São Filipe Néri, o santo da alegria
A felicidade é objeto da busca humana desde o início dos tempos. É natural ao homem e à mulher que, diante daquilo que experimentam em vida, optem sempre pelo que lhes traga maior prazer ou alegria. Contudo, o mundo parece cruel demais, como se a todo o tempo tentasse roubar a felicidade humana. Trabalho, dificuldades, brigas e diversos outros elementos presentes no nosso cotidiano acabam nos impulsionando mais à reclamação do que ao sorriso. Acontece, porém, que a felicidade é um imperativo para os cristãos. “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!”, escreveu São Paulo (Fl 4,4). Não se trata de um convite, mas de uma ordem que, mais do que prender o olhar nas dificuldades da vida, nos leva a contemplar Deus e sua infinita bondade.

Crédito: Sebastiano Conca/Domínio Público
Testemunho dessa felicidade que vem do Senhor é São Filipe Néri, que ficou conhecido como “o santo da alegria”. Nascido em 1515 na Itália, tornou-se um sacerdote cuja principal marca era justamente o amor e a bondade ao tratar as pessoas ao seu redor. O Catecismo da Igreja Católica afirma que “o progresso espiritual envolve ascese e mortificação, que levam gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças” (CIC n. 2015). Deus quer que vivamos plenamente desde agora, mas para isso precisamos também suportar as dificuldades que surgem.
“Eu prefiro o paraíso!”
São Filipe Néri compreendeu isso. Conhecido também pelas penitências que fazia, ele afirmava que “os sofrimentos deste mundo são a melhor escola do desprezo do mundo: quem não se matricular nesta escola, merece dó, porque é um infeliz”. Esta infelicidade deriva de um apego às coisas terrenas, opostas ao que vem do alto.
Seguindo esta lógica, concluímos que é feliz aquele que consegue suportar os sofrimentos e provações, que “produzem a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança” (Rm 5,3-4). A esperança da qual São Paulo fala não é a mera expectativa por dias melhores neste mundo, mas a certeza de que Deus tem muito mais para nós.
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Foi diante desta esperança que São Filipe Néri aprendeu a bradar “eu prefiro o paraíso!”, um grito que precisa ecoar como um lembrete constante em nossos corações do que realmente nos faz felizes. Eu fico impressionado com o poder que a murmuração tem perante os homens. Basta uma pessoa reclamar, ainda que baixinho, da demora na fila do banco que todos os outros logo se unirão em um coro azedo de críticas.
Um coração dilatado de alegria
A impetuosidade que temos para reclamar deveria ser, na verdade, para resistirmos aos sofrimentos e nos mantermos alegres. “Longe de mim, o pecado e a tristeza”, exclamava São Filipe Néri. O que nos falta para termos a mesma resiliência diante da dor? Pois bem, a alegria é um dos frutos do Espírito Santo (Gl 5,22-23), e aí está a nossa resposta. Somente alguém cuja vida é repleta da graça que vem do Espírito Santo – e a palavra grega para “alegria”, que é “chara” (χαρά), significa justamente proveniente da graça – pode ser verdadeiramente alegre.
Mais uma vez, São Filipe Néri é exemplo disso. Durante uma vigília de Pentecostes, o padre sentiu seu coração se encher de alegria, e uma bola de fogo surgiu diante dele. Ela entrou por sua boca e pousou em seu coração, que se dilatou para poder comportar tamanho amor. Após sua morte, foi verificado que duas de suas costelas se quebraram por conta deste fato.
Que possamos então clamar pela ação do Espírito Santo em nossas vidas para que, pela intercessão de São Filipe Néri, sejamos cheios da graça de Deus e da alegria que vem da esperança de um dia estarmos na presença d’Ele no céu.
Gabriel Fontana
Jornalista da Comunidade Canção Nova