Reflita

Deus quer extirpar de nós todo apego terreno

A Igreja sempre conviveu com perseguições. O próprio Jesus disse que seremos bem-aventurados quando nos injuriarem, perseguirem e caluniarem por causa do Nome dele. A perseguição, contudo, nunca foi suficiente para calar o Evangelho. Pelo contrário, mostrando que “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos”, como disse Tertuliano, a Igreja continuou a crescer e a Palavra de Deus não cessou de alcançar os corações mundo afora.

Havia cristãos perseguidos nos primeiros séculos da Igreja e há cristãos perseguidos hoje. Não são poucos os lugares em que professar a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo é motivo para ser condenado à morte. No livro “O preço a pagar por me tornar cristão”, um iraquiano de uma família xiita tradicional e bastante rica, descendente do próprio Maomé, relata a sua conversão ao cristianismo, a partir da convivência com um católico no serviço militar obrigatório. Após muita luta contra Deus, ele se rendeu, mas teve que manter, por vários meses, sua fé escondida da sua própria esposa. Seus irmãos tentaram assassiná-lo assim que descobriram que ele havia se convertido, e ele sequer foi acolhido pela comunidade católica local, que temia retaliação, já que, no Iraque, o proselitismo cristão era castigado com a morte. Ele foi preso, torturado, falsamente acusado de participação em atos de terrorismo, quando saiu da prisão seus irmãos novamente tentaram matá-lo, tudo isso por causa do nome de Jesus.

Deus quer extirpar de nós todo apego terreno

Foto Ilustrativa: Nastco by GettyImages

Ele perdeu pai, mãe, irmãos, um patrimônio vasto, conforto – hoje ele vive escondido em algum lugar na França e há uma fatwa, uma sentença de morte contra ele. Mesmo assim, perseverou na fé, assim como incontáveis e anônimos mártires e tantos outros que foram perseguidos, humilhados, despojados de seus bens ao longo dos dois mil anos de história da Igreja. O que levou essas pessoas a perseverar na fé? Todos eles receberam a graça de compreender que estavam trocando o nada pelo Tudo, que as riquezas desse mundo, a segurança, os amores e o conforto não são nada comparados a Cristo, por quem vale a pena viver e morrer, se necessário. O único bem que não se pode perder é Jesus.

Deus é o caminho para nossa salvação

Quando Deus quer uma alma mais perto de si, nos ensina Santo Afonso de Ligório, ele providencia meios para extirpar todo apego terreno, “a fim de que as afeições possam ser colocadas somente n’Ele”. Essas pessoas experimentaram tudo isso, mas nós não somos isentos só porque hoje, no Brasil, podemos viver com muita tranquilidade a nossa fé. Talvez até por isso seja tão difícil nos desapegarmos dos “bens temporais, dos prazeres mundanos, das propriedades, honras, amigos, parentes e saúde física”. Se não somos chamados a sofrer perseguição ou martírio por causa do nome de Jesus, Deus certamente tem nos enviado provações na saúde, na vida financeira e nos relacionamentos para nos desapegarmos deste mundo e nos apegarmos somente a Ele.

O que temos feito? Temos mortificado nossa própria vontade e nos unido à vontade de Deus ou temos esperneado como crianças malcriadas que só querem tudo do seu próprio jeito?

O chamado de Deus não é um passeio no parque. Quem quer seguir a Cristo deve se preparar para enfrentar o calvário como Ele mesmo o fez. Se não nos desapegarmos das coisas terrenas, seremos incapazes de carregar a nossa própria cruz e sucumbiremos quando a doença chegar, quando a crise financeira nos atingir, quando o fim de um matrimônio acontecer. São todas realidades tristes e indesejáveis, mas que Deus pode permitir como caminho de santidade para uma alma, para que ela aprenda que “o amor de Deus e a perfeição não consiste em sentimentos de ternura e consolação, mas em superar o amor próprio e em seguir a vontade divina”.

Leia mais:
.: Viver as provações permite trilhar um caminho de maturidade
.: Provação ou Tentação?
.: Não seja desleixado com sua vida espiritual
.: Na vida, precisamos aprender a desapegar para aliviar a alma 

O amor a Cristo

Joseph Fadelle, o iraquiano que se converteu ao catolicismo, sabia as consequências terríveis de abandonar sua fé e tornar-se cristão, mas ele teve mais amor a Cristo do que à própria esposa, à família, aos seus bens e até à própria vida, seguindo à risca o que ensina o Evangelho: “Quem amar seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim; quem amar seu filho ou sua filha mais que a mim, não é digno de mim. Quem não tomar sua cruz para seguir-me, não é digno de mim. Quem se agarrar à vida irá perdê-la, quem a perder por mim a conservará” (Mt 10, 37-39).

Esforcemo-nos mais para amar mais a Deus, abandonando a nossa vontade e aceitando o que Ele quer. Rezemos, com Santa Faustina, para nos desapegarmos dos nossos desejos, dos nossos afetos terrenos e desejar apenas o Amor eterno: “Fazei de mim o que Vos aprouver, Senhor, dai-me apenas a graça de Vos amar cada vez mais; é isso que me é mais caro, nada desejo além de Vós – Amor eterno. Não importa por quais caminhos me conduzireis – dolorosos ou alegres. Eu desejo amar-Vos em cada momento da minha vida. Se me mandardes ir, Jesus, para cumprir a Vossa vontade – irei. Se me mandardes ficar – ficarei. Não importa o que terei que sofrer, numa hipótese ou na outra. Não importa o que está reservado para mim nesse cálice; é suficiente que eu saiba que ele me foi dado pela mão amorosa de Deus” (Diário de Santa Faustina, n. 751).

banner_espiritualidade