A Amoris Laetitia trata profundamente a questão do casal em segunda união; pessoas divorciadas que vivem numa nova união. Recomenda que é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas”.
É necessário tornar-lhes mais acessíveis, ágeis e, possivelmente gratuitos, todos os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade. A lentidão dos processos irrita e cansa as pessoas. O Papa Francisco já autorizou que o próprio bispo na sua Igreja, da qual está constituído pastor e chefe e, por isso mesmo, é juiz no meio dos fiéis a ele confiados. É uma grande responsabilidade para os bispos diocesanos, chamados eles próprios a julgar algumas causas e a garantir, de todos os modos possíveis, um acesso mais fácil dos fiéis à justiça.
Para agilizar os processos de solicitação de nulidade, é necessário a preparação de pessoal suficiente, clérigos e leigos, que se dedique de em tempo integral a este serviço da Igreja.
A Igreja precisa estar do lado das famílias
É necessário colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à pastoral familiar, que possa também acolher as pessoas e orientá-las.
O Documento chama a atenção para outro aspecto da vida dos casais divorciados: é a situação dos filhos; eles não devem carregar o fardo da separação; que eles não sejam usados como reféns contra o outro cônjuge, mas cresçam ouvindo a mãe falar bem do pai e vice-versa.
O divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do número de divórcios. É preciso reforçar a beleza do amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo.
O matrimônio cristão é análogo à união entre Cristo e a sua Igreja (Ef 5,25), realiza-se plenamente na união entre um homem e uma mulher, que se doam reciprocamente com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até à morte e abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para se constituírem como igreja doméstica.
A Amoris Laetitia afirma que algumas formas de união contradizem radicalmente esse ideal; é preocupante que hoje muitos jovens não tenham confiança da grandeza e importância do matrimônio. Muitas vezes, a opção apenas pelo matrimônio civil ou a simples coabitação não é por preconceitos à união sacramental, mas por situações culturais vigentes.
A presença forte e atuante da pastoral familiar
Em todos esses casos especiais, que não estão de acordo com as normas de Cristo e da Igreja, o Papa recomenda que “temos de evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”.
Ele afirma que se “alguém ostenta um pecado objetivo como se fizesse parte do ideal cristão ou quer impor algo diferente do que a Igreja ensina, não pode pretender dar catequese ou pregar e, nesse sentido, há algo que o separa da comunidade” (cf. Mt 18, 17).
Vale lembrar da máxima de Santo Agostinho: “Não se imponha a verdade sem caridade, mas não se sacrifique a verdade em nome da caridade”. É preciso ajudar os casais que vivem uma situação irregular a alcançar a plenitude do desígnio que Deus tem para elas. O Papa diz que é fundamental “evitar o grave risco de mensagens equivocadas, como a ideia de que algum sacerdote pode conceder rapidamente “excepções”, e leve a pensar que a Igreja sustente uma moral dupla”.
O Pontífice afirma que “já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada «irregular» vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante”. Ele cita o Catecismo da Igreja Católica: “A imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais”.
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E cita São Tomás de Aquino, para aprender o discernimento pastoral: “Embora nos princípios gerais tenhamos o carácter necessário, todavia à medida que se abordam os casos particulares, aumenta a indeterminação (…). No âmbito da ação, a verdade ou a retidão prática não são iguais em todas as aplicações particulares, mas apenas nos princípios gerais; e, naqueles onde a retidão é idêntica nas próprias ações, esta não é igualmente conhecida por todos. (…) Quanto mais se desce ao particular, tanto mais aumenta a indeterminação”».
Mas, destaca o Documento, que “uma situação particular não pode ser elevado à categoria de norma. Isso não só geraria uma casuística insuportável, mas também colocaria em risco os valores que se devem preservar com particular cuidado”.
Assim, um pastor não pode sentir-se satisfeito apenas aplicando leis morais àqueles que vivem em situações “irregulares”.
Por causa dos condicionamentos ou dos fatores atenuantes, “é possível que uma pessoa, no meio duma situação objetiva de pecado – mas subjetivamente não seja culpável ou não o seja plenamente”.
O Papa destaca que qualquer forma de relativismo ou um excessivo respeito na hora de propor o sacramento “seriam uma falta de fidelidade ao Evangelho e também uma falta de amor da Igreja pelos próprios jovens. A compreensão pelas situações excepcionais não implica jamais esconder a luz do ideal mais pleno, nem propor menos de quanto Jesus oferece ao ser humano”.
Acima de tudo, hoje, mais importante do que uma pastoral dos casos irregulares, é o esforço pastoral para consolidar os matrimônios e, assim, evitar as rupturas.
Francisco lembra que “a misericórdia não exclui a justiça e a verdade, mas, antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus”.