Esperança sólida

Você tem nutrido sentido à sua vida?

Em 1913, nascia um filósofo fruto de seu tempo, Albert Camus, chamado de “O absurdista”. Esse homem cresceu em meio ao contexto caótico de guerras, decepções com as maldades humanas e questionamentos contra o domínio da técnica ou da estrutura política. Realmente um ambiente instável, situado em sua vida adulta de 2º Guerra Mundial e pós-guerra. Por isso, sua filosofia e seus pensamentos ocupam a sua historicidade.

Ele caracterizou-se por uma filosofia humanista libertária, ou seja, tendo a centralidade no homem e em sua liberdade. Traz consigo o ceticismo e marca a história pelo auge da desesperança. Assim, sua pergunta fundamental é “se a vida vale ou não a pena ser vivida”. Para ele, nada mais importa, nem a metafísica, nem ontologia, crença ou ciência, o que vale é responder esse questionamento. Com a ironia própria da filosofia, ele faz refletir os motivos do suicídio, faz refletir a necessidade de continuar vivendo. (CAMUS, O mito de Sísifo. 1942).

Dessa maneira, afirma categoricamente que a vida não vale a pena ser vivida. Para ele, a vida é infrutífera, sem sentido, e isso é uma verdade incontestável, truísta. Obviamente, por detrás dessas afirmações está o problema filosófico milenar do mal e do sofrimento. Diante dessa questão, que em sua época, e em tantas outras como atualmente, vigorada de modo fatídico pelas guerras e hoje evidenciada pela pandemia. Responder ao mal é perguntar-se por Deus, pelo homem, pelo bem, pela transcendência.

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Consequências do absurdo

O autor acredita que o absurdo apresenta-se na vida humana e questiona a todo tempo, com um ciclo de vai e vem, tendo duas respostas em cima do truísmo: ou o suicídio ou continuar vivendo. A grande tomada de consciência não é descobrir o absurdo, isso todos percebemos, mas é o que ele gera em cada um. Por muitos, o absurdo é descoberto e ignorado, descoberto e respondido com uma ilusão que seria científica, religiosa etc. O raciocinar gera a descoberta do absurdo.

Na proposta de Albert Camus, percebe-se que está envolta de um teor poético e até místico quando se coloca essa vivência estritamente gratuita, sem nada esperar, sem nada iludir-se, uma vida totalmente dedicada à aceitação do absurdo e, ainda por cima, uma felicidade nesse ambiente. No mínimo, é uma realidade desumana na qual se anula as potencialidades humanas e seu desenvolvimento, sua liberdade levada ao extremo sem necessidade de nada, sem dependência alguma a não ser de si mesmo e de sua aceitação da vida absurda. Se não uma proposta desumana, então estritamente pessoal e sem alcance universal e comunitário. Quem seria capaz de conviver e viver sem esperança? Sem sonhos? Sem redenção? Sem sentido?

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A esperança é o sentido da vida

Também cabe comentar a perspectiva do suicídio, no qual é aceito e justificado pelo autor mesmo não sendo a melhor resposta. Essa atitude reflete alguém que perdeu as esperanças e por isso os sentidos de viver, talvez seria a conclusão de muitos que procurassem aderir a obra absurdista. Viver é realmente ter esperança em algo, e por isso nutrir sentido. Dentro desse viés, para o catolicismo, o suicídio é sempre uma realidade que choca, que incomoda e espanta. Obviamente, não é a fonte final do julgamento, mas cria um ambiente de preocupação e comprometimento com tal realidade.

O questionamento fundamental de sua filosofia já nasce sanado, não há o que perguntar-se sobre o valor da vida que é o mais relevante diante da perspectiva cristã. Mas é uma questão compreensível diante do ambiente de Guerras mundiais e de pessoas que depositaram suas raízes mais profundas em esperanças insólitas. Em meio às decepções e frustrações do tempo e do contexto vivido, é compreensível esse tipo de proposta e de solução filosófica, demonstra um viés de alguém que tem medo de sofrer porque não tem esperança, alguém que tem medo de ser enganado e frustrar-se porque ainda não fez a experiência com o fundador do Universo e seu amor redentor. Em Deus nasce a esperança sólida e firme, que se estabelece no hoje projetada para a eternidade.


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.