No Horizonte Vocacional

A família exerce um papel decisivo no desabrochar de todas as vocações e no seu desenvolvimento, como ensinou o Concílio Vaticano II: “Do matrimônio procede a família, onde nascem os novos cidadãos da sociedade humana, que pela graça do Espírito Santo se tornam filhos de Deus no batismo, para que o Povo de Deus se perpetue no decurso dos tempos. É necessário que nesta espécie de Igreja doméstica os pais sejam para os filhos pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada”. Antes, o sinal de uma pastoral familiar adequada é o próprio fato de florescerem as vocações: “Onde existe uma pastoral da família esclarecida e eficaz, como é natural que se acolha com alegria a vida, assim é mais fácil que ressoe nela a voz de Deus e essa voz seja mais generosamente escutada”.

Quer se trate de vocações ao matrimônio ou à virgindade e ao celibato, são sempre vocações à santidade. De fato, o documento do Concílio Vaticano II Lumen Gentium expõe o seu ensinamento acerca do apelo universal à santidade: “Munidos de tantos e tão salutares meios de salvação, todos os cristãos de qualquer condição ou estado são chamados pelo Senhor, cada um por seu caminho, à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai”.

A vocação ao matrimônio

A formação para o verdadeiro amor é a melhor preparação para a vocação ao matrimônio. Em família, as crianças e os jovens poderão aprender a viver a sexualidade humana com a densidade e no contexto de uma vida cristã. As crianças e os jovens podem descobrir gradualmente que um sólido matrimônio cristão não pode ser considerado o resultado de conveniências ou de mera atração sexual. Pelo fato de ser uma vocação, o matrimônio não pode deixar de envolver uma escolha bem meditada, um empenho mútuo diante de Deus, e a súplica constante da sua ajuda através da oração.

Chamados ao amor conjugal

Os pais cristãos, empenhados na tarefa de educar os filhos para o amor, podem fazer referência, antes de mais, à consciência que têm do seu amor conjugal. Como recorda a Encíclica Humanae Vitae, esse amor “exprime a sua verdadeira natureza e nobreza quando se considera na sua fonte suprema, Deus, que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8), ‘o Pai, do qual toda a paternidade no céu e na terra toma o nome’ (cf. Ef 3, 15). O matrimônio não é, portanto, fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente e providente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão das pessoas, em vista de um aperfeiçoamento mútuo, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas. Para os batizados, porém, o matrimônio reveste a dignidade de sinal sacramental da graça, enquanto representa a união de Cristo e da Igreja”.

A Carta às Famílias do Santo Padre lembra que “a família é… uma comunidade de pessoas, para quem o modo próprio de existirem e viverem juntas é a comunhão: communio personarum”; e, remetendo-se ao ensinamento do Concílio Vaticano II, o Santo Padre recorda que tal comunhão comporta “alguma semelhança entre a união das Pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade”. “Esta formulação, particularmente rica e sugestiva, confirma sobretudo o que decide a identidade íntima de cada homem e de cada mulher. Tal identidade consiste na capacidade de viver na verdade e no amor; melhor ainda, consiste na necessidade da verdade e do amor qual dimensão constitutiva da vida da pessoa. Essa necessidade de verdade e de amor abre o homem quer a Deus quer às criaturas: abre-o às outras pessoas, à vida ’em comunhão’, em particular, ao matrimônio e à família”.

O amor conjugal, segundo o que afirma a Encíclica Humanae Vitae, tem quatro características: é amor humano (sensível e espiritual), é amor total, fiel e fecundo.

Estas características fundamentam-se no fato de que “o homem e a mulher no matrimônio se unem entre si tão firmemente que se tornam — segundo as palavras do Livro do Gênesis — ‘uma só carne’ (Gen 2, 24). Homem e mulher por constituição física, os dois sujeitos humanos, apesar de somaticamente diferentes, participam de modo igual da capacidade de viver ‘na verdade e no amor’. Esta capacidade, característica do ser humano enquanto pessoa, tem uma dimensão conjuntamente espiritual e corpórea…

A família que daí deriva, obtém a sua solidez interior da aliança entre os cônjuges, que Cristo elevou a Sacramento. Ela recebe a própria índole comunitária, ou melhor, as suas características de ‘comunhão’, daquela comunhão fundamental dos cônjuges que se prolonga nos filhos. ‘Estais dispostos a receber amorosamente da mão de Deus os filhos e a educá-los…?’ — pergunta o celebrante durante o rito do matrimônio. A resposta dos noivos corresponde à mais íntima verdade do amor que os une”. E com a mesma fórmula da celebração do matrimônio os esposos se empenham e prometem “ser fiéis sempre” mesmo porque a fidelidade dos esposos deriva desta comunhão de pessoas que se firma no projeto do Criador, no Amor Trinitário e no Sacramento que exprime a união fiel de Cristo com a Igreja.

O matrimônio cristão é um sacramento pelo qual a sexualidade é integrada num caminho de santidade, com um vínculo reforçado na sua indissolúvel unidade: “O dom do sacramento é, ao mesmo tempo, vocação e dever dos esposos cristãos, para que permaneçam fiéis um ao outro para sempre, para além de todas as provas e dificuldades, em generosa obediência à santa vontade do Senhor: ‘O que Deus uniu, não o separe o homem’”.

Fonte: Vatican