É hora da nação brasileira exigir que os três poderes dialoguem
A gravíssima crise que a sociedade brasileira enfrenta, neste momento, gera perplexidades e suscita muitas interrogações. Em especial, sobre quem vai ajudar na saída desse complexo impasse. Obviamente, a razão está desafiada a encontrar o itinerário para deflagrar o processo inadiável e urgente de reconstrução. Essa urgência é evidente, sob pena de precipitar a nação num caos de grandes e incontroláveis proporções. Corre-se o risco de convulsões sociais, miséria, esgarçamento da cultura, com a configuração de desumanização em proporções irreversíveis, além de uma lista de consequências nefastas já experimentadas. Não se pode deixar que se chegue a patamares de inviabilização da economia, do emprego, da produção e dos investimentos, gerando grave desiquilíbrio social.
O cidadão, mesmo sem entender as complexidades da organização econômica e política, sabe e espera que os responsáveis maiores, particularmente do mundo da política e do corpo técnico das esferas governamentais, coloquem acima de seus interesses a centralidade dessa reconstrução. É hora de buscar entendimentos que viabilizem a sociedade brasileira para além do nó que ela está experimentando e que, consequentemente, produz mais descompassos. É o momento de se construir harmonia nova e contemporânea.
A busca de quem poderá ajudar a desenhar um horizonte altruísta e cidadão para o enfrentamento da crise, fazendo dela um passo novo na direção de conquistas significativas, não pode restringir-se a alguns nomes. Seria uma aposta equivocada. A crise é também humanística e revela, lamentavelmente, que não se tem líderes tão carismáticos e bem postados para uma tarefa desta envergadura.
Quando a tendência de escolha de um salvador da pátria entra em cena, o surgimento de nomes forjados por interesses políticos partidários revelam imediatamente fragilidades humanísticas, sinalizando que não são dignos de confiança. Mas passam a ocupar o imaginário popular e a deter um poder criado para atender interesses pequenos, sem a amplitude do que agora se faz necessário. Esse é o perfil da conhecida crise de lideranças gerada pelo vício cultural de deixar na mão de um parlamentar, um membro do judiciário ou do executivo a “varinha de condão” para operar o milagre esperado e que não vai chegar por esse caminho, como a história já nos demonstrou inúmeras vezes.
Do ponto de vista do cidadão, não há dúvidas de que o que inviabiliza a economia e cria o caos em tantos setores, é uma gravíssima crise política. Assim, a classe política está desafiada a entender a sua responsabilidade e a dar nova resposta, urgente, urgentíssima, sob pena de continuar se afundando no lamaçal da corrupção e alimentando-o: “Vivendo do fedor”- como disse, dias atrás, o Papa Francisco, ao tratar o assunto em visita pastoral em Nápoles, na Itália.
É hora da nação brasileira, por meio de todas as instituições, culturais, educacionais, empresariais e religiosas exigirem que os três poderes dialoguem. Mas precisa ser um diálogo filosoficamente entendido, não conchavo político partidário, a exemplo do que impõe o inchaço da máquina pública e administrativa, para satisfazer o desejo e o prazer do poder a partidos políticos e a grupos interesseiros. Um diálogo capaz de arejar as mentes e corações dos representantes do povo. É necessário um diálogo que sensibilize políticos e governos a se importarem com os verdadeiros interesses da nação e não com as vantagens acumuladas e com o poder que exercem.
O rigor conceitual do diálogo árduo e exigente, de disciplina, não de soluções medíocres para o momento critico vivido pela sociedade, precisa ter primazia nas esferas dos três poderes que estão na condução desse povo que merece agora, já, um caminho digno para a solução dos problemas.
É direito do povo brasileiro levantar a bandeira e exigir que os poderes dialoguem e se reestruturem internamente. Que ofereçam à nação uma resposta para que as consequências da crise política comecem a ser resolvidas a partir de quem a provocou e de quem tem a obrigação de superá-la, primeiro, pelo diálogo.