Conheça alguns traços da forte personalidade de São João Batista
“Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (Mt 11,11). Uma das figuras proeminentes no Novo Testamento é João Batista, pois nele todas as esperanças do povo antigo convergem e é em sua pessoa que se abre a apresentação daquele que é o Senhor e Salvador, Jesus Cristo, cujos caminhos foram por ele mesmo preparado. Assumiu como própria a palavra antiga, que propunha que os vales fossem preenchidos e as montanhas abaixadas, para que a estrada estivesse aberta para aquele do qual o próprio João não se sentia digno nem mesmo de desamarrar as sandálias.
Há traços físicos em nós recebidos em herança dos nossos pais. Também o temperamento é o que é. No entanto, o caráter e a formação da personalidade dependem das escolhas feitas ao longo de um processo, tantas vezes doloroso, mas importantíssimo, para que tenhamos a alegria de marcar com nosso selo pessoal nossa passagem por este mundo de Deus, antes de nos aproximarmos do Senhor e prestar contas de nossa administração da vida, o que não é de pouca importância, pelo fato de ser única e irrepetível esta mesma vida. Caráter é temperamento bem cuidado, controlado e equilibrado. Não é preciso lamentar as marcas em nós existentes, mas é nossa árdua e magnífica tarefa a formação da personalidade, para adquirir um caráter com a têmpera necessária aos embates da vida. O temperamento, para nós cristãos, há de ser controlado pela docilidade à ação do Espírito Santo.
O confronto com exemplos oferecidos pela vida e pela Escritura oferece a possibilidade de verificar o quanto podemos ajudar-nos mutuamente. Os bons exemplos, as palavras fortes e as situações experimentadas pelas pessoas servem de espelho para a nossa sempre incompleta formação humana e cristã. Aqui, todos somos alunos ou, mais ainda, discípulos que bebem na fonte de água pura os elementos essenciais para a formação da personalidade.
Não nos contentamos em comemorar os santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, cujos folguedos fazem parte de nossas tradições e são incorporados em nossa cultura, mas os consideramos referência para o crescimento humano e cristão. Desejamos, agora, recolher da experiência daquele que foi maior dentre os nascidos de mulher, no dizer de Jesus, alguns traços de sua forte personalidade e, quem sabe, tomar posse de alguns deles para nossa vida pessoal.
Traços da personalidade de São João Batista
João Batista veio de uma família, e nela foi formado e educado. Seus pais eram Zacarias, um sacerdote judeu, e Isabel. O fato de, nas montanhas de Judá, existirem construções de notável antiguidade a esta família referidas ajudam a entender que sua experiência humana fez história. Família é coisa séria, nome de família é para ser respeitado! Reconhecer a herança moral e espiritual recebida contribui positivamente para a constituição de nosso ser pessoal. Ninguém nasceu por acaso ou é apenas uma bolha que pode ser soprada e se desfazer. Somos devedores dos valores ou eventuais contra-valores de nossa raça e família. Ignorá-los ou desprezá-los desequilibra a vida, pois somos frutos de tudo o que recebemos.
De João Batista se sabe que escolheu um estilo de vida sóbrio e penitente, disposto a tudo após a descoberta de sua própria vocação e lugar no mundo. Ninguém recebe a vida pronta, de bandeja, mas todos somos chamados a edificá-la, prontos a enfrentar obstáculos, aceitar sacrifícios, estabelecer metas e buscar ideais.
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Dentre outras qualidades por João cultivadas vem à tona a paixão pela verdade e pela retidão, a honestidade de suas buscas, o enfrentamento de ideias e práticas corruptas, a coragem para abrir a boca na denúncia do mal, as propostas coerentes feitas a quem lhe perguntava por caminhos a percorrer: “As multidões lhe perguntavam: ‘Que devemos fazer?’ João respondia: ‘Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!’ Até alguns publicanos foram para o batismo e perguntaram: ‘Mestre, que devemos fazer?’ Ele respondeu: ‘Não cobreis nada mais do que foi estabelecido.’ Alguns soldados também lhe perguntaram: ‘E nós, que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não maltrateis a ninguém; não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo’” (Lc 3,10-14).
No máximo de sua realização pessoal, João cedeu lugar àquele que veio como Salvador. “Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu não sou o Cristo, mas fui enviado à sua frente’. Quem recebe a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria, quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela ficou completa. É necessário que ele cresça, e eu diminua’” (Jo 3,28-30). É maturidade e equilíbrio! Com ele aprendemos que vida doada é que é vida feliz. Cantamos, muitas vezes, que “quem vive para si empobrece o seu viver”. Cada um de nós há de encontrar a forma de servir e amar. Encontrar a pessoa a quem se doa a vida no matrimônio é caminho de felicidade, pois se casar não é adquirir uma propriedade, mas descobrir justamente por quem se entregar. Ser sacerdote, religioso, religiosa, missionário ou missionária é ato de entrega e liberdade para o crescimento do Reino de Deus. E a identificação radical com Jesus Cristo, no martírio, é a plenitude da realização humana, justamente ao “perder a vida” para dar a vida. Assim aconteceu com João Batista, cujas virtudes pessoais enriquecem o jardim da Igreja e suscitam os passos de realização plena propostos pelo próprio Senhor a todos os cristãos.