Caro internauta, penso que estamos num momento propício para tratarmos de um tema muito popular, especialmente no Brasil: novela. A rigor, trata-se de um gênero literário cuja narrativa encontra-se num meio termo entre o conto e o romance, ou seja, é mais extenso que o conto e menor que o romance.
Registra a história que a primeira novela exibida na televisão brasileira foi em 1951, porém, antes disso, já existiam as radionovelas há algumas décadas. Estas, por sua vez, foram se popularizando à medida que também ia se popularizando a rádio e, posteriormente, a televisão. Diante desse cenário, é possível afirmar que todas as gerações que formam a nossa sociedade atual não conheceu um mundo sem novelas, seja pelo sinal televisivo ou pelas ondas radiofônicas.
Por ser muito popular, essa forma de entretenimento tinha tudo para contribuir com a nossa sociedade transmitindo valores éticos e morais, educando para a vivência da empatia e da solidariedade, sendo canal de esperança. Infelizmente, nada disso acontece e, se aconteceu um dia, ficou perdido na história. O entretenimento foi cooptado pela baixeza de espírito, que, aliás, pode ser constatada em cada capítulo das atrações.
Do ponto de vista espiritual religioso, pode-se dizer que é impossível, nos dias de hoje, assistir a alguma telenovela sem cometer pecado, sem se contaminar, sem comprometer a reta intenção e sem se desviar dos princípios cristãos. A propósito, quando algumas dessas tramas incorporam um personagem religioso, por exemplo um sacerdote ou um pastor protestante, retrata-o de modo extremamente pejorativo ou irreal. É sempre apresentado como abobalhado, corrupto, pedófilo, fraco nas convicções de fé ou incapaz de viver a castidade. Exemplos como este não faltam nas tramas televisivas.
Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com
Novela nunca mais!
As novelas, caro internauta, causam-nos muito mal e desvirtuam totalmente a nossa sociedade. Todos nós estamos sendo enganados e, por isso, deveríamos tomar uma irrevogável decisão: “novela nunca mais!”. Foram elas que fomentaram e popularizaram o desquite no nosso país, a sexualização em massa por meio da exibição do corpo, transformaram a figura da mulher em objeto de prazer e a do homem numa personificação da cafajestice ou da emasculação. Pare um instante, pense nas novelas que você assistiu e logo perceberá todo esse movimento ardiloso e obsceno acontecendo diante dos nossos olhos enfeitiçados, tão enfeitiçados que sequer nos damos conta.
Para não ficarmos apenas nos argumentos retóricos, quero lhe apresentar o descalabro transmitido nesta primeira semana de setembro. Convido você a prestar muita atenção. Ao acessar o portal da emissora de televisão que produz as novelas mais assistidas no nosso país, fiz uma breve leitura do resumo de cada capítulo na primeira semana do mês corrente. Li tanto os da novela das 21h quanto das 19h, e fiquei verdadeiramente estupefato.
Veja os assuntos tratados no enredo (alterei apenas os nomes):
Novela das 21h na segunda feira: “fulana questiona se beltrano seria capaz de matar por dinheiro”; “fulano recebe dinheiro de beltrana para fugir”; “cicrana diz a beltrano que o bebê que ela espera não é dele”. Nesse mesmo dia, a novela das 19h transmitirá o seguinte: “sonífero é colocado por fulana na comida da família”; “fulana fotografa o beijo de beltrano com cicrana”; “fulano termina seu relacionamento com beltrana”.
Acredite (!), essas informações estão disponíveis no site da própria emissora para todos lerem como se não fosse demérito para ela. Somente por essa prévia dos assuntos tratados na segunda-feira podemos constatar o quão desprezível e irrelevante são as nossas novelas. Não acrescentarão absolutamente nada em nossa vida, pelo contrário, só farão mal.
No restante da semana, perceba o que ainda será tratado na novela das 21h: “fulana conta para beltrana que cicrano está foragido”; “cicrana é suspeita de ser a assassina de beltrana”; “fulana chantageia cicrano para que ele tire a vida de beltrana”; “a mulher confessa que foi cicrano quem a mandou seduzir fulana”; “fulana ameaça matar beltrano se ele tirar seus filhos de sua casa”. É inacreditável o que está entrando nas nossas casas!
Veja, agora, o resumo dos temas da novela das 19h desta semana: “fulana incentiva beltrano a tirar fotos com cicrana, insinuando um clima amoroso entre os dois, para deixar fulano e cicrano com ciúmes”; “fulana aproveita o aniversário de casamento de beltrano e beltrana para colocar seu plano de roubo em ação”; “cicrana pede ao namorado que venda as joias roubadas do cofre e providencie seus passaportes falsos. Cicrana incentiva fulano a adulterar a bebida de beltrana”; “fulano agride beltrano”; “cicrana ofende fulano”.
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Novela e cristão: duas coisas incompatíveis
O resumo dá ópera só pode ser um: quem acompanhar essas duas novelas da primeira semana de setembro vai se emporcalhar com uma mistura de sedução, roubo, mentiras, insinuações, fuga, falsidade, ciúmes, relações doentias, fofocas, chantagem, maldades, ameaças, ofensas e adulterações. Diante de tudo, podemos constatar que novela não deveria fazer parte da vida de um cristão. São duas coisas totalmente incompatíveis.
Se a constituição do nosso país fosse levada a sério, perceberíamos que somente o exemplo – ou o contraexemplo – das duas novelas que citei acima estaria infringindo o quarto item do artigo 221 da Constituição Federal que exige que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atendam ao princípio do “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”. Está na lei! Somente as novelas já extrapolaram e muito o respeito aos valores que exigem a nossa Constituição. É uma grande vergonha, é indecoroso! Ver esse conteúdo sendo exibido no horário nobre é aviltante à nossa inteligência e ao bem da nossa sociedade.
Deveríamos, todos nós, fazer um exame de consciência e reconhecer a responsabilidade que temos diante desse fato. Os canais da televisão brasileira só estão assim porque damos audiência a sua programação. Somos nós que consumimos tais imundícies e, portanto, patrocinamos essas atrações. Logicamente, todo esse veneno vem muito bem disfarçado num lindo banquete. Ao comermos o banquete, contaminamos o nosso organismo.
Construindo uma nova cultura
Diante de tudo o que foi tratado até aqui, gostaria de propor a você algo muito sério: que tal abandonarmos de vez essa imundície? Se você já está habituado a acompanhar essas tramas, é muito normal que sinta falta no início, por isso, essa decisão precisa ser radical: “novela nunca mais!”. O segredo está em ocupar o tempo da novela com outra atividade mais salutar e mais digna. Você é quem vai escolher essa atividade que mais lhe agrada. É importante que ela exija uma continuidade, por exemplo, ler bons livros, estudar um idioma, quem sabe escrever um livro? Mesmo que você nunca venha a publicá-lo, faria muito bem a você tal atividade.
Você pode aprender a costurar, a pintar quadros, a estudar a história do Brasil, a história da Igreja, a ler os livros que narram a vida dos santos. Poderia dedicar o horário da novela para caminhar ao ar livre com alguém que você ama. Convide-a! Já pensou em testar novas receitas, aprender a fazer novos pratos? Escolha uma atividade da sua preferência, só não fique sem fazer nada, caso contrário, voltará para a velha rotina. Aprenda a encarnar o adágio “novela nunca mais!”.
Ninguém pode dar esse passo por você! Somente você pode dar, e tenho certeza que será capaz disso! Fazendo isso, você estará contribuindo para a construção de uma nova cultura e de uma nova sociedade. Seus filhos, netos e bisnetos serão gratos a você.
Deus abençoe você e até a próxima!
