Agostinho foi um grande santo da Igreja católica, filósofo, teólogo, bispo e fundador de uma regra monástica que deu origem a inúmeras comunidades religiosas. Porém, o marco em sua vida foi a sua conversão, tornando-se um exemplo para todas as pessoas que buscam um modelo de vida a seguir.
O centro dessa história de conversão encontra-se na ajuda de Deus e de inúmeras pessoas.
Foi a Sagrada Escritura que, por meio de um versículo bíblico, mudou os rumos da sua vida.

Créditos: Domínio Público.
A juventude de Santo Agostinho
Aurélio Agostinho nasceu no ano de 354 em Tagaste, no continente africano. Filho de Patrício e de Mônica, foi educado cristãmente pela mãe na infância. Todavia, o seu batismo foi adiado, algo comum naquela época, pelo receio de que os jovens não seguissem fielmente o Evangelho.
Infelizmente, o que a família temia se cumpriu. Aurélio, atraído para uma vida de prazeres, más companhias e divertimentos nos jogos e bebidas, procurou saciar as suas paixões no mundo. Mas era uma pessoa inquieta, ao mesmo tempo que buscava o prazer, era atraído pelos estudos.
Após a morte do pai, iniciou a carreira acadêmica em outra cidade, Cartago. Foi nesse período que teve um filho, Adeodato, com uma jovem daquela cidade.
Podemos dizer que a sua conversão foi um processo que tem as suas origens na filosofia pagã. Ao conhecer o filósofo e orador Cícero, através do livro chamado Hortêncio, Agostinho aprendeu que existe uma Bem-Aventurança a ser buscada, e isso deixou na alma do jovem uma preocupação com a vida após a morte. O filósofo afirmava que a nossa vida continua depois da morte, e que cabe a cada um conduzir os afazeres pensando nisso.
O desafio maior de Agostinho era mudar definitivamente de conduta, pois preferia seguir os filósofos aos ensinamentos de Cristo, por achá-los simples demais. E por não acreditar nos preceitos do Evangelho, não tinha coragem de abandonar a sua vida prazerosa em busca de um bem maior. Foi assim que ele encontrou a filosofia dos Maniqueístas.
O maniqueísmo e a indisciplina
Sentindo um vazio da existência humana, Agostinho procurou, na seita maniqueísta, uma forma de responder aos seus questionamentos, no qual ele pensava que fossem de natureza filosófica e religiosa.
O Maniqueísmo é uma doutrina filosófica que surgiu na Pérsia com o considerado profeta Manes, uma doutrina herética que explica o mundo através de um dualismo eterno: o bem e o mal, as luzes e as trevas, a matéria e o espírito que coabitavam harmonicamente no mundo. Para eles, o bem e o mal eram necessários para conduzir o universo e podiam conviver entre si. Contrário à doutrina cristã, mais tarde o próprio Santo Agostinho escreverá: “A liberdade humana é a capacidade de escolher entre dois bens e não entre um bem e um mal. O pecado não é uma opção que eu possuo, somente somos livres se buscamos o caminho de Deus”.
Agostinho convenceu muitos de seus amigos a serem maniqueístas, todavia, não conseguiu persuadir a sua santa mãe. Foi um período passageiro na sua vida, pois, desapontado com a indisciplina, falta de interesse e desrespeito de seus alunos, mudou-se para Milão, onde abriu uma escola de retórica e ensinava a filosofia de Platão. Foi nesse local que sua mãe encontrou a ajuda espiritual do bispo Ambrósio, que logo chamou a atenção de Agostinho através de seus sermões e começou a dar a ele explicações da doutrina cristã.
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Acontecimentos que o levaram a conversão
Agostinho tinha um desejo de encontrar a verdade, não sabia onde ela estava, mas tateava à sua procura. Os seus estudos representavam essa busca, como se encontra no livro das Confissões: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”.
Apesar que o seu grande desafio era ter uma vida celibatária e casta devido a tantos anos de prazeres desregrados, também tinha uma outra dificuldade, vivia uma união ilegítima, pois coabitava com a mãe de seu filho Adeodato. Foi graças a amizade e os conselhos de Mônica, que a própria jovem regressou para a África e viveu a fé cristã.
Certo dia Agostinho recebeu a visita de um cristão que era seu conterrâneo chamado Ponticiano que viu sobre a sua mesa as cartas de São Paulo e se surpreendeu com esse fato. A partir daquele momento, o assunto girou em torno das conversões de pagãos a fé católica. Quando Ponticiano foi embora, Agostinho exaltado e indignado consigo, comentou com seu amigo Alípio: “- O que acontece conosco, o que acabamos de escutar? Os ignorantes se levantam e se apoderam do céu, e nós com toda a nossa ciência, mas sem juízo, estamos cavando com um miserável desejo no chão da carne e do sangue.
Os dois foram para o jardim e Aurélio Agostinho, frustrado consigo mesmo, sentou-se debaixo de uma figueira. Naquele momento ouviu a voz de um menino que parecia jogar enquanto cantava: “Toma e lê! Toma e lê!”
Sem ver a criança e surpreso com a canção, Agostinho, entendeu que a frase parecia ser a resposta de Deus aos seus questionamentos. Correu para dentro da casa e no primeiro livro da bíblia que viu, tomou e leu. Era a carta de São Paulo aos Romanos, o capítulo 13 e versículo 13: “Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites”
Deus foi claro e direto com Agostinho, encontrou a partir daquele momento a vontade que precisava para abandonar os prazeres pecaminosos. Aquele episódio foi um sinal de que Deus não queria o seu filho naquela devassidão. O filho pródigo deveria sair de suas imundícies e voltar para junto do pai. Assim o fez, naquele Natal, recebeu o batismo junto do filho Adeodato e seu amigo Alípio. Uma conversão difícil e que foi fruto de trinta anos de orações de sua santa mãe.
Alguns dias depois, Adeodato morreria, abalando fortemente Agostinho que interpretou como mais uma renúncia em sua vida. Ele passou a viver como um monge e mais tarde, foi ordenado bispo de sua cidade natal. Antes de sua morte, viu a destruição do Império Romano com a chegada dos bárbaros e o fim da Idade Antiga. Ele é considerado junto de Santo Ambrósio, Jerônimo e Gregório Magno, como os primeiros doutores da Igreja no ocidente.
Santo Agostinho, rogai por nós!
Padre Welison Borges de Lima
Diocese de Anápoles/GO
Mestre História da Igreja – Pontifícia Universidade Gregoriana/Roma