido da existência num encontro de amor com alguém em quem se crê. E crer é uma escolha livre que conduz a apostar em Deus e só em Deus para viver. O resto será consequência! Sua escolha de fé se revelará inclusive esclarecedora das descobertas que a ciência puder oferecer-lhe.
No âmago de suas decisões, tal pessoa descobrirá que existe um mistério chamado pecado, com o qual pode comprometer os passos dados. E sábio ou culto, jovem ou adulto, doente ou sadio, empregado ou desempregado, verá brotar dentro de si o grito pela salvação, que só pode vir de Deus. E pedirá perdão, e ficará feliz quando ouvir “eu te absolvo de teus pecados!” Trata-se aqui de cada um de nós!
O anúncio de libertação plena vem da voz de João Batista que ecoa pelos séculos: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Ele que tudo pode e tudo sabe, que vive desde sempre (eu creio!), caminha pelas estradas do mundo e pelos atalhos de minhas perguntas, amor que se imola para que se restaure o amor nesta terra (eu amo!) e semeia rumo novo para a vida das pessoas (eu espero!).
Descobrirei que a paz que Ele oferece não existe no mundo e sairei anunciando que é bom viver! Tendo nas mãos o estandarte da salvação que vem do Cordeiro, que tira o pecado do mundo, Jesus Cristo, visitarei todas as situações humanas nas quais estou envolvido, em Seu nome levarei sentido às dores e dramas das pessoas, às suas alegrias e esperanças. A maior ciência será a do amor. “Eu vi e dou testemunho!” (Jo 1, 34)