Tenho um grande encanto pelas palavras e expressões usadas em nossa Igreja Católica e como muitas vezes suponho mas não sei o seu significado exato procuro pesquisá-las de forma intensa e ampla e gostaria de partilhar um pouco com os irmãos. Ao mesmo tempo abro espaço para que corrijam ou melhorem esta pesquisa.
Começo com a palavra fanon, do latim fano, derivada de pannus, tecido de linho. Embora raramente a ouçamos ela é facilmente confundida com o termo latino fanum, templo, que deu origem à expressão fanatismo. Fanon é a capa usada sobre os ombros somente pelo Papa. Consiste de duas peças de seda branca, ornamentada com faixas de lã vermelha e dourada, com uma abertura para a cabeça, e na sua parte frontal expõe uma pequena cruz bordada em ouro. Semelhante ao amito, contudo ela é colocada sobre a alva. Seu uso provém do sécúlo oitavo, quando era designado anabolagium ou anagolagium em latim e depois orale; seu uso foi adotado por decisão do Papa Inocêncio III (1198-1216).
O Amito por sua vez o que será? Amito, da palavra latina, amictus, significa “pequena manta”. É um paramento sacerdotal de formato quadrado ou oblongo, de linho, que cobre os ombros do sacerdote e é usado sob a alva e a casula originalmente para protegê-los do contato com a pele e na atualidade para cobrir a gola da camisa comum, ou outra veste, usada pelo sacerdote; originalmente o amito cobria também a cabeça. Entre os paramentos (vestes sacrae) no Rito Latino encontram-se a alva, estola, túnica, amito, sobrepeliz, casula, planeta, pluvial, capa magna, luvas, manípulo, mantelete, roquete e dalmático e antigamente incluíam sandálias, botinas e meias. O Papa e os Bispos usam ainda mitra, pálio, solidéo, usam o anel, sobre o peito a cruz pastoral e carregam o Báculo e as cores de alguns destes paramentos seguem as cores litúrgicas do Tempo em que são usados.
O barrete, muito usado pelos padres caiu em desuso após o Concílio Vaticano II e era um modelo de chapéu, cobertura, eclesiástico, quadrangular, com três saliências (bicos) e uma borla (em latim burrula, “floco de lã”) central na sua parte superior, sendo preto para os padres e vermelho para os cardeais. Os fiéis mais antigos ainda se recordam dos seus párocos circulando pelas ruas ostentando um barrete. Algumas igrejas adotavam em sua arquitetura a abóboda no formato de barrete clerical.
Os paramentos litúrgicos simbolizavam o caráter oficial e as virtudes dos que os usavam, ou seja, o simbolismo moral. No simbolismo típico-dogmático do séc. XII, os paramentos expunham o clero como representantes de Cristo e logo passaram a indicar a sua Encarnação e suas duas naturezas; o simbolismo alegórico do sécúlo IX-X, mostra o sacerdote no altar como um guerreiro de Deus e aponta suas vestes como armas usadas na guerra espiritual contra o mal.
Na Idade Média adotou-se o simbolismo moral no uso dos paramentos e nas orações do rito de ordenação e no sécúlo XV, entre os liturgistas gregos, prevalecia o simbolismo típico-dogmático e mais tarde o moral com o costume das orações sobre as vestes litúrgicas. Muitos católicos desconhecem o porquê do báculo (cajado) do Bispo ter a forma curva e o do Papa ostentar um crucifixo. Querem saber? O báculo do bispo é curvo para indicar sua autoridade limitada a uma área territorial e o báculo do Papa ostenta um crucifixo que indica a sua autoridade sobre a Igreja universal. A partir da Idade Média o báculo significava a investidura temporal e o anel e cruz, a investidura espiritual.
Num Encontro de Formação perguntei aos participantes se o Papa era/é Bispo e muitos disseram que não e antes de sua eleição ele era Cardeal e não Bispo. Mas o Papa também é Bispo embora sendo Cardeal porque ele é o Bispo da Igreja de Roma. Elementar para os estudiosos mas muitas vezes nos confundimos mesmo. A palavra “ostiário”, por exemplo, dá a impressão que se relaciona à hóstia ou hóstias, mas na realidade, o termo latino ostium, porta, e se refere à antiga e primeira das ordens menores do clero e indicava os responsáveis por abrir e fechar as portas da igreja, cuidar e guardar as alfaias.
Alfaias (enfeite, adorno de tecido), é a raiz da palavra alfaiate, um profissional raramente encontrado em nossos dias e na Igreja compreende os paramentos sacerdotais e as toalhas utilizadas no altar, credência e ambão. Pala, pálio e palamismo são palavras muito parecidas mas inteiramente distintas. Esta última, menos conhecida a não ser entre os estudiosos da Teologia é o conjunto dos ensinamentos doutrinários-teológicos de São Gregório Palamas, porta-voz dos Sínodos de Constantinopla entre 1340 e 1360, canonizado em 1368.
São Palamas concluiu a elaboração da doutrina pneumatológica da Idade Média Bizantina; a Igreja do Oriente no segundo Domingo da grande Quaresma celebra a sua memória e sua doutrina. (pneumatológica é palavra que não se refere a alguma enfermidade ou especialidade da medicina ligada aos pulmões [pneumatologia], embora tenha o mesmo radical, mas trata-se do estudo sobre a Pessoa e a ação do Espírito Santo, 3ª Pessoa da Santíssima Trindade [do grego Pneuma, sopro, ar, espírito] ).
Pala é a peça quadrada, feita em duas partes de tecido de linho branco, que revestem uma peça de cartão ou outro material semi-rígido removível, de tamanho que possa cobrir e proteger o cálice com o Sangue de Cristo no Rito da Consagração na Santa Missa. Pálio (do latim pallium, capa, manto romano) por sua vez é um acessório paramental litúrgico, de forma circular, com 5 cm. de largura, dois pendentes sobre o peito e costas, com 20 cm. de comprimento, feito em lã de carneiro, consistente e branca, com as pontas pretas e seis cruzes pretas bordadas. Usada em torno do pescoço, sobre a casula, pelo Papa, cardeais e arcebispos nas celebrações solenes e significa a comunhão com a Santa Sé. O pálio recebe ainda um alfinete de ouro com uma pedra preciosa e seu uso pelo Papa simboliza a plenitude do ofício pontifical (plenitudo pontificalis offici) e usado pelos Bispos tipifica sua participação na força pastoral suprema do papa.
E se alguém chamar você de “anacoreta”. Você se sentiria ofendido por não saber o que significa a palavra? Mas não se ofenda, pois anacoreta (do grego anachorein, afastar-se) eram os religiosos, os monges que se afastavam para viver na solidão, isolados no deserto ou nas montanhas e proclamavam a prioridade da oração; o mesmo que eremita. São Jerônimo que traduziu a Bíblia para o latim, foi anacoreta em Cálcis, uma ilha do arquipélago grego nos anos 374-377.
Exotérico é um termo facilmente confundido com Esotérico. Na grafia não erre, pois exotérico significa “o que é claro, manifesto”, ensinamento que nas escolas da Antigüidade grega, era transmitido ao público sem restrição; esotérico, com “s”, é o seu antônimo (ensinamento ligado ao ocultismo, compreensível apenas por poucos; obscuro, hermético).
Não se escandalize se alguma vez ouvir na igreja a expressão “estercorário” e sentir que é algo relacionado com o repugnante “esterco”, pois é mesmo. Estercorário era a designação de um trono do Papa na antiga Basílica de Latrão, feito em mármore vermelho, que hoje se encontra no Museu Vaticano. Este esdrúxulo nome se deve à antífona cantada na cerimônia de entronização do Papa “De stercore erigeus pauperem”, O Senhor ergue o indigente do estêrco, palavras do Cântico de Ana em 1 Samuel 2,8.
Antífona é… bem, como sei somente parte do seu amplo significado prometo pesquisar e sobre ela volto a falar numa próxima ocasião. Agora me despeço pois devo recuperar alguns gonfalones. Gonfalones, semelhantes a sombrinhas coloridas, são antigos estandartes com fitas em sua ponta, antiga bandeira de guerra e do clero e também um dos símbolos da dignidade de algumas Basílicas.
Fiquem com Deus e até breve!