A influência de São Jorge na cultura portuguesa acompanhou a fundação do Brasil
São Jorge é um santo muito popular no Brasil e no mundo todo, de modo especial no Oriente. É um dos santos mais venerados no catolicismo, na Igreja Ortodoxa, como também na Comunhão Anglicana.
Seu culto litúrgico espalhou-se por toda parte a partir da Igreja Oriental, tornando-se um dos santos mais populares na Idade Média. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 23 de abril como memória facultativa. Nesta data, comemora-se a reconstrução da igreja que lhe é dedicada, em Lida (Israel), construída pelo imperador romano Constantino, no século IV, na qual se encontram suas relíquias.
A influência de São Jorge na cultura portuguesa acompanhou a fundação do Brasil pelos portugueses. Esse santo é o padroeiro extraoficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião) e da cidade de São Jorge dos Ilhéus, além de ser padroeiro dos escoteiros, e da Cavalaria do Exército Brasileiro.
Sincretismo religioso
Infelizmente, no Brasil, seu culto sofreu um sincretismo religioso grande, tendo em vista sua inclusão nos cultos afro-brasileiros e de terreiros de Umbanda. A ligação de São Jorge com a Lua é algo brasileiro, com forte influência da cultura africana, e em nada relacionado com o santo europeu. A tradição diz que as manchas apresentadas pela Lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada, pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda.
São Jorge é um santo legítimo da Igreja. Ele morreu mártir na Palestina, onde era venerado já no século IV, tendo inclusive a dedicação de uma igreja, onde recebeu o honroso título de “Grande Mártir”. Seu culto era muito popular no Egito, que dedicou 40 igrejas e três mosteiros ao seu nome. Em Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente, era protetor do Exército Imperial. Seu culto passou para o Ocidente por volta do ano mil, quando sua vida foi floreada de lendas.
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A origem dos Cavaleiros de São Jorge
Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, quando comandou uma das Cruzadas para libertar a Terra Santa dos muçulmanos, constituiu São Jorge padroeiro das Cruzadas, considerando-o protótipo dos cavaleiros. No século XIII, a Inglaterra celebrava sua festa como dia santo de guarda e criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge.
Sobre São Jorge, possuímos os atos do martírio e sua Paixão, que foi considerada apócrifa pelo Decreto Gelasiano do século VI, mas confirmada pela tradição universal. A Igreja do Oriente o incluiu em todos os calendários cristãos dos seus santos. São Jorge deu nome a muitas cidades e povoados; foi proclamado padroeiro de Gênova, e de regiões inteiras espanholas, de Portugal (Orago menor), Sérvia, Montenegro, Etiópia, Londres, Barcelona, Ferrara, Friburgo, Moscou, Beirute, Lituânia e a Inglaterra, com a solene confirmação, para esta última, do Papa Bento XIV.
Esse culto extraordinário tem origens muito remotas, uma vez que seu sepulcro em Lida, na Palestina, onde o mártir foi decapitado no início do século IV, era alvo de peregrinações já na época das Cruzadas, quando o sultão Saladino destruiu a igreja construída em sua honra.
A lenda do dragão
Houve uma lenda segundo a qual um horrível dragão saía, de vez em quando, das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade, trazendo-lhe a morte. Para afastar esse perigo, as populações do lugar lhe ofereciam jovens vítimas, escolhidas por sorteio. Um dia, coube à filha do rei ser oferecida em comida ao monstro. O rei acompanhou-a com lágrimas até as margens do lago. Eis que apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge, que desembainhou a espada e, em pouco tempo, reduziu o terrível dragão num manso cordeirinho, que a jovem levou preso numa corrente, até dentro dos muros da cidade, entre a admiração de todos os habitantes que se fechavam em casa, cheios de pavor. O misterioso cavaleiro lhes assegurou, gritando-lhes que tinha vindo, em nome de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam converter-se e ser batizados.
Essa lenda fantasiosa, gerada na Idade Média, tem uma base na devoção a São Jorge, na defesa contra as ciladas do dragão vermelho, satanás. Por isso, ele é representado sobre um cavalo, dominando um dragão com sua espada. Faz-nos lembrar a palavra de São Pedro: “Vosso adversário, o demônio, anda a vosso redor como o leão que ruge buscando a quem devorar! Resisti-lhe forte na fé!” (1 Pe 5,8-9).
O que sabemos é que São Jorge foi militar sob o terrível imperador romano Diocleciano, por volta do ano 300, um dos piores perseguidores dos cristãos. Em 302, Diocleciano (influenciado por Galério) publicou um edito que mandava prender todo soldado romano cristão e que todos os outros deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Tendo-se convertido, São Jorge não se conformou com as iníquas estruturas do Império, afastou-se do exército romano e colocou-se em defesa da fé cristã, como aconteceu com outros militares.
São Pedro Damião (1072), doutor da Igreja, em uma de suas festas disse: “De uma milícia transportou-se totalmente para outra, porque do ofício de tribuno terreno que exercia passou para a profissão da milícia cristã; como verdadeiro soldado valente, distribuiu todos os seus bens aos pobres, lançou fora a carga das posses das terras e, assim livre e desembaraçado, cingiu-se com a couraça da fé, mergulhou o ardente guerreiro de Cristo no mais denso da luta”.
Não renegou a Cristo
São Jorge foi preso, porque fora denunciado como cristão. Recusando-se a renegar Cristo, foi jogado na prisão e depois enterrado até o pescoço em cal viva; por fim, decapitado no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia, na Ásia Menor. Seus restos mortais foram transportados para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá, ele foi sepultado e, mais tarde, o imperador cristão Constantino mandou erguer suntuosa igreja, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Durante a Primeira Guerra Mundial, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às irmãs de caridade, que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos de guerra. As artes divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris, no Museu do Louvre, há dois quadros famosos de Rafael intitulados São Jorge e o dragão. Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello. A mais conhecida imagem brasileira de São Jorge seria, possivelmente, de autoria de Martinelli.