Mariana acorda com o despertador alto em seus ouvidos. Vai ao banheiro e, no caminho, dá uma olhada no aplicativo para saber a previsão do tempo e o que vestir naquele dia. Escolhe a roupa enquanto verifica se, na noite anterior, esqueceu de responder alguma mensagem.

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Prepara o café da manhã das crianças e, simultaneamente, assiste, pelo celular, a um vídeo que uma amiga havia lhe enviado um dia antes. Ao tomar o café, analisa as primeiras notícias do dia. Na ida para a garagem, abre o aplicativo de trânsito, afinal, tem que fazer a melhor rota. Coloca as crianças no carro e segue em direção à escola, ouvindo o rádio.
Quando chega ao trabalho, já recebeu e processou uma enxurrada de dados, alertas e estímulos. Ou seja: nas primeiras duas horas do seu dia, Mariana absorveu mais informações do que o seu cérebro é capaz de armazenar de forma saudável. O resultado disso é que, com a mente cheia, torna-se difícil silenciar os pensamentos, ouvir as pessoas e concentrar-se para viver bem cada experiência do dia.
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A vida de Mariana é comum à de muitas pessoas nos dias de hoje. O que talvez elas não percebem, no entanto, é que esse excesso de informação tira de cada um aquilo que os torna verdadeiramente humanos: a capacidade de pensar sobre as coisas, de estar presente nos fatos e de sentir as experiências. A boa notícia é que somos livres para escolher. Podemos decidir viver de modo mais íntegro cada acontecimento e silenciar a mente do barulho ao redor. É possível selecionar o que, de fato, vai nos acrescentar e nos tornar melhores. Para isso, precisamos resgatar o velho hábito de meditar.
A Virgem Maria meditava sobre todas as coisas
A Bíblia fala, no Evangelho de São Lucas, que Maria guardava as grandes experiências de sua vida. Depois da visita dos pastores na noite do nascimento de Jesus, o evangelista afirma: “Maria, porém, conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). Após o episódio do menino Jesus perdido e reencontrado no Templo, Lucas diz novamente: “Sua mãe guardava todas estas coisas no coração” (Lc 2,51).
Essa atitude da Mãe de Jesus revela três virtudes espirituais imprescindíveis para quem não quer se perder no excesso de barulho e encontrar no silêncio a maturidade humana e espiritual: a humildade, a sabedoria e o discernimento.
O silêncio é um ato de humildade
Qualquer diálogo começa com a escuta. Diante de uma Revelação de Deus ou de alguém que nos entrega o seu sagrado, é preciso recolhermo-nos em nosso interior a fim de contemplar o que nos está sendo dado. Não podemos nos precipitar nas palavras porque não temos todas as respostas. É necessário deixar que a verdade nos encontre até compreendermos qual a nossa participação naquele mistério.
O silêncio dá sabedoria
O ato de silenciar nos faz captar a realidade não apenas com os nossos sentidos e a razão limitados. Faz-nos entender as coisas com um elemento a mais, que é a fé e a inteligência espiritual. O silêncio nos fornece tempo para uma compreensão mais profunda e para analisar a realidade de vários ângulos, ligando-os entre si, a ponto de tomar consciência das coisas a partir dos insights vindos do próprio interior.
O silêncio nos proporciona o discernimento
Muitas vezes, o barulho interno e externo nos impedem de ouvir as respostas que estão dentro de nós. Após uma análise mais detalhada de uma situação, é possível que a verdade salte aos nossos olhos. É assim que poderemos entender qual a resposta, a direção ou a decisão a tomar.
Aprendendo com Nossa Senhora
A Mãe de Jesus é modelo de interioridade porque soube ouvir, e por isso deixou-se moldar por Deus a partir dos acontecimentos de sua vida. Portanto, para não submergirmos pelo excesso de informação que nos rouba a possibilidade de aprender com o que vivermos no dia a dia, devemos calar os barulhos internos e externos, e perguntarmo-nos diariamente:
Onde Deus esteve hoje? O que Ele quis me ensinar? O que eu preciso guardar e o que eu preciso deixar ir? As respostas a essas perguntas não estarão nos aplicativos nem em nenhum dispositivo externo. Também não serão encontradas em meio à enxurrada de informações que só ocupam espaços em nossa mente. Elas virão da vivência dos acontecimentos ordinários com inteira presença.






