Todos os cidadãos têm o direito e o dever de trabalhar e participar dos destinos da nação
A Igreja ensina que devemos ter amor a nossa Pátria, pois ela e como uma mãe que nos dá condições de viver, de trabalhar, de gerar nossos filhos. Napoleão Bonaparte dizia que “o amor pela pátria é a primeira virtude do homem civilizado”. John F. Kenedy, o mais novo presidente que os EUA teve, assassinado em 1963, disse aos americanos no seu discurso de posse: “Não pergunteis o que a vossa pátria pode fazer por vós, mas o que vós podeis fazer pela vossa pátria”.
Foto: Daniel Mafra
O patriotismo sadio
Um patriotismo sadio, sem nacionalismos exagerados e violentos, é saudável; é por isso que respeitamos a nossa bandeira, símbolo da Pátria amada, comemoramos o dia de nossa Independência e a Semana da Pátria. Temos um Hino que a homenageia: “Se a pátria querida for envolvida pelo perigo… verás que um filho teu não foge à luta”. Até mesmo a defesa armada da pátria é legítima defesa.
O nosso Catecismo ensina que: “É dever dos cidadãos colaborar com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade. O amor e o serviço à pátria derivam do dever de gratidão e da ordem de caridade. A submissão às autoridades legítimas e o serviço do bem comum exigem que os cidadãos cumpram seu papel na vida da comunidade política” (n.2239).
Neste sentido, a Igreja ensina que “a corresponsabilidade pelo bem comum exigem moralmente o pagamento de impostos, o exercício do direito de voto, a defesa do país” (n.2240).
Cidadãos têm o direito e o dever
Os Apóstolos já lembravam as comunidades cristãs do amor à pátria. “Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida” (Rm 13,7). O Apóstolo nos exorta a fazer orações e ações de graça pelos reis e por todos os que exercem autoridade, “a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1 Tm 2,2).
E a Igreja ensina que todos os cidadãos têm o direito e o dever de trabalhar e participar dos destinos da nação. Sobretudo os leigos são chamados a desempenhar esse papel social, especialmente na política. São os leigos que devem ser o “sal da terra” e a “luz do mundo”, para transformar a sociedade segundo o Evangelho.
A Igreja sempre deixou claro que não é papel do clero participar da vida política e partidária, mas dos leigos: “Cabe aos fiéis leigos animar as realidades temporais com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça”. (Cat. n. 2442)
Estamos vivendo nesta hora um momento muito difícil para o nosso país, como todos têm acompanhado; e é importante que cada brasileiro participe das dores da Pátria. Não podemos ser alheios, dar de ombros ao que está acontecendo. Não. A Igreja ensina que: “A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs. Esta iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja. Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: graças a eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana” (Cat. n. 899).
E o Catecismo dá orientações seguras de como os leigos devem participar e se comportar para buscar o bem comum, seguindo sempre as orientações da “Doutrina Social da Igreja”:
“O cidadão é obrigado em consciência a não seguir as prescrições das autoridades civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda-se na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política, “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5,29): “Se a autoridade pública, exorbitando de sua competência, oprimir os cidadãos, estes não recusem o que é objetivamente exigido pelo bem comum; contudo, é lícito defenderem os seus direitos e os de seus concidadãos contra os abusos do poder, guardados os limites traçados pela lei natural e pela lei evangélica” (n.2242).
Igreja e democracia
São João Paulo II, na encíclica “Centesimus Annum”, escreveu: “A Igreja encara com simpatia o sistema da democracia (…) ela não pode, entretanto, favorecer a formação de grupos restritos de dirigentes, que usurpam o poder do Estado a favor dos seus interesses particulares ou dos objetivos ideológicos”.
Sabemos que a política é repleta de ciladas e enganos. O Papa Beato Paulo VI advertia: “Há cristãos, hoje em dia, que se sentem atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas evoluções. Eles procuram descobrir aí certo número de aspirações, que acalentam em si mesmos, em nome da sua fé…, contudo, tal corrente foi e continua a ser, em muitos casos, inspirada por ideologias incompatíveis com a fé cristã… (Paulo VI, Octogesima Adveniens, 31).
Pio XI alertava que o “verdadeiro socialismo… não pode conciliar-se com a doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã” (Pio XI, Quadragesimo Anno, 116).
Os papas têm convocado os fiéis a terem uma participação ativa na vida pública do país. Vamos recordar algumas palavras deles. O Concilio Vaticano II disse:
“Lembrem-se, portanto, todos os cidadãos ao mesmo tempo do direito e do dever de usar livremente seu voto para promover o bem comum. A Igreja considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos homens e assumem os trabalhos deste cargo.” (Gaudium et Spe, 75)
São João Paulo II, na “Christifidelis laici”, escreveu: “Para animar cristãmente a ordem temporal, no sentido que se disse de servir a pessoa e a sociedade, os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na «política», ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum…. todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política” (n.42).
O Papa Bento XVI, nos 150 anos de unidade da Itália fez um apelo a que os bispos alentem os católicos a participar da vida pública: “A fé, de fato, não é alienação: são outras as experiências que contaminam a dignidade do homem e a qualidade da convivência social”. O Papa pediu aos bispos que estimulem os fiéis leigos a “vencer todo espírito de fechamento, distração e indiferença, e a participar em primeira pessoa na vida pública”, para construir uma sociedade que respeite plenamente a dignidade humana.” (ROMA, quinta-feira, 26 de maio de 2011 – ZENIT.org). Bento XVI ainda disse aos bispos: “Reitero a necessidade e urgência de formação evangélica e acompanhamento pastoral de uma nova geração de católicos envolvidos na política, que sejam coerentes com a fé professada, que tenham firmeza moral, capacidade de julgar, competência profissional e paixão pelo serviço ao bem comum.” ( Vaticano, 15 de novembro de 2008).
E o Papa Francisco, fala com mais clareza ainda sobre a necessidade dos cristãos participarem da vida pública.
Ele disse:
“Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos, não podemos. Temos de nos meter na política porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu pergunto: está suja por que? Por que os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É a pergunta que faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros… mas, e eu, o que faço? Isso é um dever. Trabalhar para o bem comum é dever do cristão”.
Na sua Exortação “Evangelii Gaudium”, o Papa disse:“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum… Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (n.205).
Todas essas palavras mostram a necessidade de cada cidadão, sobretudo os cristãos, serem responsáveis pelo destino da Pátria. Quem não participa, não tem o direito de reclamar.