Dia Nacional dos Aposentados

Você pode aposentar-se do trabalho, mas não pode "aposentar" a vida

Viva bem a vida de aposentado e aproveite bem este novo tempo

Dia 24 de janeiro é o dia do aposentado, alguém que fez jus a uma aposentadoria, porque trabalhou muitos anos. Esse dia é uma oportunidade para meditar sobre esse estado de vida de muitas pessoas.

Na medida em que as nações estão com a população envelhecendo – porque cada vez mais nascem menos crianças – o número de aposentados cresce também. Portanto, é preciso que essas pessoas tenham uma vida de qualidade, e isso implica em manter um bom estado físico, racional e espiritual. Eles merecem respeito e atenção porque trabalharam muitos anos pela família e pela nação. Portanto, o valor monetário da aposentadoria deve ser adequado às suas mínimas necessidades vitais.

Você pode aposentar-se do trabalho, mas não pode aposentar a vida

Foto Ilustrativa: SeventyFourl / by Getty Images

Como viver os dias de aposentado?

Há de lembrar-se de que, nesta idade é que os problemas de saúde aumentam e, consequentemente, os gastos. Há aqueles que têm uma aposentadoria farta, mas não podemos nos esquecer de que, a grande maioria recebe um valor que nem sempre cobre suas despesas, e que são obrigados a continuar trabalhando para sobreviver, às vezes em situações difíceis. E muitos nem mesmo conseguem outro emprego.

Há pessoas que se aposentam cedo porque começaram a trabalhar desde jovens; muitos chegam à aposentadoria bem antes dos sessenta anos, considerada a idade em que se torna um idoso, e quando se tem direito às filas de prioridades. Para esses, há uma nova e longa vida ainda.

Para aqueles que não precisam trabalhar, há a necessidade de aproveitar bem o tempo livre, empregando-o numa outra atividade que seja útil para os outros, para a família e para Deus. Eu costumo dizer que, na Igreja, não existe aposentados e nem desempregados. Nela há sempre uma atividade que precisa de alguém, seja em nossas inúmeras pastorais (das catequeses, da saúde, dos cursos de batismo, crisma e casamento, etc.). O tempo é a grande graça que Deus nos dá, e que não pode ser desperdiçado em futilidades; Deus vai nos pedir contas do que fizemos com o tempo que Ele nos deu.

Muitos são os aposentados que têm uma boa formação intelectual e religiosa, e que podem e devem, dar a sua contribuição voluntária nas inúmeras atividades pastorais e beneficentes.

Não desperdice essa nova fase da vida

É nessa fase da vida que a pessoa acumulou uma vasta e preciosa experiência, e que pode dar muitos frutos em uma atividade. Vários Prêmios Nobel foram para cientistas com mais de setenta anos de idade. O que não podemos aceitar é passarmos o resto dos anos da vida sem fazer nada, jogando o tempo fora. O tempo é a nossa vida, e Deus o dá a nós, para sermos úteis aos outros, em qualquer idade. Dom Bosco dizia que “Deus nos colocou neste mundo para os outros”.

E é isso que nos dá a verdadeira felicidade. Podemos dizer que empregado ou aposentado, só o egoísta desperdiça a vida. O risco de uma vida sem trabalhar é cair numa depressão. Os seres humanos foram projetados por Deus para trabalhar, e a vida pode se desequilibrar quando ficamos no ócio, permitindo que a cabeça fique pensando em bobagens. Os santos dizem que “cabeça vazia é oficina do diabo”.

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Uma coisa que o aposentado precisa, também, aprender é lidar com a idade avançada. Os meios de comunicação têm sido responsáveis em glorificar a “juventude eterna”, que pouco ou nada tem a ver com a realidade: vivemos em uma cultura que não aceita envelhecer. O cristão sabe que esta vida é passageira, que estamos a caminho da eternidade. O céu não é na terra.

Como estamos vivendo mais do que nossos antepassados – graças aos avanços na medicina, entre outras coisas –, precisamos viver melhor. É verdade que à medida que envelhecemos nos deparamos com alguns obstáculos. Mas, se nós simplesmente colocarmos os chinelos e deitarmos em frente à TV, nossa vida se empobrecerá drasticamente.

Hoje, nas competições e academias de ginástica, encontramos idosos de 70 anos. A maioria dos candidatos presidenciais tem mais de 65 anos. O nosso Papa Francisco já está nos seus 80 anos e trabalha pesado. Os nossos bispos só deixam o exercício do episcopado depois de 75 anos, e mesmo assim, continuam trabalhando.

Não aposente-se da vida

Dizem que “a forma mais rápida de morrer é aposentar-se”. Você pode se aposentar do trabalho, mas não pode “aposentar a vida”. O que nos dá vida e saúde é termos um ideal, um propósito na vida, esse faz com que não paremos, e nos impulsiona a não nos “aposentar”, no sentido de parar com todas as atividades. Basta olhar, por exemplo, a idade de Bento XVI, que continua escrevendo e rezando muito, mesmo após os 90 anos! Todos nós precisamos de um “propósito”, algo que dê sentido a nossa vida.

Cora Coralina (1889-1985), a brilhante poetisa e contista da cidade de Goiás-GO, teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais) quando já tinha quase 76 anos de idade. Ela dizia: “Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”.

Vale recordar aqui o que São Paulo disse aos Colossenses:

“Tudo o que fizerdes, por palavras ou atos, fazei em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai” (Col 3,17). “Tudo o que fizerdes fazei de bom coração, não para os homens, mas para o Senhor, certos de que recebereis a recompensa das mãos do Senhor. Servi a Cristo Senhor” (v.23). Creio que, não há meio de viver melhor do que esse!


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino