Repete-se tantas vezes o que está na oração que Jesus ensinou, mas não se penetra fundo no sentido das palavras: Seja feita a vossa vontade.
Quem aspira a perfeição, a felicidade, a união com Deus toma como norma de todas as ações conformar, sinceramente, a vontade humana com a vontade divina. Cumpre fusionar as duas vontades. Trata-se de assegurar ao Senhor a submissão total aos Seus desígnios.
O empenho do cristão deve sempre ser trabalhar e determinar-se e dispor-se diligentemente a aderir ao que o Todo-poderoso determinou no Decálogo, nos Conselhos evangélicos, como também no cumprimento do dever de cada hora, de sua tarefa específica, acatando as inspirações do Divino Espírito Santo que apela para um esforço contínuo do aprimoramento de cada um.
A vontade de Deus se manifesta também por intermédio das Autoridades legitimamente constituídas. Quem assim procede recebe do Ser Supremo graças sobre graças. A maior delas é suportar com total paciência as turbulências da vida sem reclamar contra sua Majestade infinitamente sábia que tudo ordena para o bem dos que a amam e servem.
Todos os santos que com Cristo reinam no céu, indubitavelmente chegaram lá pela renúncia à própria vontade e pelo cumprimento da vontade divina, com maior ou menor grau de perfeição. Jesus deu a todos os Seus seguidores o exemplo: Meu alimento é fazer a vontade do Pai que está nos céus (Jo 4,34). Pôde, por isso mesmo asseverar: Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus (Mt 7,21). É um dogma de fé e uma verdade filosófica que Deus criou, rege, governa e tem providência do mundo. Ele dirige todos os acontecimentos e dispõe todas as coisas com número, peso e medida, para que, em último termo, tudo ceda sempre a Sua maior glória e bem das almas. Deste modo, a vontade de beneplácito consiste em submeter cada um sua vontade a todos os acontecimentos providenciais que ocorram dentro e fora de si, permitidos e queridos por Deus para Seu louvor e salvação de cada pessoa.Tudo vem do querer positivo e permissivo do Criador.
Tais acontecimentos podem ser prósperos ou adversos para cada um, agradáveis ou desagradáveis, bons ou temporalmente maus, mas Deus sabe o que é melhor para Seus filhos. Jó deixou a célebre advertência: “Se recebemos os bens da mãos de Deus, porque não recebermos também os males?” (Jó 2,10). José do Egito, Tobias e tantos outros personagens do Antigo Testamento foram provados pelo Soberano Senhor, mas, submetendo-se a Ele, obtiveram bênçãos extraordinárias.
São Francisco de Assis, Santo Antônio de Pádua, Santa Teresa de Jesus queriam o martírio e desejavam pregar a fé aos infiéis, mas não lograram seu intento, porque o Senhor os destinava a outras missões. É o ser humano que deve se submeter a Deus e não Deus ao ser humano. É uma questão elementar de inteligência a criatura estar de acordo com o Criador, o ser contingente com o Ser Necessário, quem é finito com o Infinito.
Quando a cruz pesa, os trabalhos molestam, as tribulações abatem, as perseguições ofendem, as enfermidades doem, a resignação não poucas vezes falta e muitos se revoltam contra a Providência Divina.
Grandes são as vantagens de se hipotecar a vontade a Deus, pois isso ocasiona a purificação da alma, o aumento dos méritos, a paz interior, a imperturbabilidade. Para isso nada melhor do que viver na presença de Deus, repetindo sempre a Ele: “Senhor, vossa graça me basta e é ela que vos imploro”.