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O céu e o inferno existem. Onde nós merecemos estar?

Dois temas comumente evitados na vivência da nossa fé são o céu e o inferno, mas deste último fala-se ainda menos. Às vezes, tem-se a impressão de que todos os caminhos levam ao céu. Não importa o que façamos, não importa como vivamos nossa vida, parece que sempre haverá um jeitinho de escapar da larga estrada que conduz à perdição. Mas não é isso o que Nosso Senhor nos ensina: “Lutai para entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos tentarão e não conseguirão”.

Infelizmente, a maioria de nós vive como se o inferno não existisse, como se não houvesse consequências para as nossas ações. Ainda que sejamos mentirosos, invejosos, orgulhosos, adúlteros e ladrões, Deus nos acolherá em Sua presença, desde que invoquemos e exaltemos seu Santo Nome. Mais uma vez é o próprio Jesus que nos corrige: “Nem todo aquele que me disser: Senhor, Senhor! entrará no reino de Deus, mas aquele que cumprir a vontade de meu Pai do céu”.

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Você pensa sobre o céu e o inferno?

Mais do que crer no inferno, precisamos meditar sobre ele, sobre o que significa ser condenado. Lá, como ensina Santo Afonso Maria de Ligório, “passarão todos os séculos e o inferno estará em seu princípio”. Nem conseguimos imaginar o que é sofrer suplícios eternos, ver passar o tempo em meio às penas e não ter esperança de que elas cessarão. O alerta de São João da Cruz, de que “por causa de prazeres passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos”, serve para todos nós.

Um passo adiante nessa meditação é pensar quantas vezes já merecemos o inferno. Conta-se que alguns santos nunca pecaram mortalmente, mas acredito que isso seja uma condição excepcionalíssima. Sei que eu já incorri incontáveis vezes em pecado mortal e talvez seja essa a sua situação. Se já me confessei e fui absolvido, de que serve pensar nisso? Para reconhecer o amor e a misericórdia de Deus para conosco: “Louvado sejas, Senhor, pois diversas vezes mereci o inferno, mas vós não me precipitastes nele, dando-me novas chances de me emendar”.

Se o inferno é um tema que pouco aparece na nossa vida espiritual, não é menos verdade que temos enorme dificuldade para pensar sobre o céu, o paraíso. Como somos governados pelos sentidos, toda representação que se vê do céu tende a se basear neles. Ocorre que como esse mundo é o império dos sentidos, não dá para o céu “concorrer” com os prazeres sensuais que já encontramos aqui na terra. Será possível encontrar no paraíso alguma comida que satisfaça mais o nosso paladar do que aquelas que já encontramos nos banquetes de que participamos? O mesmo pode se dizer dos aromas, dos sons, das belas imagens e do tato. Nosso mundo é especialista em agradar os sentidos, então toda representação mundana do céu parece boba, sem graça, chata, a ponto de parecer mais “legal” ir para o inferno, onde há mais “agitação”.

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Como é entrar no céu?

Deveríamos sair dessa dimensão superficial e meditar sobre o que realmente significa entrar no céu. Isso, contudo, não é fácil. Tanto é assim que Jesus sempre recorreu a muitas imagens para descrever o Reino dos céus: um tesouro escondido no campo, uma rede lançada ao mar, uma pérola preciosa, o fermento sobre a massa, o grão de mostarda que cresce e se torna enorme…

Santo Afonso Maria de Ligório nos ajuda demais a imaginar que tipo de tesouro encontraremos no céu. Lá veremos, “a descoberto e sem véu, a beleza infinita de Deus, e é nisto que consistirá o gozo do bem-aventurado”. Enquanto estamos nesse corpo mortal, somos incapazes de ver a Deus, porque nos prendem os nossos sentidos. Uma vez tirado esse véu, veremos, diz o santo, “o amor imenso que Deus nos mostrou em fazer-se homem e em sacrificar por amor a nós sua vida na Cruz”. Finalmente conheceremos “o amor excessivo encerrado no mistério da Eucaristia: ver um Deus posto presente sob a espécie de pão e feito alimento de suas criaturas”.

Pense na sua eternidade

Tudo o que nós virmos no céu nos fará conhecer a bondade infinita de Deus e nós como que seremos “submergidos no mar infinito da bondade divina”. Não podemos nos perder no que nos dizem nossos sentidos, mas fiar-nos na promessa de Cristo, Nosso Senhor: “Vou preparar-vos um lugar”.

Não perca tempo: reflita muito sobre a morte, o céu, o inferno, sobre seus pecados e pense que “tudo quanto se faça para evitar uma eternidade de penas é pouco, é nada”. Por isso, exclame: “Eis-me aqui, Senhor: quero fazer tudo o que de mim quiserdes”.

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