O dia do nascimento de uma criança é, normalmente, marcado por grande alegria, alegria esta que começa muitos meses antes, naquele dia em que alguém descobre: “Estou grávida!”; no entanto, a descoberta de uma gravidez nem sempre é acompanhada de sentimentos assim.
Às vezes, a depender do que se vive, os sentimentos são bem diferentes como medo, vergonha, preocupações etc., também Maria de Nazaré, Mãe de Jesus, mesmo sendo santa e imaculada, experimentou, no contexto da sua “gravidez inesperada”, sentimentos (se não iguais, mas) semelhantes. Sabe quando o anjo disse: “Não tenhas medo” (Lc 2,30) ou “como se dará isso?” (Lc 2,34) e “ela ficou perturbada” (Lc 2,29)? Tudo isso demonstra que a humanidade de Maria, mesmo preservada do pecado, ainda assim podia ter sentimentos muito naturais e compreensíveis de uma mulher nessa situação…
É portanto, nesse contexto de gravidezes inesperadas, que nosso pensamento se volta para tantas mulheres, “outras marias” que, em algum momento de uma gestação, não sentiram “aquela alegria”; e sem terem ainda toda clareza sobre quem de fato traziam em seu ventre materno, foram tentadas a tirar a vida da criança que um dia lhes traria tanta alegria e de algum modo instrumento de salvação, como na vida de Maria de Nazaré (São João Paulo II – Maria, singular cooperadora da Redenção: Audiência do dia 09 de Abril de 1997); mas essa história você já conhece, por isso hoje lhe contarei a história de “outra Maria”.
Essa “outra Maria” é muito diferente da Maria de Nazaré da Bíblia, pois, ao contrário da primeira, não é imaculada, não viveu sem pecados, não foi santa nem muito menos é mãe de um Santo, também não é de Israel, não fala hebraico ou aramaico. E, sem receio de desanimar o leitor, já no início do texto, eu confesso que essa história não é nem um pouco perfeita como a da Maria de Nazaré, quase tudo entre elas é realmente “bem diferente”, mas para além do nome, há uma única coisa que elas têm em comum: uma “gravidez inesperada”!
A história de uma outra “Maria”
A “Maria” dessa história é uma jovem que, nos seus 18 anos, apaixonou-se por um jovem de cerca de 22, onde ela não era nenhuma (Santa) Maria, tão pouco ele era um (São) José. E, se dentro deles a paixão pudesse os fazer sonhar com uma linda história de “felizes para sempre”, a realidade de fora era totalmente diferente, pois, sendo ele um homem já casado, não poderiam ficar juntos, contudo, apesar da descoberta, da proibição e do distanciamento imposto por ambos familiares, ela um dia descobre: “Estou grávida!”. E, naquele momento, essa “Maria” não sentiu nenhum pouco de alegria, mas chorou de tristeza, teve medo, vergonha e muitas preocupações.
Ela pensou no que muitas “outras marias” também pensam ao descobrirem uma gravidez inesperada: “Eu não posso ter essa criança…”; e a opção mais certa naquele momento parecia ser um aborto… Foi assim que decidiu tomar, primeiramente um chá abortivo trazido por uma amiga, ela colocava o líquido na boca, tentava e tentava engolir, mas não passava da garganta, e acabava jogando tudo para fora, tentava novamente e nada, até que se dá como que por vencida por quem sabe lá, alguma espécie de força de repulsa contrária levando-a a desistir daquele método e assim a criança foi salva pela primeira vez.
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A batalha da vida
“Maria”, muito preocupada, pensava que grande problema seria se as pessoas descobrissem que estava grávida, decide, então, tentar outro método, procura um enfermeiro muito conhecido por fazer abortos na região; tudo certo e preparado, o profissional de saúde começa o procedimento e tenta, e tenta, e tenta pinçar o bebezinho da barriga de “Maria” para a retirada, mas, sem sucesso, ela então começa a ficar incomodada e diz para ele: “pode parar eu não quero mais”, ainda assim ele insiste: “espere mais um pouco, estou quase conseguindo”, ela, porém, com mais firmeza, diz: “não, eu não eu quero mais, pode parar!”. Para o seu espanto, o homem grande e forte, comparado àqueles bebês, acostumado a vencer o desleal combate do “que vença o mais forte” contra eles, foi, naquele dia, vencido por uma incompreensível força de salvação, talvez, quem sabe até aquele momento desconhecida, e a criança foi salva pela segunda vez.
A maior parte das pessoas não sabia que “Maria” estava grávida, ela conseguia disfarçar a barriga que crescia, mas, mesmo assim, parecia que agora o pior já tinha passado para o bebê no seu ventre, parecia que agora ele poderia sobreviver e se desenvolver tranquilamente até o dia do seu nascimento. Mas, na verdade, tudo era só aparência, pois ela seria atingida como que por um tiro à queima roupa pelas balas da tristeza… Era o dia 12 de julho de 1981, quando o jovem, pai da criança, após uma discussão em uma festa, foi baleado e morreu deixando seu filho (e duas filhas do seu casamento) órfão de pai. Assim que soube do seu falecimento, “Maria” sentiu que o sentido da sua vida morria junto com ele, decide, então, cometer o suicídio; e toma vários remédios de uma só vez, por pouco não alcança o veneno de rato, não fosse impedida por uma de suas irmãs, que também a levou para o hospital imediatamente, após os procedimentos médicos, ela sai do risco de morte e fica fisicamente bem, parecia que uma força maior agia e a criança foi salva pela terceira vez.
Sobrevivente da ameaça de aborto
Fisicamente bem? Sim, mas não interiormente, pois, naquela mesma noite no hospital, pensava consigo mesma: “Quando sair daqui, eu vou tentar de novo, quero morrer”. E, de repente, aparece um médico e diz: “Mãe, ele morreu, mas uma parte dele ainda está viva aí dentro de você; é seu filho, não desista da vida!”. Naquele momento, “Maria” encontra um sentido para viver e desiste do suicídio. Com isso, não só a criança estava sendo salva, mas também aquele bebê se tornava instrumento de salvação na vida de alguém pela primeira vez, e essa era sua própria mãe.
Meses depois, “Maria”, apesar de todas as dificuldades, pôde ver o nascimento do seu filho (aquela parte viva dele), e, 26 anos depois, com lágrimas nos olhos, mas agora não de tristeza, e sim de emoção e muita alegria no coração, assistia feliz o seu filho tornando-se um sacerdote. Agora, ela sabia quem era aquele que ela trazia dentro do ventre durante aqueles atribulados nove meses e, mesmo que ele não fosse famoso como Cristiano Ronaldo, Steve Jobs, Andrea Bocelli, Celine Dion, Roberto Bolaños (Chaves) nem santo como São João Paulo II (e outros desconhecidos), tinha algo em comum com todos eles: “sobrevivente da ameaça de aborto”.
Precisamos, como Maria de Nazaré, engravidar-se de Cristo
A história dessa “Maria” não a li nas páginas de um livro, nem vi na telas da internet ou tampouco ouvi nas ondas do rádio, essa na verdade é a história que vivi, é a minha história, é a história do meu próprio nascimento/natal, essa “Maria” é a minha mãe que, de fato, se chama Maria, Maria Suely do Monte, que para homenagear meu falecido pai, Sóstenes Vieira Chaves, me deu o seu nome: “Sóstenes”, que do grego significa “força/forte que salva” ou “poderoso salvador”. Eu, porém, sou fraco, pouco “forte”, muito menos “salvador”, salvador mesmo é Jesus, que me salvou em todas as dimensões, que vive em mim, e não somente permitiu meu nascimento para a terra, mas deseja para mim e para todos nós o nascer/natal para o Alto, onde, quem sabe um dia lá (Céu), vou encontrar aquele que na terra não deu tempo de abraçar.
Maria de Nazaré, Mãe da minha mãe Maria (que amo), de todas “as outras marias” e de todos os filhos entende bem os sentimentos humanos, sejam eles quais forem, como medo, vergonha, preocupações e muitos outros. Mesmo quando a gravidez inesperada e arriscada não significa somente ter no ventre uma criança sinal de vida, mas, sobretudo, quando a gravidez aqui possa significar um coração que se enche de qualquer espécie de morte, é preciso, então, assim como Maria de Nazaré, engravidar-se de Cristo e esvaziar-se de tudo que faz mal, isso vale obviamente não somente para mulheres, mas para homens também.
Mesmo que seu nome não seja Maria ou José, saiba que a gravidez inesperada naquele sentido poderia vir a ser um problema, engravidar-se de Cristo é, na verdade, a solução de todos os problemas, não aborte o menino Jesus dentro de você, deixe a Vida crescer. E, como um novo natal a cada dia, poderá experimentar a alegria das Marias que, com Ela e como Ela, poderá dizer: “Nasceu para nós o Salvador” (cf. Lc 2,11), que é Cristo o Senhor!”.