É cada vez maior o número de pais que se queixam de que os filhos apresentam dificuldade em leitura e compreensão de textos e, mesmo após os dez anos de idade, ainda tropeçam em palavras. Não são nada incomuns casos de estudantes de Ensino Médio sem fluência em leitura e com vocabulário muito pobre. Consequentemente, tem crescido também o interesse dos pais em participar, de alguma forma, do processo de alfabetização das crianças e buscar corrigir suas deficiências em leitura e escrita.
O problema se deve, em grande parte, ao fato de que a maioria das escolas brasileiras adota métodos ineficazes de alfabetização, os quais não levam as crianças ao domínio do princípio alfabético e enfatizam a representação gráfica dos sons da fala em detrimento dos próprios sons. As crianças aprendem primeiro os nomes das letras, como reconhecê-las e traçá-las – o que é muito importante e, certamente, faz parte do processo –, mas é preciso ter em mente que há um momento mais adequado para treinar tais habilidades.
No processo de alfabetização, os pais podem ser grandes professores para seus filhos
Ao iniciar com atividades que valorizam a representação gráfica, inverte-se o processo natural, que deve partir do mais simples para o mais complexo, da experiência sonora, da escuta atenta e reflexiva dos sons verbais para, só então, chegar às letras.
Se você não deseja que seu filho se torne um analfabeto funcional, mas quer que tenha um alto desempenho em leitura e escrita, saiba que é possível fazer algo em sua casa para corrigir os erros dessa abordagem equivocada. Trata-se da simples prática de umas poucas atividades diárias, mesmo que você só disponha de alguns minutos por dia. O objetivo principal da maioria delas é levar as crianças a uma escuta atenta, ativa e reflexiva sobre os sons verbais, promovendo o desenvolvimento da consciência fonológica. Essas atividades que indicarei fazem parte das etapas que devem anteceder propriamente o ensino do princípio alfabético, ou seja, fazem parte de um processo de pré-alfabetização.
Leitura em voz alta
A primeira e essencial atividade é a prática diária da leitura em voz alta. Leia todos os dias para seus filhos. Leia poesias, narrativas, contos de fadas, parlendas… Se você dispõe de dez minutos, aproveite-os ao máximo. Mas não espere da criança uma atenção similar à de um adulto, sobretudo de crianças menores de 2 anos. Ainda que não pareçam prestar atenção, mas não desista, pois elas, certamente, estarão absorvendo vocabulário e estruturas sintáticas que o mero contato com a linguagem cotidiana não lhes permitiria aprender. Estudos recentes demonstraram que existe uma correlação entre o tempo de escuta de histórias e o posterior rendimento em compreensão de textos. Crianças que escutam mais histórias e por mais tempo têm um desempenho muito melhor no 4º ano do Ensino Fundamental, uma vez que compreendem textos com mais facilidade.
Com crianças maiores de 3 anos, já é possível trabalhar também a memorização e declamação de poesias. Nesse caso, sugiro a seleção de poesias adequadas à idade da criança, a qual deverá ser lida, todos os dias, do começo ao fim; na sequência, a criança pode ser convidada a completar lacunas da poesia à escolha de quem guia a atividade. Depois de se familiarizar com uma poesia, seu filho poderá declamá-la de cor.
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Memória auditiva de curto prazo
Além de praticar a leitura em voz alta, é preciso também treinar a memória auditiva de curto prazo, responsável por reter as informações auditivas que, posteriormente, levarão as crianças a certas conclusões. No processo de alfabetização, realizam-se as fusões fonêmica e silábica, e nessa hora a memória auditiva de curto prazo exerce um papel importantíssimo.
Um exercício básico é o da obediência a comandos, pois uma criança que não consegue reter na memória uma sequência de comandos, provavelmente não terá sucesso em leitura e compreensão de textos, os quais estão ligados à compreensão auditiva. Para treinar a memória auditiva, é importante que, todos os dias, você emita instruções com uma sequência de ações para seu filho fazer. Por exemplo: “Vá à cozinha, pegue uma colher e traga-a para mim”. Essa é uma sequência de três comandos, mas você pode tornar a atividade mais complexa de acordo com o desempenho da criança. Seu filho se sentirá cada vez mais desafiado à medida que o número de instruções for aumentando.
Para saber mais detalhes sobre como alfabetizar seus filhos em casa, não deixe de baixar gratuitamente o e-book “As 5 etapas para alfabetizar seus filhos em casa”, no blog ‘Como Educar seus Filhos’. Lá, apresento uma abordagem fônica como o mais eficaz método de alfabetização, assim como as etapas que você deverá percorrer para levar seus filhos ao domínio do princípio alfabético.
Carlos Nadalim
Graduado em Direito, pós-graduado em Filosofia Moderna e Contemporânea, em História da Arte Moderna e Contemporânea, e mestre em Educação, pela Universidade Estadual de Londrina (PR).