As pessoas se encontram com Deus nas situações de sofrimento, seja porque morreu um ente querido, passou por uma crise familiar ou porque perdeu o emprego, essa é uma afirmação muito comum em nosso meio, pois sabemos que são inúmeras as situações que remetem à condição da fragilidade humana. Os céticos dirão que, por causa do desespero, pelo fato de a pessoa não ter mais para onde ir, então, recorrem a Deus. Erroneamente, não compreendem que Deus tem Seus desígnios para atrair o homem para Si.
Um jesuíta, James Martin, afirma que “Deus é capaz de nos alcançar quando estamos com a defesa baixa. As barreiras que levantamos para mantê-Lo à distância – seja pelo orgulho, pelo receio ou pela falta de interesse – são postas de lado intencionalmente ou não. Não nos tornamos menos racionais, mas ficamos mais receptivos”. De fato, quando estamos mais frágeis nos tornamos mais abertos à compreensão que Deus é nosso pai e está ao nosso lado para nos fortalecer. Não significa que Ele nos quer ver sofrendo, mas é no solo da vulnerabilidade que pode brotar a árvore forte da confiança e da entrega. Na Cruz, Jesus teve o coração transpassado e a Virgem Maria teve o coração ferido (Cf. Mt 19,25-30). Sem obstáculos e sem defesa, os seus corações se encontraram em perfeita sintonia de abandono, de amorosa oferta e confiança em Deus.
Deus não nos quer sofrendo, mas age em nós quando estamos mais vulneráveis para cumprir seus desígnios
Um episódio ilustrativo interessante é o da traição de Pedro. Suas lágrimas de pecador (por ter negado Jesus) o purificam e dá a esperança do perdão. Jacques Phillipe, membro da comunidade Beatitudes, diz que “ao acolher o olhar do Mestre, Pedro viveu uma efusão do Espírito Santo. Uma dessas efusões dolorosas, que empobrecem, que despojam radicalmente, mas que se revelam infinitamente benéficas, porque mostram ao homem sua impotência, sua miséria radical, seu nada absoluto e o obrigam a, partir daquele momento, não mais sobre suas próprias forças, em suas pretensas qualidades ou nas virtudes que acredita possuir, mas a contar exclusivamente com a misericórdia e fidelidade divinas, ingressando, assim, na verdadeira liberdade”.
Por meio desse momento vulnerável, Pedro percebeu que a sua vida devia depender de Deus, percebeu sua total confiança n’Ele. De modo contrário, podemos perceber, no relato do jovem rico (Cf. Mc 10, 17-22), que, apoiado na sua própria riqueza, perde a oportunidade de entregar-se a Jesus livremente, tem medo da pobreza que seria sua vulnerabilidade.
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A viúva de Naim (Lc 7, 11-17), o cego Bartimeu (Mc 10, 46-52), a hemorroíssa (Mt 9, 20-22), a mulher adúltera (Jo 8, 1-11), dentre outros, são exemplos de quem foi alcançado por Deus quando estavam vulneráveis. Experimentaram a misericórdia e a salvação de Jesus Cristo. Não se deixaram aprisionar no desespero como Judas, mas se entregaram numa profunda confiança no Senhor. As histórias dos santos também comprovam que, em meio à fragilidade, deve existir a fé. Santo Agostinho é inspirador ao afirmar: “Na minha dor mais profunda, eu vi Tua glória e isso me surpreendeu”.
Deus quer nos alcançar
A vulnerabilidade do homem nos propósitos de Deus não significa discutirmos se Ele quis o pecado original por onde ela entrou na vida humana, porém, Deus se utiliza dela para alcançar o homem. O homem faz o caminhar não mais com suas forças, mas apoiado na promessa de que não está sozinho. Aqui se faz a experiência do amor de Deus. Enfim, é na fraqueza que se manifesta e atua a força de Deus e, desse modo, acontece a obra de santificação, como diz o apóstolo Paulo: “Quando me sinto fraco, então, é que sou forte” (1 Cor 12,10).
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!